Comunidades iniciam construção de passagem molhada após anos de promessas políticas


A cena do corpo de uma idosa morta sendo puxado com uma rede para atravessar o riacho do Paulo ficou na história das comunidades ilhadas durante o inverno. o fato aconteceu no interior de Apuiarés, município  a 111 km de Fortaleza, e serviu para exemplificar a urgência de se unirem para a construção da passagem molhada do Caetano. Apesar das constantes promessas políticas de projetos, a obra nunca saiu do papel.

Há pelo menos meio século, a rotina dos moradores de Caetano, Vertentes, Assentamento e Boa Fortuna é dificultada de fevereiro a maio pela cheia do riacho do Paulo. Os transportes ficam impossibilitados de acessar os povoados, e estudantes, trabalhadores e doentes são forçados a atravessar as fortes correntezas do riacho com água até os joelhos ou levados nos braços pela população.

As comunidades de Caetano, Vertente, Boa Fortuna e Assentamento, além de Apuiarés, participaram das doações para construção da passagem molhada de Caetano. Circunvizinhas do riacho do Paulo, Vertente é a única registrada no mapa.

Cansados de esperar a concretização de promessas de vereadores e deputados em época de campanha eleitoral, as quase 500 famílias das localidades criaram comitivas em novembro de 2019 para construir a própria passagem molhada. A partir de doações em dinheiro, transporte, materiais e até comida para os trabalhadores, a passagem molhada de Caetano está prevista para ser concluída até fim de fevereiro de 2020.

A articuladora Lucilene Alves, 35, conta que, apenas no início da campanha, as comissões conseguiram R$ 5 mil em doações. A quantia foi arrecadada “porta a porta” nos comércios de Apuiarés e entre as comunidades unidas. Ao todo, 84 trabalhadores atuaram voluntariamente na construção, além das dez pessoas responsáveis pela alimentação deles.

Da mesma forma, o projeto da obra foi desenvolvido pelos pedreiros dos povoados, com revisões esporádicas de engenheiros civis. “No início, tivemos auxílio de um engenheiro, mas ele não ficou com a gente durante todo o trabalho. Ele queria que fosse sem manilha [de concreto] e, como [a correnteza do] riacho é muito forte a comunidade não aceitou”, explica Lucilene. 


(O Povo)

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