Em um gesto ao governo Jair Bolsonaro, os Estados Unidos vão formalizar
que consideram uma prioridade o ingresso do Brasil na OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Segundo disseram
interlocutores à reportagem, os americanos entregaram uma carta à
organização oficializando que querem que o Brasil seja o próximo país a
iniciar o processo de adesão à entidade.
Na prática, a ação americana significa que Washington defende que o
Brasil ocupe a vaga que era da Argentina na fila de postulantes a um
lugar no chamado clube dos países ricos. "Os EUA querem que o Brasil se
torne o próximo país a iniciar o processo de adesão à OCDE. O governo
brasileiro está trabalhando para alinhar as suas políticas econômicas
aos padrões da OCDE enquanto prioriza a adesão à organização para
reforçar as suas reformas políticas", disse a embaixada dos EUA em
Brasília.
Em outubro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, enviou um
documento ao secretário-geral da entidade, Angel Gurria, em que dizia
que Washington defendia as candidaturas imediatas apenas de Argentina e
Romênia.
A ausência do Brasil naquele documento gerou queixas de que o
alinhamento de Bolsonaro com o presidente Donald Trump não estaria
trazendo os resultados esperados. Embora a reação negativa no Brasil
tenha levado Pompeo a dizer que a carta não representava "com precisão" a
opinião americana, a falta de um endosso mais explícito acentuou as
críticas em Brasília contra o alinhamento com os EUA. Agora, a
formalização do apoio foi costurada em Washington justamente para
rebater os argumentos de que o Brasil não estaria recebendo nada em
troca das concessões feitas aos americanos.
Preocuparam os americanos, por exemplo, declarações do presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), contra a política de alinhamento
automático do Brasil com os EUA. "A nossa decisão de priorizar a
candidatura do Brasil como o próximo país a iniciar o processo é uma
evolução natural do compromisso reafirmado pelo secretário de Estado e
pelo presidente Trump em outubro de 2019", acrescentou a missão
diplomática. A candidatura do Brasil à OCDE vinha sendo trabalhada desde
o governo do ex-presidente Michel Temer e se tornou uma prioridade da
atual administração.
Na visita oficial de Bolsonaro a Washington, em março de 2019, Trump
afirmou apoiar as pretensões do Brasil. Mas desde então a falta de
compromissos mais claros dos americanos e a carta de Pompeo geraram
frustrações no governo brasileiro.
De acordo com pessoas que acompanham o tema, os EUA querem que o Brasil
"fure a fila" e ocupe o local que era da Argentina. Até o final do ano
passado a Argentina era governada pelo liberal Mauricio Macri, o que
fortalecia o pleito do país pelo ingresso na OCDE.
Com a vitória do peronista Alberto Fernández, os americanos passaram a
considerar que as novas autoridades em Buenos Aires deixaram de ver a
entrada na organização como uma prioridade. Isso permitiu que a operação
de troca fosse realizada.
Apesar do gesto de Trump representar um trunfo para Bolsonaro, o Brasil
só efetivamente iniciará o trâmite de adesão à OCDE após o aval dos
demais membros -atualmente são 36 países.
Embora a entrada do Brasil conte com amplo apoio, novos integrantes não
devem ser aceitos até que a OCDE conclua uma negociação sobre o seu
ritmo de expansão. Os europeus, por exemplo, querem que mais países
sejam aceitos, enquanto que os americanos advogam por uma ampliação mais
moderada.
Mesmo com a solução dessa disputa, o trâmite de entrada na OCDE é longo.
Interlocutores no governo disseram à reportagem que o processo
brasileiro, depois de iniciado, não deve se concluir em menos de três
anos.