Subiu para nove o número de cearenses infectados com o novo coronavírus,
ontem (16). É o triplo de casos do dia anterior, no domingo, quando a
Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) anunciou os primeiros diagnosticados
com o vírus pandêmico. Destes, oito são em Fortaleza e um em Aquiraz,
na Região Metropolitana.
Assim como aconteceu na China e na Itália, quando a quantidade de
pessoas atingidas cresceu a partir da confirmação dos primeiros casos, a
previsão é que no Brasil, e no Ceará, o número cresça e atinja o pico
entre abril e maio. Até ontem, eram 62 casos suspeitos e 99 descartados
aqui no Estado.
"O que o Estado está tentando fazer é reduzir o número de pessoas
afetadas e que esse pico seja menor para que comporte no sistema de
saúde", declarou o secretário de Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho, o doutor Cabeto.
A política de redução de danos parte do pressuposto de que os números de
casos confirmados devem aumentar nos próximos dias no Ceará, mas que as
medidas anunciadas e publicadas, através de um decreto no Diário
Oficial, possam proteger os mais vulneráveis (idosos e pessoas com
doenças crônicas) e dar prioridade no sistema público de saúde. A
orientação do Governo é que os idosos, principalmente os que têm acima
de 80 anos, que sentirem falta de ar, "devem ir imediatamente a essas
unidades de atendimento que o Estado dispõe". A Pasta deverá oferecer um
telefone, a exemplo do 190, para esse tipo de atendimento. A Secretaria
alertou a população para que não haja o sentimento de pânico, já que
não é todo mundo que será atingido pelo vírus e que enfrentará uma
situação grave.
"Nós sabemos que tem pessoas com doenças crônicas, imunodeficiências,
que estão sob tratamento de câncer, e que têm acima de 80 anos. Elas
estão em risco maior. São esses pacientes que devem ter uma atenção
especial. Dentro da metodologia que estamos usando, estamos rastreando a
população de maior vulnerabilidade e, através dos casos confirmados,
rastreando os contatos para que a gente reduza a disseminação para
outras famílias em contato pessoal", explicou Cabeto.
Dos três primeiros pacientes infectados, dois são idosos. Um tem 85 e o
outro 82 anos. São de duas famílias. Ambos seguem internados, mas com
expectativa de receber alta ainda hoje. O terceiro, de 57 anos, está em
isolamento domiciliar.
Mais leitos
De acordo com o secretário, estão sendo oferecidos, no Hospital Leonardo
da Vinci, 230 leitos exclusivamente para o atendimento de casos do novo
coronavírus. Desses, pelo menos 30 para Unidade de Terapia Intensiva. A
quantidade de leitos reservados para a UTI pode chegar a 70, segundo o
chefe da Secretaria da Saúde (Sesa). De acordo com o Governo, desde o
início da crise, a Secretaria pediu ao Ministério da Saúde autorização
para que o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen), que
tem condição técnica, segundo Cabeto, realize os exames dos casos
suspeitos de coronavírus. Anteriormente, os casos eram levados ao Pará -
o que acarreta em um atraso do diagnóstico que variava de 48 a 72
horas. A medida resultou em uma otimização do tempo da confirmação ou
descarte do caso para o próximo passo do tratamento do paciente.
Para chegar ao estágio do exame, o principal sintoma para procurar um
médico, de acordo com o Poder Público, é "a falta de ar", principalmente
quando envolve idosos e mais jovens com doenças crônicas ou em
recuperação de alguma enfermidade. Os pontos de atendimento citados por
Cabeto para o primeiro atendimento são as Upas do Vila Velha e do Edson
Queiroz, que são as unidades que estão dirigidas ao atendimento dos
pacientes suspeitos, assim como o Hospital São José, e os da rede
privada.
Nesse primeiro momento, o Estado está fazendo "um plano ativo" de
documentação dos casos para o estabelecimento de uma rota de
contaminação com objetivo de reduzir o número de contaminados, "que é
uma das estratégias mais eficientes no que se refere à redução de
contaminação comunitária", declarou o secretário da saúde.
Capital
O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, afirmou, após a coletiva de
ontem, que os postos de saúde da cidade irão receber 100 novos médicos.
"Todo plano de preparação de assistência está sendo feito em conjunto,
um exemplo disso, a gente está dando posse agora em projeto que é
parceria Prefeitura e Governo para 100 novos médicos só para postos de
saúde de Fortaleza. O IJF teria o quarto andar inaugurado para ser leito
de enfermaria agora em abril, vamos mudar o plano. Vamos nessa abertura
do quarto andar já abrir 44 leitos de UTI. E o quinto andar, que seria a
UTI já em maio, também, pelo menos nesse primeiro momento, funcionará
integralmente como UTI. Então, só aí, serão 74 leitos nessa integração
Prefeitura e Governo", disse Roberto Cláudio.
Medidas
Para a virologista e epidemiologista da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Caroline Florêncio, as medidas tomadas pelo Poder Público estão
de acordo com o que vem sendo implementado em outros países, como a
China, que conseguiu controlar a epidemia. "O isolamento, juntamente com
os hábitos de educação e higiene adotados, são as melhores armas contra
o avanço do número de casos", diz a pesquisadora.
Para Caroline, é preciso "sermos cuidadosos ao extremo neste momento em
que estamos sob controle do que esperar acontecer um número assustador
de casos (como na Itália)". A medida de isolamento pode ajudar a conter
os casos que chegam ao Ceará, segundo ela. "A exemplo da China, que
agora reporta casos importados apenas, o isolamento é de fato bastante
eficaz", diz Florêncio.
De acordo com a pesquisadora da UFC, o medo da população nesse primeiro
momento é natural, mas na "medida em que passamos a conhecer mais a
doença, o seu agente e sua epidemiologia, o medo dá lugar à razão".
"E assim como o H1N1 ficou comum, talvez a Covid-19 seja também mais um
vírus a ter circulação entre os humanos. Ter medo é natural diante uma
doença emergente", conta Caroline.
Assim como o secretário de saúde, a professora prevê que o pico
epidemiológico da doença no Estado do Ceará ocorra em torno do mês de
abril deste ano.
"Nós temos outros vírus endêmicos aqui em Fortaleza, como o vírus
sincicial respiratório e o influenza A, que tem o seu pico de atividade
no mês de abril (tem artigos que comprovam isso). Se a Covid-19 vai
seguir o mesmo comportamento, só o tempo dirá".
O POVO