Portadores do novo coronavírus que não foram diagnosticados são os maiores responsáveis pela disseminação rápida da doença, segundo um novo estudo publicado nesta segunda-feira, 16, na "Science". A descoberta indica o tamanho do desafio que as autoridades sanitárias mundiais têm pela frente para conter a pandemia.
Segundo cientistas da Escola de Saúde Pública da Universidade de
Columbia, nos Estados Unidos, que assinam o trabalho, mais de 80% dos
portadores do novo vírus são assintomáticos ou apresentam sintomas muito
brandos e, por isso, acabam não sendo diagnosticados.
Os casos mais brandos ou mesmo assintomáticos da covid-19 são até 50%
menos contagiosos do que os mais graves. No entanto, como são muito mais
numerosos, seriam os grandes responsáveis pela disseminação
descontrolada do vírus.
"A explosão do número de casos da covid-19 na China foi largamente
provocada por aqueles indivíduos que apresentavam sintomas muito brandos
ou nem apresentavam sintomas e acabaram não sendo diagnosticadas",
afirmou um dos autores do estudo, Jeffrey Shaman, professor da
Universidade de Columbia, em comunicado. "Dependendo de quão contagiosas
são essas pessoas e da quantidade delas, uma parcela muito grande da
população será exposta ao vírus."
Para Shaman, essas transmissões são, atualmente, o maior desafio para
conter a pandemia. Epidemiologistas e virologistas têm repetido que a
testagem maciça da população (e o posterior isolamento dos infectados e
seus contatos) é fundamental para conter a pandemia. No entanto, nem
todos os países dispõem de testes diagnóstico em tão grande quantidade e
há o temor de sobrecarga dos serviços de saúde.
Os pesquisadores da Columbia usaram um modelo matemático alimentado por
dados sobre a infecção e a disseminação da doença na China e também por
informações sobre as movimentações populacionais entre janeiro e
fevereiro.
O alerta mundial sobre a epidemia, as restrições de viagens e o aumento
das medidas de proteção ajudaram a reduzir a velocidade da disseminação
da infecção na China. Mas não está claro ainda se essa redução será
suficiente para deter completamente o vírus.
"Se o novo coronavírus seguir o padrão do H1N1 da pandemia de influenza
de 2009, ele vai se espalhar globalmente e se transformar no quinto
coronavírus endêmico entre a população humana."
Estadão Conteúdo