O chefe da facção Guardiões do Estado (GDE) Ednal Braz da Silva,
conhecido como 'Siciliano', a advogada Elisângela Maria Mororó e outros
21 acusados de cometer ações criminosas e planejar atentados contra o
Estado viraram réus em um processo que tramita na Vara de Delitos de
Organizações Criminosas, da Justiça Estadual do Ceará. O juiz aceitou a
denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) na íntegra, no último dia
14 de abril.
'Siciliano' é réu pelos crimes de organização criminosa, incêndio, dano e
tráfico de drogas. Enquanto Elisângela é ré por organização criminosa.
Além desses crimes, os outros réus respondem, conforme a participação
individual, por porte ilegal de arma de fogo. A defesa da advogada não
comentou a decisão da Justiça até o fechamento desta matéria. Os
advogados dos outros réus não foram localizados.
Conforme a acusação do MPCE, apresentada no dia 28 de fevereiro deste
ano, "'Siciliano' exerce elevado grau de ascendência na liderança da
GDE". As investigações apontam que ele teria ordenado a série de ataques
a bens públicos e privados no Ceará, ocorrida em setembro de 2019,
mesmo estando preso em Limoeiro, em Pernambuco. Foram cerca de 100 ações
criminosas cometidas pela facção e 150 suspeitos capturados pelas
Forças de Segurança.
A partir da apreensão de telefones celulares que 'Siciliano' mantinha
dentro do cárcere, na Operação Torre, deflagrada em 26 de setembro do
ano passado, e da consequente extração dos dados desses aparelhos
autorizada pela Justiça, a Polícia Federal (PF) e o Grupo Especial de
Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público,
chegaram à teia criminosa e a planos ousados.
Os criminosos planejavam, no aplicativo de mensagens WhatsApp, os
assassinatos dos secretários da Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS), André Costa, e da Administração Penitenciária (SAP), Mauro
Albuquerque, e de um diretor de um presídio.
Além disso, a facção tramava o resgate de presos do Centro de Detenção
Provisória (CDP), localizado em Itaitinga. "Vão tudo como (policial)
Federal e como agente (penitenciário) e com ofício de transferência...
Depois vou pegar a lista e lhe mando ok... Já compramos os carros e
mandamos envelopar (adesivar)", avisou 'Siciliano' a Francinélio
Oliveira e Silva, outro réu.
O plano ousado contava até com o apoio da facção rival Comando Vermelho
(CV). O contato de 'Siciliano' era feito com Cíntia Bastos de Sousa, a
'Ruiva'. "Você não vai querer os emblemas, que já está lá na mão do
pessoal é 500 reais lá, pra dá, é o I5, da frente e das costas, se você
for querer, você diz, porque se não vou passar pra outra pessoa, pros
meninos que vão... Também... Precisar...", questionou a mulher, em uma
conversa encontrada pelos investigadores.
Mensageira
A advogada Elisângela Mororó atuava como conselheira dos líderes da
facção Guardiões do Estado e uma espécie de "mensageira" do grupo
criminoso, trocando informações entre a rua e os presídios, segundo a
denúncia. Em uma das conversas interceptadas, ela afirma que outro plano
criminoso, de explodir a Arena Castelão durante um show de forró,
renderia grande repercussão, sendo digno de notícia internacional.
Elisângela foi presa em flagrante no dia 13 de novembro de 2019, no
Município de Catarina, na posse de drogas e uma arma de fogo. Mas no
último dia 26 de março, ela foi solta pelo Superior Tribunal de Justiça
(STJ), por ser "indispensável aos cuidados de sua mãe, portadora de
deficiência" e porque "goza de condições pessoais favoráveis, tais como
residência fixa, ocupação lícita e, ao que se tem, é (ré) primária".
O POVO