Ao chegarem ao cemitério Jardim Metropolitano, no fim da manhã de
domingo (19), familiares e amigos de Carlos Alberto Viana, 76,
acreditavam que poderiam se despedir do ente querido e prestarem suas
homenagens pela última vez, mesmo sem poder vê-lo através do caixão
lacrado como medida de segurança — ele morreu infectado pelo novo
coronavírus. Horas depois, foram informados de que ocorreu um erro no
hospital, e o corpo enterrado era de outra pessoa.
Um amigo próximo da família de Carlos Alberto relatou o processo
doloroso até que tivessem acesso ao idoso. Ele terá sua identidade
preservada. Segundo o homem, familiares receberam uma ligação da empresa
funerária por volta de 14h no mesmo dia, informando que um erro havia
ocorrido no Hospital Monte Klinikum, onde o parente esteve internado
desde o dia 30 de março, em Fortaleza.
Surpresos, os familiares entraram em contato com a unidade, e, por
telefone, ouviram que seria necessário ir até a unidade, uma vez que
informações desse tipo só poderiam ser repassadas pessoalmente. “Nesse
momento, tivemos esperança de que ele estivesse vivo. Criou uma
expectativa de que tivesse sido um engano”, conta o amigo. O sentimento
foi seguido de frustração.
Chegando ao local, encontraram parentes da pessoa que foi enterrada por
engano. O equívoco foi esclarecido quando esses familiares relataram as
horas passadas em um outro cemitério, à espera do corpo que nunca
chegou. Lá, tiveram que ouvir, novamente, a confirmação do óbito de
Carlos Alberto.
Em seguida, foi solicitado que fizessem o reconhecimento do corpo. “Em
nenhum momento os funcionários do hospital se explicaram, se
justificaram. Eles nem estavam esperando que parentes fossem reconhecer o
corpo. Era como se não soubessem”, relata. Conforme o depoimento, não
houve, por parte do hospital, nenhuma forma de retratação ou tentativa
de confortar a família.
O sepultamento de Carlos Alberto aconteceu, de fato, às 15h30 do mesmo
dia. Desta vez, nem todos os amigos e membros da família puderam
comparecer. “Não é a mesma coisa, você não consegue sentir a mesma
emoção duas vezes”, diz. A breve cerimônia foi atrasada, ainda, ao
perceberem que o corpo do idoso havia sido trazido no mesmo caixão
enterrado pela manhã. “Estava todo marcado, arranhado, danificado mesmo.
Foi horrível. Tiveram que pedir para colocarem em uma urna nova”,
lamenta.
“O Hospital Monte Klinikum lamenta o ocorrido e informa que prestou
assistência à família”, informou a unidade, por nota oficial.
Não há informações como a identidade e a causa da morte do outro corpo envolvido na troca.
Diário do Nordeste