O desespero de centenas de paraguaios para voltarem para seu País, cruzando como podem a fronteira com Brasil, ou Argentina, disparou o alerta no Paraguai, que registrou nas últimas semanas um aumento dos casos de Covid-19 importados de São Paulo, onde a maioria vive.
Na Ponte da Amizade, que une Ciudad del Este (Paraguai) a Foz do
Iguaçu (Brasil) através do rio Paraná, chegam diariamente várias pessoas
que buscam voltar ao território paraguaio.
Fogem da propagação do vírus no Brasil, que já deixou mais cerca de
14 mil mortos e 200 mil casos, a maioria em São Paulo, onde centenas de
paraguaios trabalham e residem. Já no Paraguai, até sexta-feira (15), a
pandemia havia deixado 11 mortos e 754 casos, um dos números mais baixos
da região.
O governo de Mario Abdo Benítez adotou medidas para conter a
propagação do coronavírus depois que foi detectado o primeiro caso
importado, em 7 de março.
Para o presidente, a fronteira com o Brasil, sexto país com mais casos no mundo, representa "uma ameaça" à saúde nacional no momento.
Há alguns dias, quatro pessoas morreram afogadas ao tentarem cruzar o
rio Paraná nadando, a única opção para entrar no Paraguai devido ao
bloqueio das fronteiras.
Paraguai e Brasil compartilham mais de 1.300
quilômetros de fronteiras, fechadas desde o início de março, o mesmo
valendo para o restante das passagens fronteiriças do país. É permitida
apenas a entrada de algumas mercadorias e de repatriados, que devem cumprir quarentena por 14 dias sob monitoramento da saúde.
Abrigos lotados e hostilidade
"O controle da fronteira com o Brasil é uma das prioridades, levando em conta a grande carga viral que os repatriados trazem", destacou o ministro do Interior, Euclides Acevedo.
O grande problema é que o governo não possui muitas opções para
hospedar as cerca de 25.000 pessoas na lista para retornar: o número de
pedidos excede em muito a capacidade de abrigo disponível para que
cumpram o isolamento.
O governo paraguaio recorreu a abrigos militares e também a hotéis,
mas, neste último, os repatriados devem pagar taxas estabelecidas pelos
estabelecimentos.
A repatriação não é afetada apenas pela lotação dos alojamentos, mas também pela hostilidade de seus vizinhos.
Em Pedro Juan Caballero, 50 quilômetros mais ao norte e adjacente à
brasileira Ponta Porã houve bloqueios no caminho de uma instituição
religiosa que deveria receber os repatriados.
"Não nos deixam chegar", afirmou o médico Nelson Collar, chefe local do Ministério da Saúde.
Diário do Nordeste



