O município de Pires Ferreira, com pouco mais de 10 mil
habitantes, é um dos poucos a não registrar caso de infecção do novo
coronavírus no Ceará. A cidade se mantém na contramão dos gráficos do
Estado, que já é o terceiro do País com maior número de casos
confirmados e óbitos.
Ao todo, no Ceará, são 11.470 casos de Covid-19 e 795 mortes até esta
terça-feira, 5. Desses, 8.509 casos confirmados e 608 mortes são em
Fortaleza, capital do Estado. Mas, então, em meio a toda essa realidade,
o que explicaria o caso de Pires Ferreira?
Segundo a Secretaria de Saúde do Município, as medidas de combate ao
vírus são aplicadas desde 17 de março, quando foram colocadas barreiras
sanitárias para monitorar a saída e principalmente a entrada de pessoas
na cidade. Elas funcionam 24 horas por dia, inclusive durante os finais
de semana.
Essas barreiras atuam como uma triagem para pessoas com aferição da
temperatura. Lá é feito uma entrevista para saber de onde elas vêm e
onde irão se hospedar. Além disso, é entregue um termo de
responsabilidade com orientações para que permaneçam em isolamento
social por 14 dias. Caso haja desobediência e a pessoa seja pegue
andando pela cidade, ela é enviada de volta para casa e há penalidade
com abertura de processo criminal.
De acordo com a prefeita Marfisa Aguiar (PDT), em uma dessas
entrevistas foi verificado que uma pessoa estava com síndrome gripal.
Logo a equipe da Vigilância Sanitária, foi acionada e a pessoa levada
para o isolamento, onde recebeu os cuidados necessários. Depois foi
constatado que o caso não era de coronavírus, o que não contraria a
efetividade das medidas de prevenção, já que no momento não havia como
ter essa certeza.
“Desde o início preparamos um plano de contingência assegurado por um
Plano de Trabalho, avaliado a cada três dias para que as estratégias
sejam sempre renovadas e aprimoradas. Sabemos que todos os esforços são
necessários para evitar que esse vírus chegue até Pires Ferreira. Nos
antecipamos e estamos colhendo os frutos dessa antecipação, rogando a
nossa população que continuem atendendo aos apelos das autoridades
municipais e permaneçam em casa, para que esse trabalho possa gerar os
melhores resultados”, afirma Marfisa Aguiar ao O POVO.
A prefeita atribui o sucesso das medidas aos cuidados da população,
que majoritariamente têm usado máscara e se preocupado com as medidas de
isolamento. “As ruas estão vazias. Quando há denúncia [de possível
aglomerado] a polícia vai ao local”, afirma.
Para driblar problemas causados na renda de famílias em
vulnerabilidade social, a Prefeitura realizou esta semana a entrega de
cestas básicas para pessoas que foram prejudicadas pelo isolamento
social. O número de alimentos é decidido de acordo com a quantidade de
pessoas na família. Cada cesta acompanha também um kit de higiene e
orientações sobre o isolamento. Além desse benefício, a Prefeitura tem
mantido em ação o programa estadual do PAA, com leite para crianças e
famílias também em vulnerabilidade social.
Valdirene Rodrigues, comerciante de 33 anos, é gestante há 26 semanas
e contou ao O POVO como está sendo o isolamento social. Assim como ela,
outros da família são do grupo de risco, e por isso a medida se torna
tão importante para eles. “A gente sai de casa só se for de extrema
necessidade. Estamos pedindo tudo por WhatsApp e fazendo pagamentos
pelos aplicativos”, contou.
Nas ruas, nas poucas vezes que se viu obrigada a sair, ela confirma
que as pessoas estão cumprindo o decreto estadual. Além disso, afirma
que a recomendação do uso das máscaras está sendo amplamente respeitado
no comércio. O sentimento é de gratidão aos profissionais da saúde e de
outras áreas que continuam atuando para os serviços essenciais. “Eu me
sinto segura, me sinto de alguma forma protegida, porque eu vejo os
esforços dos profissionais que estão lutando à frente da pandemia”,
pontua.
Apesar da gratidão, o sentimento de medo é bastante comum e muitas
vezes a invade. “Tem momentos que a gente fica com muito medo, com muita
ansiedade, até porque somos seres humanos e o estresse também bate, mas
eu percebo que ao estar em casa estou segura e resguardada desse vírus”
Grávida de gêmeos, ela espera que o mundo seja um lugar melhor para
se viver quando os filhos nascerem, e pede que as pessoas fiquem em
casa. “Fique em casa. Fique pelos meus dois filhos que ainda não
nasceram, que não sabem o que tá acontecendo no mundo. Fique em casa
pelos idosos, que muitas vezes nem estão saindo e acabam sendo
infectados pelas pessoas que em outras cidades estão saindo e trazendo o
vírus para casa”, finaliza.
O POVO