José
Fernandes Souza, 32 anos, tinha o sonho de ser padre. Quem conhecia
ele, sabia disso. Fernandes chegou perto de realizar sua vontade.
Concluiu filosofia e teologia na Universidade Católica de Pernambuco
(Unicap), mas precisou suspender a formação no seminário para cuidar de
um avô doente. Não conseguiu autorização para voltar. Fernandes seguiu
exercendo o que acreditava ser sua vocação. Nos últimos dias, morava na
Paróquia Rainha da Paz, em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho. Lá,
auxiliava o padre nas tarefas da igreja. Era muito conhecido pelos
abraços e escuta atenta. Para muitos, era como um padre.
No
último dia 11 de março, ele escreveu no perfil do Facebook: “Não demore
muito para perceber que é preciso pouco para ser feliz.” Talvez
Fernandes tenha experimentado essa tal felicidade. Ou ainda estava em
sua busca. Não se sabe. O ex-seminarista morreu na quarta-feira (13),
vítima da Covid-19. Os amigos próximos não falam em doenças
pré-existentes.
O padre Ivanilson Silva,
companheiro de seminário por cinco anos, conta a última conversa com
Fernandes. Aconteceu pelo WhatsApp, na última segunda-feira, um dia
antes dele ser internado. “Ele me pedia para rezar por ele porque estava
indo ao hospital e não conseguia respirar. Falei para ele que ia rezar e
que sairia dessa. Na terça, já soube que estava entubado. Uma vez por
dia a gente recebia o boletim. Ontem, tivemos a triste notícia”,
comentou o padre, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário Novo, em Jaboatão
dos Guararapes.
O corpo de Fernandes foi
sepultado no Cemitério de Lagoa do Carro, onde tinha família. “Fernandes
era muito ligado à vida pastoral, muito preparado para a formação do
povo. Ele fazia com maestria. Tinha um jeito de abraçar e escutar as
pessoas que cativava de imediato”, conta o padre Ivanilson. O
ex-seminarista tentou concluir a formação para padre em outra diocese,
mas não teria se adaptado.
“A vida é cheia de
mistérios. Um dia desses, estávamos conversando sobre alguns deles,
primo, lembras? Infelizmente, hoje, conheceste um deles e deixaste
outro: por que a vida quisera que fosses tão cedo? Ainda estou sem
acreditar no dia de hoje como tenho desacreditado em muitas coisas na
vida. A única certeza é que tua ida deixará um vazio imensurável. Vá na
paz, amigo! Como diz o artista: ‘um dia a gente volta a se encontrar’”,
postou o professor Rafael Bezerra na página do Facebook de Fernandes.
Outro
amigo, Diogo Lins, postou no perfil de Fernandes sobre o sonho dele de
ser padre. “Meu amigo, eu não consigo acreditar!!! Não faz nenhum
sentido. Você viveu por um sonho, sonho seu que muita gente acompanhava e
torcia por você. Sua vocação era latente, ajudava a todos sem medir
esforços. O luto nesse momento é tão difícil que nem podemos encontrar
quem amamos para dar um abraço, esse é o pior sintoma dessa doença! Não
sou forte como muitos amigos, que estão se apegando na fé, mas eu apenas
fico repetindo suas palavras quando a caminhada tá difícil: ‘Mira na
Cruz!’ Tô mirando. Amigo, intercede junto a nosso Senhor por nós, que
sua passagem na terra jamais será esquecida. A saudade maior vai ser
lembrar dos nossos encontros que começavam com o meu "bença, padim" e
você vinha com a saudosa resposta: "fala, alma!" Por último, para todos
escrevo aqui, fiquem em casa! E cuidem dos seus.”
Agora,
o espaço na rede social é dedicado à memória do ex-seminarista que
sonhava ser padre. “Esperamos que as pessoas que amam Fernandes
encontrem alento ao visitar seu perfil, para lembrar e celebrar sua
vida”, anotou alguém próximo.
Diário de Pernambuco