O diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, disse que como o tabagismo é fator de risco para infecções respiratórias, doenças vasculares, cardiovasculares e pulmonares, e o novo coronavírus tem aí sua principal porta de entrada, a "combinação é catastrófica".
Análise publicada na China, dos primeiros casos de covid-19, comparando
grupos de fumantes e não fumantes, mostrou que a doença teve evolução
mais grave e maior índice de letalidade no grupo de fumantes. “Alguns
artigos mostraram 1,5 vez mais, outros 2,4 vezes mais. Ou seja, você
mais do que duplica a chance de a doença se agravar e duplica os óbitos
em relação ao grupo que não fuma”.
Disseminação
Maltoni chamou a atenção para o fato de o vírus se disseminar com
facilidade, principalmente por contaminação pelo perdigoto (gotículas
contaminadas de saliva). Outro agravante em relação ao tabagismo é o uso
de narguilé (espécie de cachimbo de água de origem oriental, utilizado
para fumar tabaco aromatizado e, ocasionalmente, maconha ou ópio) no
mundo.
“É um mecanismo de disseminação do vírus muito alto, a ponto de países
como o Irã proibirem seu uso em bares e ruas pela possibilidade de
propagação, porque passa de boca em boca. Também é uma associação muito
perigosa”. Segundo Maltoni, há uma relação muito forte do tabagismo com o
agravamento das condições dos pacientes que se infectam pelo novo
coronavírus, com aumento maior da letalidade.
O mesmo ocorre em relação aos cigarros eletrônicos (também chamados de
vape, são dispositivos eletrônicos para fumar alimentados por bateria de
lítio). “São outra forma de você dispersar nicotina e outros produtos
para o organismo humano”.
Embora a indústria do tabaco defenda que é instrumento para a pessoa
parar de fumar, o diretor executivo da Fundação do Câncer afirmou que
esse tipo de cigarro tem em sua constituição substâncias tóxicas,
incluindo a nicotina que é oferecida no formato líquido e forma um
aerossol.
“Essa inalação do volume de nicotina atinge a corrente sanguínea até
mais rápido do que o cigarro convencional". Maltoni destacou que a
nicotina é o principal causador da dependência, com todos os efeitos de
agressão ao organismo, como a alteração da imunidade celular em nível
pulmonar, alteração do DNA da célula pulmonar, predispondo à
transformação das células em câncer, em tumores. Isso também está
presente no cigarro eletrônico.
Alerta da OMS
No último dia 11, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez uma
declaração pública alertando que o tabaco mata mais de 8 milhões de
pessoas em todo o mundo, a cada ano. Mais de 7 milhões dessas mortes são
decorrentes do uso direto do tabaco e cerca de 1,2 milhão se deve ao
fato de os não fumantes serem expostos ao fumo passivo.
Um grupo de especialistas em saúde pública, convidados pela OMS,
analisou estudos já publicados em relação à covid-19 e sua relação com o
tabagismo. Constatou que os fumantes tinham maior probabilidade de
desenvolver as doenças graves e as complicações da infecção de maneira
mais grave em comparação com os não fumantes, “inclusive em proporção
maior de óbitos do que o grupo de não fumantes”, observou Maltoni.
UOL