Ideia do Planalto é de tentar
manter uma agenda positiva, mas aliados admitem que a pressão da oposição vai
aumentar após a prisão do ex-assessor e da ''fuga'' do ministro da Educação.
Wassef deixa defesa de Flávio Bolsonaro
A carteirada do ex-ministro da
Educação Abraham Weintraub para entrar nos Estados Unidos e a prisão de
Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-SP),
prometem esquentar a temperatura política em Brasília na semana que se inicia.
A ideia do Palácio do Planalto é tentar manter uma agenda positiva, mas
parlamentares admitem, em conversas reservadas, que legendas do Centrão devem
aproveitar para cobrar uma presença maior em cargos na Esplanada, em troca de
uma blindagem no Congresso para apagar qualquer incêndio que possa surgir
contra o governo.
Os desdobramentos da investigação
que levou à prisão de Queiroz preocupam o Planalto em vários níveis. Não só
pelas evidências de que o filho mais velho seria o líder de uma organização
criminosa, mas pela teia que liga a família a Queiroz — que, pelo que o
Ministério Público do Rio de Janeiro tem apurado, vai além da rachadinha dos
salários de servidores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Próximo de Queiroz há pelo menos
30 anos, o presidente Jair Bolsonaro não sabe que tipo de informação pode sair
de uma eventual delação premiada do ex-assessor. O medo evidente é que as falas
dele prejudiquem o filho, mas a relação de décadas pode levar a outros
assuntos, como o envolvimento com grupos milicianos. Queiroz poderia explicar,
por exemplo, o porquê de Flávio ter empregado no gabinete o miliciano Adriano
da Nóbrega, morto em fevereiro deste ano, que era acusado de chefiar um grupo
criminoso suspeito de participar do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Desde que entrou na mira do
Ministério Público, o ex-assessor já deixava claro que o ponto fraco seria a
família. “Podem me prender, mas não podem prender minha mulher nem minha
filha”, dizia. As investigações, no entanto, chegaram à esposa, Márcia Aguiar.
Com prisão decretada, ela, hoje, é considerada foragida e pode ser detida a
qualquer momento. A possível prisão aumenta o grau de preocupação de Bolsonaro
com a reação do ex-assessor.
Mesmo que tente, agora, se
descolar da imagem de Queiroz, Bolsonaro fez questão de mantê-lo por perto nos
últimos 30 anos. Como amigo, assessor, motorista ou, mais recentemente, hóspede
do sítio do advogado da família, Frederick Wassef, em Atibaia, onde foi
encontrado na semana passada. Sem ter como fugir das ligações, o Planalto fica
atento, na espera dos próximos passos da Justiça, e ainda mais apreensivo em um
cenário de brigas constantes com o Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, em
mais um desdobramento da crise, Flávio Bolsonaro anunciou, no Twitter, que
Wassef deixou de defendê-lo no processo “por decisão dele e contra a minha
vontade (…), mesmo ciente de que não fez nada errado”.
De todo modo, parlamentares
pró-governo tentam passar a impressão de que o presidente não será o maior
impactado nessa história. De acordo com a base do governo no Congresso, a
agenda de Bolsonaro tende a seguir o ritmo normal, a despeito de o caso Queiroz
envolver o núcleo familiar dele. “O essencial é que o presidente está
articulado com a base do governo. O Centrão, que deu governabilidade a todos os
presidentes anteriores, está comprometido em dar ao Brasil condições de
retomada do crescimento. É isso que nós vamos assistir daqui para a frente. Eu
não acredito que nenhum desses fatos, que já estavam precificados, vai mudar
isso. Se tivermos fatos novos, então vamos avaliar. Mas, por enquanto, tudo o
que aconteceu já era previsto”, analisa o vice-líder do governo no Congresso, deputado
Ricardo Barros (PP-PR).
Saída turbulenta
Nem mesmo a turbulenta saída de
Abraham Weintraub do Ministério da Educação e a “fuga” dele para os Estados
Unidos, ainda sob o cargo na pasta, podem atrapalhar o desempenho do presidente,
dizem os bolsonaristas. Pelo contrário. Para os congressistas, com o
ex-ministro fora do governo, Bolsonaro tende a ter um pouco mais de paz.
“Com o Weintraub, nós da base do
governo já vínhamos discordando das posições dele, que são páginas passadas e
nem deveriam mais alimentar discussão. Ao mudar de ministro, acredito que
Bolsonaro vai escolher alguém com outro estilo. Vai optar por uma pessoa que,
realmente, possa ajudar o governo. Certamente, o novo ministro deve adotar um
discurso mais ameno.”, diz o vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues
(DEM-RR).
O senador reconhece que tanto a
demissão de Weintraub quanto a prisão de Queiroz são “fatos desagradáveis” para
o governo. No entanto, ele diz que ambos
acontecimentos servirão mais para a oposição reforçar os ataques a
Bolsonaro do que para prejudicar o presidente, de fato.
A deputada Alê Silva (PSL-MG)
reforça que “as críticas sempre existiram e sempre vão existir” e que “cabe a
cada um analisar se elas têm fundamento ou não”. De todo modo, ela frisa que a
discussão criada em torno das recentes polêmicas não vão interferir. “A
oposição propriamente dita no Congresso é muito pequena, não temos uma oposição
ferrenha.”
Capitais registram protestos
» Diferentes capitais do país
registraram manifestações favoráveis e contrárias ao governo do presidente Jair
Bolsonaro pelo terceiro fim de semana consecutivo. Bolsonaro não participou. A
única aparição pública foi no velório do soldado do Exército Pedro Lucas
Ferreira Chaves, de 19 anos, que morreu no sábado em um treinamento no Campo
dos Afonsos, no Rio de Janeiro, após seu paraquedas não abrir
corretamente. “A nossa missão, a missão
das Forças Armadas, é defender a pátria, é defender a democracia E como dizia
(aquele) que se tornou um grande amigo, o ex-ministro Leônidas Pires Gonçalves
(ministro do Exército durante o governo de José Sarney e que morreu em 2015),
nós estamos a serviço da vontade da população brasileira”, disse o presidente no funeral.
Correio Braziliense