O governo brasileiro fará quatro
grandes privatizações em até 90 dias, afirmou o ministro da Economia, Paulo
Guedes, em entrevista neste domingo à CNN. "Vocês vão saber já, já.
Estamos há um ano mapeando isso", disse. Ele reconheceu que as privatizações,
até agora, não caminharam no ritmo desejado. "A prioridade no início era
Previdência, mudança de mix entre regime fiscal e monetário, e mudar trajetória
dos salários do funcionalismo, que cresciam muito acima da inflação",
disse o ministro.
Guedes não quis detalhar quais
serão as companhias privatizadas nesse curto prazo. Ao ser perguntado se os
Correios estavam incluídos, ele respondeu: "Seguramente, não vou falar
quando (será a privatização), mas seguramente".
Na entrevista, Guedes também detalhou
projetos para a indústria brasileira. Ele afirmou que as indústrias terão menos
encargos e menos subsídios. O setor automotivo, por exemplo, terá crédito de
curto prazo daqui até o final do ano com garantia matriz. Segundo o ministro, o
governo atual mudará o que era feito em governos anteriores. "Guerra
fiscal é suicida", disse. "Estados se matam perdendo receita,
indústria se perde correndo atrás de subsídio, e resultado é um desastre. Então
não contem conosco para continuar no mesmo jogo equivocado que vocês (indústria
automotiva) têm feito. Agora vai ser diferente."
Guedes acredita que o novo
cenário econômico é positivo para a indústria. "Vamos para impostos mais
baixos, temos juros baixos e câmbio acima de R$ 5, isso empurra Brasil em
direção a vantagem comparativa", afirmou. "Se conseguirmos exportar
mais para a Ásia - não só a China -, o Brasil terá boom de crescimento
extraordinário nos próximos anos. E nossa indústria vai resistir melhor do que
hoje, porque hoje tem impostos excessivos e o clima de negócios não é
próprio".
5G
Guedes ressaltou o cenário
geopolítico atual ao ser perguntado sobre a possibilidade de empresas chinesas
servirem o Brasil na implantação das redes 5G. "Essa suspeição dos Estados
Unidos e de parte do Ocidente em relação ao regime chinês (por causa, entre
outros fatores, da covid-19) vem em momento ruim, justamente quando precisamos
dar um salto na tecnologia", disse ele. Por causa dessa suspeição, disse
ele, os países ocidentais estão refletindo sobre os riscos de usar companhias
chinesas.
Marcos regulatórios
O ministro da Economia afirmou,
ainda, que projetos que tramitam no Congresso podem deslanchar investimentos
para a retomada econômica do País após a covid-19. "Como destravar
investimentos? O exemplo foi o Congresso, que aprovou o projeto do
saneamento", disse na entrevista à CNN Brasil. "Agora vem a
cabotagem, depois vem o setor elétrico, depois vem as concessões e
privatizações. Todas essas são novas fronteiras de investimento. Tem também a
fronteira de gás natural", completou
Ele acredita que, de 60 a90 dias,
o País vai "surpreender o mundo" ao destravar investimentos, como
surpreendeu ao aprovar a Reforma da Previdência.
Outra mudança necessária, de
acordo com Guedes, é no setor de petróleo. "Se nenhuma das principais
petroleiras do mundo compareceu ao leilão de concessão onerosa, tem alguma
coisa errada", afirmou. "Vamos ter de mudar o sistema de partilha,
pois não funciona como deveria", completou. Ele elogiou um projeto do
senador José Serra (PSDB-SP), que permite a escolha entre partilha ou
concessão.
Essas mudanças seriam
fundamentais, diz Guedes, porque, apesar de ter preservado os "sinais
vitais" econômicos, o governo teria quebrado em nível federal, e segue
rumo aos 100% da relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB).