Quatro dos cinco municípios cearenses que atualmente estão sob
isolamento social mais restritivo continuam com curva crescente nos
casos do novo coronavírus. Sobral, que estava em 'lockdown' até a última
semana e, agora, em transição, apresentou achamento da curva, tanto dos
casos, como de óbitos, durante o período de isolamento rígido. Juazeiro
do Norte é o que tem pior cenário. Em lockdown desde o último dia 22,
os registros na cidade crescem em assustadora velocidade.
Na semana anterior ao isolamento rígido, o crescimento do número de
casos em Juazeiro foi de 606 (58%) e de mortes, 26. Nas semanas
seguintes, os números continuaram progredindo, tendo a última semana,
entre 5 e 12 de julho o recorde em óbitos e pessoas infectadas: 2.123 e
49, respectivamente. O número de juazeirenses que testou positivo chegou
a 303 por dia, em média. Hoje a cidade tem 6.310 infectados e 160 vidas
perdidas por decorrência da Covid-19, conforme boletim da Secretaria da
Saúde do Município.
A diretora de Vigilância em Saúde de Juazeiro, Evanusia de Lima,
reconhece que ainda não foi sentido o efeito esperado pelo lockdown.
"Nós estamos em crescimento nos últimos 14 dias de 45% e teremos a
ascendência de óbitos", acredita. Isso acontece, sobretudo, porque parte
da população não tem respeitado o isolamento social mais rígido, pontua
Evanusia.
O cenário só não está mais grave pois a rede de assistência
hospitalar do Município ainda consegue suprir a demanda. O Hospital de
Campanha, recém-inaugurado, que conta com 80 leitos clínicos, deu
suporte no tratamento dos infectados. Mas, com a curva ascendente nos
casos, o alerta está ligado. "Nossa preocupação são as UTI que são
ofertadas no Hospital Regional. Varia perto de 80% a ocupação", ressalta
Evanusia.
Outra cidade em isolamento mais rígido que vê seus números crescerem é
o Crato, que antes do lockdown apresentou aumento de 61%. Este índice
se mantém estável nas últimas duas semanas. Já o número de óbitos, antes
do isolamento mais rígido, era de oito. A última semana entre 5 e 12 de
julho registrou seu recorde negativo com nove vítimas. Nós tentamos
contato com a Secretaria da Saúde do Município, mas até o fechamento
desta matéria não houve retorno.
Barbalha também tem apresentando crescimento. A semana anterior ao
lockdown houve um salto de 216 para 369 casos, ou seja, 70,8%. Os
números, após o isolamento, não regrediram. A secretária da Saúde
Pollyanna Callou lamenta que mesmo em isolamento social rígido as
pessoas não se mantêm em casa. "Infelizmente não vejo este reflexo (nas
ruas). Os números seguem aumentando", lamenta.
Em Iguatu, na região Centro-Sul, o cenário aponta para horizontes
opostos. Na semana em que iniciou o lockdown, em 25 de junho, houve um
aumento de 26,5% no número de casos, saltando de 850 para 1.076. Nas
semanas seguintes teve, prevalência no crescimento; no entanto, os
números mostram uma queda sensível no número de mortes, saindo de cinco
para quatro. Também tentamos contato com o secretário da Saúde, Georgy
Xavier, mas sem retorno.
Efeito
Na semana anterior ao início do 'lockdown' em Sobral, o Município
registrava crescimento de 52,22% no número de casos, saindo de 1.595
para 2.428. O número de mortes entre 24 e 31 de maio foi de 32. A semana
seguinte, ainda sem os efeitos do isolamento, houve um recorde de
mortes, somando 56 vítimas.
A partir do dia 7 de junho, Sobral começou a diminuir a curva de
crescimento de casos e óbitos. A queda continuou pelas quatro semanas
seguintes, chegando a 13 óbitos na última semana. O crescimento de casos
neste período foi de 13,81%, índice abaixo dos 52,22% de adição nos
casos registrados na semana anterior ao lockdown. O bom resultado fez
com que o Município avançasse, nessa semana, para fase de transição.
"Se não tivesse feito isolamento, o número de casos seria muito
maior", enfatiza o diretor Vigilância do Sistema de Saúde de Sobral,
Marcos Aguiar Ribeiro. Um estudo elaborado pelo professor da
Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em Física
Estatística, Soares Júnior, em parceria com o médico Antônio Lima Neto,
apontou que, sem o lockdown, Sobral teria hoje (14) 17.047 casos.
Em Brejo Santo, ainda em lockdown, o cenário também parece
controlado. A secretária da Saúde do Município, Glaise Feijó, acredita
que a medida só foi instituída em sua cidade pelo crescimento na região
como um todo. Brejo Santo tem 291 casos.
Diário do Nordeste