Mortes de mulheres negras cresceram 475,7% em dez anos


No Ceará, os casos de homicídios de mulheres negras cresceu 475,7% em uma década, conforme o Atlas da Violência 2020, divulgado nesta quinta-feira (27), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O dado corresponde ao período entre 2008 e 2018.

"Um elemento central para a gente entender a violência letal no Brasil é a desigualdade racial. Se alguém tem alguma dúvida sobre o racismo no país, é só olhar os números da violência porque traduzem muito bem o racismo nosso de cada dia", diz a diretora executiva do FBSP, Samira Bueno.
Somente em 2018, foram 426 casos, ocasionando média de 12,9 mortes por 100 mil habitantes. No primeiro ano, 2008, a taxa era de 2,5 homicídios. De acordo com Samira, para analisar o recorte é preciso compreender detalhes como o envolvimento das vítimas com integrantes de organizações criminosas. Por conta da aproximação, elas são executadas. Para a diretora, trata-se de "uma nova gramática das facções", que precisa ser compreendida. 

Enquanto o total de morte de mulheres negras no período corresponde a 90,1% dos casos, homicídios de mulheres não negras representa 9,9% dos registros. De acordo com o relatório, considerando todos os estados brasileiros, a diferença fica mais explícita no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, "onde as taxas de homicídios de mulheres negras foram quase quatro vezes maiores do que aquelas de mulheres não negras".

"Todas essas ações [do poder público] que, de algum modo, atuam na prevenção à violência, têm sido capazes, apesar da magnitude do fenômeno [da violência], de prevenir a morte de pessoas não negras, de proteger as vidas de não negros. Porém, quando a gente olha especificamente para a taxa de homicídio da população negra, no mesmo período, no mesmo país, cresceu 11,5%. É como se a gente estivesse falando de países diferentes, territórios diferentes, tamanha a disparidade quando a gente olha para o fenômeno da violência, segmentando entre negros e não negros", complementa ela. "Isso nos ajuda a entender o quanto estamos completamente dessensibilizados por isso."



Com informações da Agência Brasil

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