Ceará integra pesquisa nacional para avaliar riscos de Covid-19 em profissionais da saúde​

 


A Universidade Federal do Ceará (UFC) inicia nesta semana a etapa cearense da pesquisa nacional "Avaliação de Riscos de Profissionais de Saúde Que Cuidam de Pessoas com Covid-19". O estudo também está sendo realizado nos estados do Pará, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul e tem o objetivo de identificar os impactos da infecção pelo novo coronavírus entre esse grupo de profissionais que estão na linha de frente.

De acordo com a plataforma digital IntegraSUS, gerida pela Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), atualmente o estado acumula 17.314 diagnósticos positivos de Covid-19 entre profissionais de saúde, dos 64.954 casos notificados, segundo a atualização das 11h26 dessa terça-feira (10). Apesar da pesquisa estar no início, números disponíveis na plataforma do governo estadual já dão uma dimensão do que a equipe de pesquisadores terá pela frente.

Além de identificar os impactos, a pesquisa idealizada em abril e aprovada em maio, durante o pico da pandemia, busca entender melhor a dimensão com que os profissionais de saúde foram afetados. A professora da da Faculdade de Medicina da UFC e coordenadora-geral da pesquisa, Lígia Kerr, aponta que é importante identificar também os impactos emocionais e mentais do período pandêmico.

"Essa pesquisa vai fazer algo muito importante, a avaliação do impacto mental. Porque se você olhar, grande parte dos profissionais teve problemas emocionais por cenário de guerra que é descrito, que ocorreu durante o pico da doença", destaca a coordenadora. “Eles estavam lidando com uma doença nova, muitos saíram de casa para não contaminar a família, muitos ficaram meses isolados. Então esse profissionais acabaram adquirindo depressão, síndrome do pânico e outras. É uma situação muito atípica”, completa.

Pesquisa

A pesquisa que está sendo desenvolvida junto ao Instituto Evandro Chagas (Pará), Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz (Pernambuco), Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e pelo Hospital Moinhos de Ventos (Rio Grande do Sul), na etapa cearense irá trabalhar com três categorias de profissionais da saúde: técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos.

Durante os próximos seis meses, será identificado nesses profissionais a prevalência da Covid-19, estimativa de taxas de absenteísmo, como se deu o uso dos Equipamentos de Segurança Individual (EPIs) e o estado da saúde mental e emocional desses profissionais.

A iniciativa utiliza a metodologia Respond Driven Sampling (RDS)​, na qual os primeiros profissionais escolhidos pelos pesquisadores, chamados "sementes", irão convidar até cinco outros para participarem. A primeira parte consiste de uma etapa qualitativa com entrevistas de profundidade com 50 profissionais-chaves, já a segunda fase é quantitativa e mapeará a situação de 350 entrevistado de cada categoria.

"Passaremos o link da pesquisa para esses profissionais sementes e quando eles terminarem de responder, vão receber um outro link que irão passar para cinco colegas da mesma profissão. Desta forma, quem for terminando vai passando para mais cinco. Quando chegarmos em 350 profissionais de cada categoria, aí paramos", explica Lígia. Toda a ação será feita online, sem contato entre pesquisador e participante.

Esses profissionais preencherão novos formulários com dois, quatro e seis meses, para um melhor acompanhamento da categoria. "Isso se dá porque vivemos momentos diferentes da pandemia, iremos abordar o que aconteceu com eles no primeiro período [de pico], o que está acontecendo com ele naquele momento, se mudou a percepção de como agir, se relaxou na forma de proteção física e o estado emocional", pontua.

Profissionais de saúde

O Ceará já tem mais de 17,3 mil casos de Covid-19 entre os profissionais de saúde. "Esses números demonstram quase 27% dos casos notificados sendo confirmados, é muita coisa, bastante coisa. Isso equivale a áreas de Fortaleza com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) baixíssimo. E eu estou fazendo essa comparação porque nessas áreas foi mais difícil de controlar os impactos do vírus, porque tem um percentual maior de informais e tem que trabalhar, porque vivem em casas menores, menos ventiladas e com mais pessoas", exemplifica. "Isso significa, que nossos profissionais estiveram em situações muito complexas", completa.

Ainda de acordo com o IntegraSUS, as categorias mais afetadas foram técnicos ou auxiliares de enfermagem (4.522), enfermeiros (2.246), agentes comunitários (1.571), médicos (1.463) e agentes de combate a endemias (715).

 

 

(G1/CE)

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