Com currículo gigante pendurado no pescoço, carioca pede emprego nas ruas e diz se sentir invisível


 Ainda estava escuro quando Rosemberg Alves da Silva acordou. O sol só vem depois*. Ele vestiu o macacão alaranjado, calçou botas de biqueira de aço, e saiu de casa com uma mochila nas costas. Desembarcou de ônibus no Largo do Carioca, centro do Rio de Janeiro – uma das tais necrópoles que não se tocam e então se chocam com o sonho de alguém. Às 6h, já havia pendurado no pescoço o banner de 1m x 1,2m, no qual mandou imprimir um resumo de anos de esforço: o seu currículo.


Desempregado desde julho, o carioca de 44 anos confeccionou o cartaz para chamar a atenção de possíveis empregadores. O macacão é o uniforme do trabalho dos sonhos: a roupa usada por funcionários de companhias na área do petróleo. Durante 15 anos, Rosemberg vestiu um macacão como este, quando trabalhou na Shell Brasil.


Silva tem competência técnica na área, como operador e mantenedor, em eletromecânica, eletrotécnica e eletrônica. Também é treinado em segurança do trabalho e é tecnólogo em telecomunicações. Agora, o que mais deseja é trabalhar em offshores (empresas com estruturas localizadas em alto-mar).


Depois de distribuir centenas de currículos on-line durante o isolamento social, ele decidiu quebrar a quarentena e ir para as ruas com seu banner pendurado no pescoço. Foram quatro dias seguidos de exposição, debaixo de um sol de 30°C, em diferentes áreas da Zona Sul do Rio, inclusive na porta da empresa Modec, que havia anunciado vagas na área de atuação de Rosemberg: sem resultados.


Nos semáforos, motoristas que passavam faziam sinal de positivo, outros estendiam os punhos cerrados para fora do carro, em manifestação de apoio. Mas não passou daí. “É preciso ter muita coragem e resiliência para fazer algo assim. A princípio, as pessoas não enxergam você, nem querem saber se você existe. Isso dá uma certa tristeza. Uns pararam, outros tiraram fotos. Só teve uma senhora que falou comigo, ela quis saber se eu já tinha almoçado, se queria água. Disse que sabia que era pandemia, mas me pediu um abraço, o que me deixou emocionado”, relata.



Metrópoles


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