Mudanças na dieta de ovinos podem reduzir emissões de gases do efeito estufa

 


Pesquisadores da Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, verificaram que a adoção de estratégias de nutrição para raças de ovinos adaptadas ao semiárido pode reduzir em até 57% a emissão de gases do efeito estufa. Em estudo com as raças Santa Inês e Morada Nova, foi constatado que a adoção de dieta com maior proporção de ingredientes concentrados, ricos em nutrientes solúveis (grãos, tortas, farelos, óleos vegetais), pode resultar na redução da emissão de gases como metano e dióxido de carbono.

Foram avaliadas diferentes proporções de alimentos volumosos (utilizando fenos de gramíneas comerciais) e concentrados (milho, farelo e óleo de soja, por exemplo). Como resultado, os cientistas constataram que a melhor resposta em termos de mitigação dos gases aconteceu com proporção de 20% de volumoso para 80% de concentrado. Além disso, a pesquisa mostrou que a modificação na dieta permite o abate em menor tempo e proporciona aos produtores um produto de melhor qualidade, respeitando-se logicamente todos os critérios fisiológicos e de bem estar animal.

O trabalho contou com apoio da Funcap por meio do Edital 06/2011 – Programa Áreas Estratégicas, que forneceu recursos para a implantação do Laboratório de Respirometria do Semiárido (Laresa), onde estão instaladas câmaras respirométricas, nas quais o fluxo de ar é controlado e a liberação dos gases pelos animais é medida. Além disso, a Funcap apoiou o desenvolvimento do estudo através do Programa de Bolsas de Produtividade e Estímulo à Interiorização (BPI), que proporcionou bolsas a estudantes de pós-graduação e de iniciação científica.

A pesquisa foi realizada com animais das raças ovinas Santa Inês e Morada Nova por constituírem grupos genéticos localmente adaptados ao semiárido brasileiro, além de integrarem grande parte dos rebanhos comerciais do Nordeste. De acordo com o professor Marcos Cláudio Pinheiro, médico veterinário e doutor em Ciência Animal, os dados gerados são pioneiros no Ceará, considerando a utilização de câmaras respirométricas para ovinos. Ele explica que quanto melhor for a dieta proporcionada aos animais, ou seja, que permita o melhor desempenho, menor será a emissão dos gases causadores do efeito estufa.

“Trabalhar a redução das emissões desses gases é propiciar o melhor desempenho animal, por garantir maior eficiência no uso de nutrientes em consonância com o grupo genético ovino avaliado”, comenta.

Ovinos da raça Morada Nova

De acordo com o pesquisador, a adoção, pelo produtor, da Dieta de Alto Concentrado (DAC), rica em alimentos compostos de grãos de cereais (milho, por exemplo) e farelos ricos em proteínas, como o farelo de soja, possibilita aos produtores melhores condições de venda:

“Com a adoção da DAC, o produtor fica menos vulnerável às condições de mercado por obter um produto de melhor qualidade durante todo o ano. O princípio da dieta pode ser aplicado para o uso de alimentos alternativos que, nesse momento, são preponderantes em termos de escolhas para composição de dietas devido à alta dos preços dos insumos tradicionais”, explica o pesquisador.

Durante o estudo, também observou-se que esse tipo de dieta resultou em um retorno líquido de 14,7% no investimento em cordeiros da raça Santa Inês e de 6% em cordeiros da raça Morada Nova. O professor Marcos Cláudio esclarece que os cálculos foram realizados dentro de um ciclo de produção de ovinos em terminação que, para ganho precoce (produtividade mais rápida), dura de 70 a 90 dias, considerando cordeiros desmamados com 100 dias de idade. “Algumas teses de doutorado e dissertações de mestrado foram desenvolvidas na Embrapa nesse tema, junto a programas de pós-graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Vale do Acaraú (UVA) e de outras instituições sediadas fora do Estado”, afirma Pinheiro.

“Neste sistema de estudos integrados com as universidades, os estudantes vêm à Embrapa realizar seus trabalhos de conclusão de curso de pós-graduação e aprendem sobre os sistemas produtivos e sobre a aplicabilidade de dietas por meio de medidas que beneficiam a produção, considerando parâmetros como renda familiar dos produtores, taxa de retorno, índice de lucratividade e taxa de rentabilidade. A partir dessas informações, é possível afirmar que as dietas desenvolvidas pela Embrapa trazem retorno do investimento”, comenta o pesquisador.

As pesquisas realizadas na instituição também abrangem dados de consumo, ganho de peso, dados de rendimento de carcaça após o abate e cortes comerciais. Com base nessas informações, são avaliados o preço dos insumos (principalmente ração), os custos com medicamentos, e a depreciação de instalações, em associação com o preço de venda dos animais (peso vivo).

O professor Marcos destaca que os benefícios obtidos com o estudo também são aplicáveis a pequenos produtores.

“No Ceará, a Embrapa já desenvolve, no sertão dos Inhamuns, o trabalho de utilização de dietas aplicáveis a rebanhos de pequenos ruminantes que tragam eficiência alimentar e sejam viáveis economicamente”, afirma. Ele ressalta que a instituição tem como papel fundamental contribuir com políticas públicas que proporcionem acesso às tecnologias desenvolvidas.

As instalações do Laboratório de Respirometria do Semiárido (LARESA), montado com apoio do Programa Áreas Estratégicas, da Funcap, permitem a geração de dados de produção de gases do efeito estufa para inventários nacionais e internacionais, tendo como cenário o semiárido, seus alimentos e grupos genéticos animais localmente adaptados.

Segundo o professor Marcos Rogério, com a estrutura do laboratório é possível trabalhar questões de exigências de energia líquida (sistema que considera a perda de energia na forma de calor durante os processos de digestão, absorção, metabolismo e fermentação do alimento consumido) em diferentes grupos genéticos de ovinos e caprinos. Entre estes fatores estão parâmetros bioclimatológicos como temperatura, umidade relativa do ar e ventos.

O laboratório conta, ainda, com baias e gaiolas de metabolismo que possibilitam a realização de ensaios de consumo e de digestibilidade de nutrientes e avaliação de parâmetros metabólicos de pequenos ruminantes pela adoção de diferentes dietas e rações que podem vir a ser comercializadas ou usadas por produtores rurais do semiárido cearense.

“O apoio da Funcap foi fundamental para a montagem dessa estrutura ímpar e para a realização de pesquisas desse escopo no semiárido cearense”, finaliza o pesquisador.

 

(Ceara Agora)

(*)com informação do Governo do Estado do Ceará

 

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