PF investiga policiais militares do Ceará suspeitos de tráfico de armas

 


Dois cabos da Polícia Militar do Ceará são investigados pela Polícia Federal por compra e/ou comércio ilegal de armas de fogo, munições e acessórios, em um esquema identificado a partir do tráfico internacional desses equipamentos. As apurações ocorrem no âmbito da operação Mercado das Armas, realizada em 29 de julho. Os autos tramitam em sigilo na Justiça Federal do Paraná.

Os dois militares foram alvos de mandados de busca e apreensão. Um dos dois cabos entrou na investigação após cair em escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, negociando a troca de um kit roni.

O equipamento é um produto de uso restrito controlado pelo Exército e transforma armas leves em longas. Ou seja, uma pistola glock poderia se tornar uma submetralhadora. Conforme as interceptações, o militar o havia adquirido para usá-lo em uma arma de fogo real.

O kit roni foi negociado com Paulo José Vasconcelos, morador de Guaratuba, no Paraná, e, segundo a PF, traficante internacional de armas e munição; ele foi preso em julho. Paulo Vasconcelos adquiria esse tipo de material em um estabelecimento comercial de Ciudad del Este, no Paraguai, revendendo-os em um site e enviando-os pelos Correios a compradores de diversos estados do Brasil, incluindo o Ceará.

Ligações interceptadas

Na ligação interceptada pela Polícia Federal entre o suspeito de tráfico internacional e o cabo da PM cearense, Paulo pede para que o militar retire uma reclamação feita no site de que o kit roni recebido pelo policial estava com defeito. O paranaense afirma que já vendeu o acessório a diversos clientes sem receber reclamações, inclusive do mesmo lote ao qual havia repassado ao militar.

Neste telefonema, o cabo e outros 14 PMs cearenses foram ouvidos pelas autoridades federais. Os áudios revelam, conforme a PF, o crime de comércio ilegal de armas de fogo e munições de dois cabos da Corporação com outros 13 policiais militares cearenses.

Apenas dois são considerados investigados formalmente, e os nomes dos demais foram encaminhados à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), do Ceará, para apuração administrativa.

“Ressalto que, muito embora o comprador seja policial, o mesmo deve obedecer as regras para eventual compra do acessório, o que não foi seguido no caso”, consta escrito no relatório da PF. Em uma ligação, realizada no dia 11 de março de 2019, cuja transcrição consta nos autos da Operação Mercado das Armas, um homem não identificado pela Polícia Federal pergunta sobre armamentos ao cabo.

“Cadê a minha .40, a minha glock?”, pergunta a pessoa não identificada, ao que o militar responde: “só no final do mês”.

No dia 3 de maio de 2019, o cabo conversa com um tenente da PM. Este solicita munição.

  • Cabo 1: Adiante comando, qual é o bizu?
  • Tenente: Eu queria umas balas de 9mm, você não tem não ai, pra me vender?
  • Cabo 1: Chefe, eu tenho, mas fala comigo no whatsapp, eu estou de serviço agora
  • Tenente: Não, é porque a minha arma chegou, eu recebo na terça-feira, entendeu?
  • Cabo 1: Entendi
  • Tenente: Mas eu estou com o dinheiro pra comprar umas munições a você

Em outro diálogo, o cabo afirma ver a possibilidade de revender 3 mil munições a um homem não identificado. Segundo a PF, o militar realizou a importação de insumos para a produção da munição que iria comercializar em seguida. 

 

(G1/CE)

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