'Não tenho medo de ser presa porque não cometi crime nenhum', afirma Flordelis

 

Flordelis afirma que não tem medo de ser presa: 'Não cometi crime' Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

Enfrentando um processo disciplinar que pode culminar com a perda de seu mandato, e, consequentemente, levar à sua prisão, a deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD) afirma não ter medo de ir para trás das grades. Em entrevista ao EXTRA, a parlamentar, acusada pelo Ministério Público de ser mandante da morte do marido, afirma estar sendo injustiçada e faz novas revelações sobre caso. Flordelis relata ter descoberto que o marido, Anderson do Carmo, abusava sexualmente de outras pessoas na casa, além de sua filha biológica Simone dos Santos, sem revelar quem seriam as vítimas e nem detalhes do que teria ocorrido. A deputada ainda aponta Simone como verdadeira responsável por escrever mensagens atribuídas a ela, nas quais dizia que não podia se separar, pois escandalizaria a obra de Deus, e nas quais também chama o marido de traste.

Na última audiência do processo, Simone, que está presa e é acusada de envolvimento no crime, admitiu ter oferecido dinheiro para que uma das irmãs, Marzy, matassem Anderson e relatou ter sofridos investidas sexuais da vítima. No entanto, Simone diz não saber se a irmã de fato executou o plano. Marzy, em seu interrogatório, não corroborou as declarações da irmã. Para o MP, a confissão de Simone não foi suficiente para "livrar" Flordelis das acusações.

Na entrevista ao EXTRA concedida na última quinta-feira por videochamada, a deputada diz não acreditar não ter sido condenada pela opinião pública: "Há muitas pessoas que me apoiam e acreditam na minha inocência".

Advogado da família de Anderson do Carmo, Ângelo Máximo contesta as declarações de Flordelis de que o pastor teria abusado sexualmente de pessoas da família. Segundo ele, a deputada têm o objetivo de desconstruir a imagem do marido para “tentar se livrar da responsabilidade penal”.

— Flordelis está tentando destruir a imagem de alguém que não está aqui para se defender. Demonstra o caráter em tese criminoso em prol de destruir a imagem da vítima de um assassinato brutal cometido dentro da própria casa — afirmou.



A senhora é acusada de ser mandante da morte de seu marido. Ministério Público e polícia categoricamente afirmam isso.

É uma acusação sem nenhum fundamento, sem nenhuma prova. É revoltante. Eu estou muito indignada por estar sendo acusada de algo que não fiz, por um crime que não cometi. Por isso pedi ajuda a investigadores de fora do país, porque vi coisas no processo que não deveriam estar ali, como depoimentos de anônimos, pessoa sem identidade, sem CPF. Tentaram de todas as formas me incriminar. Não conseguindo, partiram para a desconstrução da minha imagem como mulher, como pessoa, como pastora. Colocando no processo coisas que não deveriam estar contidas nele.

Como, por exemplo, o quê?

Minha ida à uma casa de swing há quase 20 anos atrás. Que eu não sou uma igreja, eu sou uma seita; que eu uso perucas. Eu me pergunto o que isso tem a ver com o crime. Isso nada mais é do que uma desconstrução de imagem para que eu seja incriminada pela sociedade? Para que eu seja sentenciada?

A senhora acha que já foi sentenciada pela sociedade?

Não. Assim como tem um grupo de pessoas que falam coisas doídas, inverdades a meu respeito, há muitas pessoas que me apoiam e acreditam na minha inocência.

Em depoimento, sua filha Simone admitiu ter dado dinheiro para uma irmã matar o pastor. Depois do crime, vocês conviveram por mais de um ano. Em nenhum momento Simone te revelou nada sobre esse envolvimento dela com o crime?

Essa é uma pergunta que me faço todos os dias, mas logo após o assassinato a Simone se mudou para Rio das Ostras. Ela vinha final de semana para ficar comigo, às vezes de 15 em 15 dias. É o que eu também me pergunto todos os dias. Por que, diante de tanto sofrimento que passei, de acusações, isso não ter sido revelado há mais tempo?

O MP continua te apontando como mandante do crime. Ou seja, para o MP a confissão da Simone não foi suficiente.

Eu estou pagando, o foco principal sempre foi a Flordelis. Mas tenho muita fé de que tudo vai se esclarecer, vir à tona. É minha fé que me fala isso todos os dias. Estou encarando isso como posso. Com altos e baixos. Eu ter sido indiciada, estar como ré, considero uma grande injustiça. Porque não há nada que prove que fui mandante do crime. Isso faz com que eu acredite muito pouco na Justiça.

Há mensagens no processo enviadas pela senhora para um de seus filhos, André, que para os investigadores foi uma prova muito importante. Para eles, mostrava seu descontentamento com o seu marido, o seu incômodo com ele. Isso não seria uma prova?

Não, na medida em que eu não escrevi essas mensagens. Não é prova, não me incrimina. Foram digitadas por outra pessoa. Já provei, já falei. Várias pessoas têm acesso ao meu celular, ele fica nas mãos de terceiros. Quero que provem. Eu não digitei aquelas mensagens.

Com quem o André estaria falando, então?

É muito triste falar isso, porque além de esposa eu sou mãe. Eu perdi meu marido, alguém que eu amava demais. Alguém muito importante para mim. Naquela noite no Maracanã (quando algumas mensagens foram enviadas) eu não estava sozinha. Eu estava acompanhada da minha filha, Simone, e infelizmente essas mensagens foram digitadas por ela.

Isso não foi falado em seu interrogatório. Por que a senhora não falou isso?

Eu não tinha conhecimento disso ainda.

O delegado Allan Duarte, responsável por parte das investigações, chamou sua família de organização criminosa. Sua família virou uma quadrilha por ter planejado matar o Anderson?

De jeito nenhum. Quando uma pessoa de uma família erra, não pode toda família pagar pelo erro dessa pessoa. Minha família não é uma organização criminosa. É uma família como outra qualquer, que teve problemas. O fato de filhos terem errado não pode manchar os outros filhos e nem a mim. Eu não posso estar pagando pelo erro dos outros.

Quem errou, deputada?

Eu quero ressaltar, antes disso, que antes de falar que minha família é uma organização criminosa, deveriam respeitar as crianças. Tem crianças no meio disso tudo, tem adolescentes. Isso é uma falta de respeito muito grande com a minha família.

E quais foram os filhos que erraram?

As investigações têm que dar essa resposta. Sei que minha filha Simone já confessou, que minha filha Marzy teve participação. Infelizmente é muito duro. Está sendo muito difícil. Quando fiquei sabendo, foi um golpe. Eu amava meu marido e ele me tratava aparentemente muito bem, me fazendo me sentir uma mulher especial, uma esposa especial. Quando ele estava pregando na igreja e eu entrava, ele parava a pregação para dizer que a mulher mais linda do mundo estava entrando. ‘A mulher da minha vida está entrando e eu preciso parar de pregar para que ela possa entrar e sentar para me ouvir”, ele dizia. Eu também achava isso, mas tem argumentos e provas suficientes para mostrar que a minha filha não está mentindo. Ela vinha fazendo isso por amor a mim, se sacrificando. Houve o abuso, houve o assédio.

Durante a audiência, Simone disse que sofreu investidas sexuais do pastor. E posteriormente, na imprensa, a advogada da Simone disse que ela tinha sofrido abusos. Mas isso não foi falado pela Simone. O que realmente aconteceu?

Eu não estive com a minha filha. Estou impedida de ter contato com os meus filhos. Mas os relatos que chegaram ao meu conhecimento são de que não houve só assédio, mas também abusos sexuais, inclusive durante o período em que ela estava doente, com câncer. Já houve um relato pela mídia, isso foi notório, não sei se foi dito em depoimento pela minha filha, de que houve ejaculação no dia que ela tinha acabado de chegar de uma sessão de quimioterapia. Ela estava dormindo quando sentiu algo caindo em cima dela e quando abriu os olhos, meu marido estava se masturbando em cima dela.

No interrogatório, a Simone fala da masturbação, mas não diz que houve ejaculação.

Isso para mim foi..lidar com essa informação está sendo muito difícil. Meu marido, depois de Deus, era a pessoa mais importante da minha vida. E algo que envolve minha filha me coloca nas mãos uma culpa que carrego, uma culpa muito grande. Acho que vou carregar pro resto da minha vida. É a culpa de não ter visto. Eu amei tanto meu marido que esse amor me cegou a ponto de não enxergar o que estava acontecendo com a minha filha.

A Simone fez essa confissão para tentar te proteger? Ela pode ter feito isso por amor a mãe?

Pelo contrário, de forma alguma. O que ela está fazendo e tentando o tempo todo fazer é proteger outra pessoa e não a mim.

Quem ela quer proteger?

Eu ainda não sei ao certo, mas é algo que a gente está apurando para não falar de forma leviana, não quero ser leviana nas minhas declarações. Eu gosto de falar de coisas que tenho convicção. Mas já tem relatos de que esses abusos não foram só com a minha filha.

A senhora costuma falar que hoje vive em uma situação financeira difícil.

Bastante. Decidi pagar as dívidas das igrejas, que eram muito grandes, antes de entregar os templos. Porque nós sempre mantivemos o lema ‘sofro eu, mas não sofra a obra’. Quando eu consegui dar conta da situação, depois de alguns meses, as igrejas estavam muito endividadas, então eu tive que entregar os templos. Fiquei apenas com um (a sede, no Colubandê). Antes de entregar decidi pagar algumas dívidas, não consegui pagar todas. Eu peguei empréstimo no bando do Brasil de Brasília na Câmara. Hoje sobrevivo com metade do meu salário como parlamentar.

Caso não seja cassada, a senhora pretende se candidatar e tentar a reeleição?

É uma coisa que estou avaliando. Eu fui colocada nesse cargo por Deus. Trabalhei muito para conquistar o meu mandato. Não esperava ter a quantidade de votos com que ganhei, ser a quinta mais votada do estado do Rio. Fiquei muito feliz pela conquista. Trabalhei demais e não fiz, por causa do ocorrido, o que pretendia fazer pelo povo do meu estado. Infelizmente, por causa da situação que estou vivendo. Então é algo que ainda estou avaliando.

A senhora tem medo de ser presa?

Não tenho medo de ser presa porque não cometi crime nenhum. 


Extra


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