'Só escutei o grito', diz mãe de menino baleado em confraternização da escola; família doa órgãos


A mãe do menino Kaio Guilherme, de 8 anos, que se tornou a terceira criança morta por arma de fogo, neste ano, no estado do Rio de Janeiro, de acordo com o levantamento da ONG Rio de Paz, anunciou que os órgãos do garoto serão doados.

A mãe de Kaio, Thaís Silva, de 29 anos, que é professora, disse que a doação de órgãos foi uma maneira que a família encontrou de manter o Kaio vivo em outras pessoas. Foram doados coração, córneas e rins.

"Desde o momento que a médica deu a primeira resposta que poderia ter morte encefálica, eu via meu filho respirando, então como via o coração dele batendo, já passava pela minha cabeça que se o pior acontecesse, eu faria esse ato. É uma maneira de sentir nosso filho vivo por aí, nos cantinhos. E a segunda coisa que eu pensei foi que talvez esse fosse o propósito de Deus: levar meu filho e salvar outras vidas", disse a mãe do menino para jornalistas, hoje no IML.

"Eu tô colocando sempre no meu pensamento que Deus quis levá-lo para eu poder salvar outras vidas, tô tentando confortar meu coração. Acredito que talvez foi o melhor. Talvez se meu filho tivesse sobrevivido, ele não seria a criança que ele era, talvez ele não conseguisse mais jogar o futebol dele, talvez ficaria deitado ou sentado, sem expressão", concluiu.

Thais relatou que o filho estava em uma fila de pintura corporal, quando caiu no chão. "Eu tinha acabado de entregar um copo de refrigerante que ele havia pedido. Quando virei de costas, só escutei o grito dele caindo. Olhei e vi muito sangue".

A professora contou que não havia operação policial na comunidade naquele momento e que imagina que o tiro possa ter vindo de outra comunidade. Um vizinho, que é socorrista, ajudou a levar o menino ao hospital. "No carro, teve momentos de ele falar 'minha cabeça está doendo muito'. Depois, ele apagava e voltava, gritando", lembrou a mãe.

Após o disparo
Kaio foi atingido na cabeça, na sexta-feira (16), durante uma confraternização que ocorria na escola onde ele estudava na Vila Aliança, em Bangu, na zona oeste, e morreu no último sábado (24).


O menino foi levado para o Hospital Municipal Albert Schweitzer, no bairro vizinho de Realengo, onde recebeu os primeiros atendimentos. De acordo com a mãe, a unidade não tinha neurocirurgião naquela hora, e por isso, ele foi transferido para o Pedro 2º.


A criança chegou na unidade já em estado grave, passou por cirurgia, e teve o fluxo sanguíneo na região cerebral acompanhado. Um dos resultados chegou a dar inconclusivo para morte cerebral. No entanto, no sábado (24) foi declarada a morte da criança.


UOL Notícias

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