Idosa de 91 anos está entre as mulheres mantidas em cárcere privado em clínica no Crato

 


Idosa de 91 anos de idade é uma das 33 mulheres que estavam sendo mantidas em cárcere privado em uma clínica psiquiátrica no Crato, na Região do Cariri. O caso, descoberto pela polícia nesta semana, já resultou na prisão em flagrante do diretor da unidade, que é suspeito também de ter cometido abuso sexual contra duas das vítimas, além de ser investigado por maus-tratos. Informações foram divulgadas nesta sexta-feira, 13, pela delegada Kamila Brito, em entrevista à Radio O POVO CBN.

De acordo com Brito, que é titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), responsável pela investigação do caso, entre as vítimas também há mulheres na faixa de 30 e 40 anos. A idosa de 91 anos é a mais velha delas. Todas eram mantidas trancadas em celas pequenas, que não tinham banheiro, e chegavam a fazer necessidades fisiológicas em baldes quando precisavam, vivendo em condições subumanas.

O fato só foi descoberto quando uma das vítimas conseguiu sair do local para ir até uma consulta, guiada por um dos representantes da clínica. No retorno, a mulher alegou que precisava passar na loja onde a irmã trabalhava e ao chegar lá entregou de forma escondida um bilhete a parente, onde pedia ajuda.

“[...] Estou sofrendo abuso sexual. [...] Sou eu e minha amiga que está sofrendo. Urgente. Me tire daqui. Vem logo. Por favor” (sic)", era parte da mensagem escrita no papel. A irmã da vítima então foi até a delegacia e recebeu orientações para que retirasse a mulher da clínica rapidamente- o que conseguiu fazer após inventar uma desculpa ao diretor da casa.

Uma vez fora da clínica, a vítima prestou depoimento e confirmou as acusações feitas, relatando detalhes sobe o funcionamento do local. A mulher também se submeteu a exames de corpo de delito na Perícia Forense do Ceará (Pefoce), cujos laudos descartaram a ocorrência de conjunções carnais (ato sexual), mas identificaram sinais de atos libidinosos, que são configurados como crimes de importunação sexual.

Logo em seguida foi fundamentado o pedido de prisão preventiva de Fábio Luna dos Santos, 35 anos, diretor da unidade, pela suspeita de abuso sexual contra duas vítimas. Quando chegaram no local os policiais encontraram as mulheres presas em compartimentos separados por pequenas divisórias e fechados com grades e cadeados. Dessa forma, o gestor foi autuado em flagrante por maus-tratos e cárcere privado. Serão investigados, ainda, crimes de apropriação de benefícios das vítimas.

O diretor, segundo Brito, não tem formação na área da saúde e conforme investigações o equipamento não tem responsável técnico, como um médico psiquiatra. A clínica era mantida desde 2015, no fundo da casa onde Fábio reside. Como pagamento pela "internação", o homem alegou em depoimento que cobrava das mulheres o beneficio que recebiam do governo, no valor de um salário mínimo, mas chegou a dizer também que esse valor variava para menos e que algumas não recebiam nada, ficando de forma gratuita no espaço.

Mulheres foram levadas a centro de reabilitação

Segundo a titular Kamila Brito, todas as mulheres foram tiradas da clínica. Aquelas que não tiveram para onde ir foram levadas a um Centro de Reabilitação localizado em Juazeiro do Norte. Todas receberam assistência de uma equipe multiprofissional do Centro de Referência da Mulher, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e Centro de Atenção Psicossocial (Caps).

"Ela foi muito corajosa, foi muito esperta, conseguiu salvar a vida delas e das demais. O alerta que eu faço é isso, é que os familiares prestem atenção onde realmente colocam seus famílias, porque são pessoas tão sofridas, tão carentes, tão vulneráveis, é muito difícil, são pessoas que não estão em seu discernimento normal", alerta Kamila, se referindo a atitude da vítima que denunciou condições.

Em depoimento prestado à DDM, Fabio negou todas as acusações. "Ele negou veemente que cometeu abuso sexual ou maus tratos ou violação de direitos, ele compreendia que estava tudo bem, que era normal manter elas naquela sela por conta dos problemas psíquicos, tendo em vista que elas poderiam colocar em risco elas e as mulheres que convivem com ela", relatou a delegada.

 

(O Povo)

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