Mortes de políticos antecipam corrida eleitoral na Baixada Fluminense; crimes estão associados a disputas entre grupos paramilitares

 

 
A morte do vereador de Duque de Caxias Alexsandro Silva Faria, o Sandro do Sindicato (Solidariedade), executado a tiros de fuzil na manhã do último dia 13, eleva a estatística de assassinatos que deixam a Baixada Fluminense intocável no ranking da violência contra políticos no Estado do Rio. Do total de mortos em seis anos na Região Metropolitana — 42 casos, incluindo a capital —, cerca de 80% ocorreram em cidades da Baixada: 33. O crescimento da atuação de grupos de milicianos é apontado como a principal motivação para os crimes.

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Levantamento feito pela força-tarefa da Polícia Civil criada no ano passado para investigar crimes envolvendo políticos aponta que, em pelo menos seis casos, foram comprovadas ligações com atividades criminosas exercidas pelas vítimas. Embora 2021 não seja ano eleitoral, quadrilhas anteciparam a disputa por territórios com dois objetivos: abrir caminho para a eleição de representantes nas Casas Legislativas e eliminar nomes com capital eleitoral que não estão comprometidos com o crime, o que poderia tirar votos de campanhas patrocinadas por paramilitares. Representantes da milícia no Legislativo seriam a garantia de defesa dos interesses do grupo.

De acordo com a plataforma Fogo Cruzado, das 13 cidades da Baixada, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Magé são apontadas como as mais violentas. Cada município soma pelo menos sete execuções de políticos desde 2016.

Para o professor José Cláudio de Souza Alves, pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro “Dos barões ao extermínio: Uma história da violência na Baixada Fluminense”, tanto Nova Iguaçu quanto Duque de Caxias, os maiores municípios da Baixada, enfrentam o crescimento da atuação da milícia — em alguns locais, as áreas deixaram de ser controladas pelo tráfico ou passaram a ser dominadas por uma associação entre negociadores de drogas e paramilitares. Para o pesquisador, os criminosos buscam fortalecer suas atividades econômicas com a conquista de território e a influência política no estado.

José Cláudio cita localidades da Estrada de Madureira, em Nova Iguaçu, próximas ao limite do município com a capital, e a região do bairro Pilar, em Caxias, como alvos da milícia, o que acarreta o crescimento da violência.

— Bairros ao longo da Estrada de Madureira foram “conquistados” pela milícia vinda da Zona Oeste do Rio. Mas, com a morte (em junho) do (Wellington da Silva Braga) Ecko, que era chefe do grupo, a região passou a ser disputada por seus herdeiros — afirma o pesquisador, que identifica a região como um território minado para políticos.

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Vítimas de ataques

Foi na região da Estrada de Madureira que o candidato a vereador Domingos Barbosa Cabral, de 57 anos, foi morto a tiros, em 2020. Junto ao seu corpo, foram encontrados uma pistola e um carregador.

Já em Duque de Caxias, destaca José Cláudio, o Pilar se transformou em área de interesse para a milícia. Com a construção da Central de Abastecimento do Estado do Rio (Cearj) na BR-040, a milícia passou a lotear terrenos próximas à rodovia. A maior parte foi invadida.

Além de Sandro do Sindicato, que tinha o Pilar como reduto eleitoral, foram executados este ano mais dois vereadores de Caxias. Joaquim José Santos Alexandre (PL), o Quinzé, de 66 anos, foi assassinado quando saía de seu carro para entrar numa casa em São João de Meriti. Em março, Danilo Francisco da Silva, o Danilo do Mercado (MDB), e o filho dele, Gabriel da Silva, foram executados no bairro Jardim Primavera. A Polícia Civil levantou a suspeita de que o parlamentar estaria envolvido com um grupo de extermínio.

A violência em Caxias fez o presidente da Câmara Municipal,Celso do Alba, pedir ao secretário de Polícia Civil, delegado Allan Turnowski, rigor nas investigações sobre a autoria das mortes de vereadores. Ele avalia a cessão de carros blindados para todos parlamentares.

Procurado para informar se já existe um plano para impedir atos violentos nas eleições de 2022 na Baixada, o TRE-RJ informou que a questão é de “segurança pública”.
 
Extra

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