O aumento no preço da conta de luz não dará trégua ao consumidor no ano que vem. O reajuste que documentos oficiais do governo e do próprio setor elétrico preveem é superior a 20% em 2022, uma alta que vai turbinar ainda mais a inflação e corroer a renda do cidadão.
O
Estadão teve acesso a um documento interno da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) emitido na sexta-feira, 5, no qual o órgão
regulador faz uma projeção sobre o impacto financeiro que a atual crise
hídrica terá sobre a conta de luz em todo o País, devido às medidas que
foram adotadas para garantir o abastecimento de energia. A conclusão é
trágica.
"Nossas
estimativas apontam para um cenário de impacto tarifário médio em 2022
da ordem de 21,04%", diz o texto. Considerando dados da própria Aneel, o
reajuste acumulado neste ano só para o consumidor residencial chega a
7,04%, ou seja, o aumento projetado para o ano que vem praticamente
triplica a alta de 2021. Em 2020, o aumento médio foi de 3,25%.
Nos
últimos meses, cada consumidor de energia tem bancado, mensalmente, o
custo pesado das chamadas "bandeiras tarifárias", uma taxa extra que é
incluída na conta de luz para pagar o acionamento das usinas térmicas,
que são bem mais caras que as hidrelétricas. Isso tem ocorrido por causa
da falta de chuvas e do esvaziamento dos principais reservatórios do
País.
Uma
das principais razões de se fazer essa cobrança mensal do consumidor é
evitar que essas contas fossem pagas depois, nos reajustes anuais, como
acontecia antes. Ocorre que nem mesmo as bandeiras tarifárias têm
conseguido cobrir o rombo atual.
Após
analisar as projeções de geração de energia e os custos previstos -
incluindo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e
da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) -, a área
técnica da agência reguladora concluiu que, até abril de 2022, as
"melhores estimativas" apontam para um rombo de RS 13 bilhões, "já
descontada a previsão de arrecadação da receita da bandeira tarifária
patamar escassez hídrica no período", ou seja, o nível mais alto de
cobrança da taxa extra.
O
acionamento de tudo quanto é usina térmica no País não é o único fator
que explica o rombo financeiro do setor elétrico e que terá de ser
quitado pelo cidadão. Outra fatura estimada em mais R$ 9 bilhões que
será paga pelo consumidor tem origem nas contratações "simplificadas" de
energia feitas pelo governo no mês passado. Trata-se de uma "energia de
reserva" que será entregue a partir de maio do ano que vem, para dar
mais segurança e evitar o racionamento.
Os
reajustes são puxados ainda pelo aumento de importação de energia, por
meio de contratos firmados com Argentina e Uruguai. Como os reajustes de
tarifas são feitos anualmente pela Aneel, após analisar os custos de
cada distribuidora de energia do País, o porcentual de aumento varia de
Estado para Estado.
O
aumento do preço da energia, somado à alta dos combustíveis e do gás de
cozinha, são os fatores que mais afetam a inflação no País e massacram a
renda da população, porque seus impactos são disseminados em todo tipo
de consumo, seja das famílias ou de empresas.
O Povo Online