Partido Podemos abre processo para expulsar deputado Arthur do Val


 
O partido Podemos anunciou que abriu nesta segunda-feira (7) o procedimento disciplinar interno que pode culminar na expulsão do deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei, da legenda. Na última sexta-feira (4), vieram a público mensagens de áudio enviadas pelo parlamentar nas quais ele diz que as refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres”. Ele admitiu a veracidade do material.


“A realização do procedimento é necessária para qualquer tipo de punição, em respeito à ampla defesa e ao contraditório”, diz nota enviada pelo partido. O pedido foi assinado pelas presidentes do Podemos Mulher Nacional e estadual de São Paulo, Márcia Pinheiro e Alessandra Algarin, respectivamente.


O presidente da Executiva Estadual do partido em São Paulo, Thiago Milhim, acolheu o pedido e nomeou uma comissão de ética para julgar o pedido. Ele ordenou ainda que o deputado apresente sua defesa em até cinco dias. “A mencionada postura adotada pelo deputado estadual Arthur do Val é intolerável e demonstra um problema ainda mais grave da sociedade, pois revela a discriminação de gênero oculta, que aflora quando o indivíduo se sente protegido e acobertado por outros que compartilham da mesma mentalidade retrógrada. Quando essa sensação de impunidade se estabelece, o machismo, o elitismo e o oportunismo surgem na sua forma mais repulsiva”, diz trecho do pedido.


O documento acrescenta que “o fato de tais conversas serem privadas, como por si alegado na mídia, não servem de justificativa para a conduta aqui combatida. Ao invés, somente serve para demonstrar o verdadeiro caráter do ofensor, que se revela pelas palavras ditas de forma livre quando não sob olhar público, desvelando uma discrepante distância entre aquela figura teatralizada perante o público e o partido, e um perfil hediondo de sua personalidade que agora se revela”.


“Não bastasse tudo isso, o problema é agravado diante da situação de guerra, onde milhares de mulheres ucranianas se encontram desamparadas e desprotegidas. O momento clama e exige o esforço coletivo para suporte aos ideais democráticos e auxílio assistencial à população civil, vítima do conflito. Os representantes populares devem, mais do que nunca, possuir firmes predicados de empatia, igualdade e justiça”, diz outro trecho do documento.


“Tendo em vista que o Partido Podemos luta diariamente para eliminar o abismo histórico de desigualdade de tratamento e de oportunidades entre homens e mulheres, não há condições de se adotar qualquer postura complacente diante das declarações sexistas e desrespeitosas emitidas contra mulheres em situação de vulnerabilidade extrema. Razão esta pela qual requer o Podemos Mulher, nos termos dos artigos 61 e 62 do Podemos, seja aberto procedimento ético disciplinar, com final aplicação da pena de expulsão ao filiado denunciado”, finaliza o texto.


Procurado pela CNN, o deputado disse que não quer que o partido seja “forçado” a aceitá-lo. “Eu sinceramente nem pensei nisso [no processo disciplinar]. Eu fiquei tão preocupado com esse negócio de recuperar minha namorada, recuperar minha saúde mental. Agora, assim, eu não vou forçar o partido a me aceitar, de jeito nenhum. Não pretendo fazer isso. Eu não quero que o partido seja forçado a me aceitar lá dentro. Se o partido não me quer, eu saio. É que eu sinceramente não tive tempo para pensar sobre isso”, respondeu.


Entenda o caso
Do Val foi para a Ucrânia na semana passada para, segundo ele, “ver o que está acontecendo ‘in loco’”, durante a invasão do país pelas forças russas, lideradas pelo presidente Vladimir Putin. Ao sair do país, enviou mensagens de voz nas quais faz comentários sexistas sobre as refugiadas ucranianas. “É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo se você dá bom dia elas ‘iam’ cuspir na tua cara. E aqui elas são supersimpáticas, super gente boa. É inacreditável”, disse.


No sábado (5), ao desembarcar no Brasil, ele reconheceu a veracidade dos áudios e pediu desculpas pelos conteúdos vazados. “Foi errado o que falei, não é isso que eu penso. O que falei foi um erro num momento de empolgação. Pelo amor de Deus, gente, a impressão que está passando é que cheguei lá e tinha um monte de gente e falei ‘quem quer vir comigo aqui que eu vou comprar alguma coisa?’. Não é isso, nem poderia. Inclusive nos áudios, de modo jocoso, informal, falo que não tive tempo de fazer absolutamente nada. Nem tempo para tomar banho, estou há três dias sem banho”, disse.


CNN Brasil

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