Entenda a acusação contra homem suspeito de matar comerciante por declarar voto em candidato a prefeito

 Pichações em muros de Caucaia ameaçavam eleitores do então candidato Vitor Valim (Pros) duran...

As ameaças contra eleitores feitas por facções criminosas em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza) durante as eleições municipais de 2020 teriam culminado na morte de Humberto Gomes de Oliveira, de 49 anos, conforme concluíram Polícia Civil e Ministério Público Estadual (MPCE). De acordo com as investigações, o crime teve como motivação o fato da vítima ter manifestado apoio ao então candidato Vitor Valim (Pros), contrariando determinações da facção Comando Vermelho (CV).

O crime foi registrado no dia 18 de novembro de 2020, por volta das 21h44min, no bairro Itambé. Humberto foi morto com seis tiros de pistola .40 no momento em que estava em um bar. O MPCE denunciou dois homens pelo crime, mas a Vara Única do Júri da Comarca de Caucaia, em decisão do último dia 22 de abril, aceitou a acusação apenas contra Francisco Jonas Rodrigues da Silva. O juiz Carlos Eduardo de Oliveira Holanda Junior disse não haver provas suficientes contra Jorge da Silva Filho, apontado como chefe da facção no bairro e mandante do crime.

“A vítima Humberto Gomes de Oliveira trabalhava em uma tapiocaria, era pessoa honesta, não tinha desafetos, nem ostentava qualquer antecedente criminal”, afirmou o MPCE na denúncia. “Apesar disso, em síntese, ele foi assassinado por expor publicamente que apoiava o então candidato a prefeito Vitor Valim, no período em que os criminosos já estavam promovendo ameaças de morte contra os eleitores do político, o qual defendia em suas pautas trabalhar contra o crime organizado em Caucaia”.

Durante todo o período eleitoral, ameaças a eleitores de Vitor Valim foram registradas no Município, seja em pichações em muros da cidade, seja em “salves” nas redes sociais. No celular de Francisco Jonas, perícia encontrou uma dessas mensagens com ameaças, datada de 18 de novembro: “De ante mão, viemos informar a todos moradores da Caucaia que quem nós descobrir que votou no Vitor Valin vai morrer” (SIC), dizia trecho do “salve”.


A mensagem ainda citava os nomes de outros candidatos a prefeito e a vereador do município como "pessoas que estamos de olho e se vacilar vamos pegar sem pena". Entre elas, estavam os candidatos a prefeito Emilia Pessoa (PSDB), Elmano Freitas (PT), Rodrigo Santaella (Psol), Sebastião Conrado (PMB), João Ary (PMN) e Paulo Sérgio Cordeiro (PCdoB).

Humberto, conforme depoimento de testemunhas, costumava atacar facções criminosas em conversas que tinha em público, assim como declarava voto em Vitor Valim. De acordo com o inquérito policial, a única motivação para o crime levantada pelos moradores foi o voto da vítima.

Conforme afirmou um de seus familiares em depoimento: “A rotina da vítima consistia em trabalhar durante o dia e a noite permanecia em casa, e, aos fins de semana, após o trabalho, a vítima ia aos bares da redondeza [...] a vítima não era violenta, não tinha inimigos, não fazia uso de entorpecentes e nem integrava facção criminosa, e que ela tinha a mentalidade de ‘mudar o mundo’ e tinha o sonho de que as facções criminosas fossem extintas e não consegue ver outra motivação para o crime senão a questão de HUMBERTO ter demonstrado publicamente ser eleitor de VITOR VALIM”.

A moto usada no crime foi encontrada na casa de Francisco Jonas. Ele, porém, negou participação no crime. Conforme afirmou em depoimento, pessoas, que ele preferia não dizer quem são, ordenaram que ele guardasse o veículo. O acusado também disse não integrar nenhuma facção criminosa e que era pedreiro.

A delegada Patrícia Vieira Sena afirmou, no relatório que indiciou Francisco Jonas, que as declarações do acusado divergiam do que a Polícia encontrou no celular dele. Em uma conversa no celular, por exemplo, ele pede a um homem não identificado para que buscasse a moto, pois uma parente estava “nervosa” após o crime. “Eu saí na moto, ela escutou os 'tiro', ela viu eu voltando, né, má, entendeu?”.

Em outra mensagem, Francisco Jonas também fala que apenas foi deixar a moto usada no crime. "Não 'foi' eu, fui só deixar a moto [...] Porque quando a gente deve favor os outros, né, má, aí quando precisa tem que definir, má”. Além dessas mensagens, a Polícia encontrou no celular de Jonas fotos dele fazendo gestos em alusão ao CV, assim como constatou a participação dele em um grupo de integrantes da facção.

Francisco Jonas está foragido. A Defensoria Pública chegou a pedir a revogação da prisão preventiva dele argumentando tratar-se de réu primário, que possui residência fixa, trabalho lícito e que não se recusa a contribuir com a Justiça. A Justiça negou o pedido em 25 de maio último.
Homicídio que também teria motivação política tem inquérito arquivado

Outros crimes ocorridos durante o período eleitoral de 2020 em Caucaia foram relacionados ao veto de facções criminosas a candidatos do pleito. Entre eles está o assassinato de Clenilton Oliveira da Silva, de 22 anos, em 27 de outubro daquele ano, no bairro Padre Júlio Maria. A investigação do caso, porém, foi arquivada em 2 de março deste ano sem que nenhum suspeito tenha sido identificado.

Clenilton trabalhava na campanha do então candidato Vitor Valim e já havia tido a casa pichada com ataques à candidatura. Algumas testemunhas afirmaram que a motivação do crime foi política, mas outros depoimentos afirmavam que o motivo estaria vinculado ao envolvimento da vítima com “más companhias”.

“Importa ressaltar a dificuldade em obter informações relevantes para solucionar o crime, haja vista a comunidade ser dominada pela organização criminosa do Comando Vermelho, inclusive, na ocasião houve recusa em receber o cartão disque denúncia”, afirmou o Ministério Público Estadual (MPCE) na manifestação que pedia o arquivamento. 



(O Povo)

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