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"Tô me sentindo lesada porque eu tinha muita paixão mesmo. Eu postava no meu Instagram participando das coisas da empresa, atingia as metas, trabalhei em todas as palestras à noite, às vezes ficava até mais tarde para assistir e estudar, e sou uma funcionária que eles não têm o que reclamar. Não existe outro motivo para isso."
A assessoria jurídica da Febracis no Ceará informou que desconhece o fato, já que a empresa onde teria ocorrido o caso é uma franquia independente, com administração própria. Disse ainda que preza "pela liberdade de orientação política e demais formas de expressão".
Após a demissão, a ex-funcionária publicou um desabafo no perfil dela no Instagram. Na postagem, ela disse estar muito tranquila e de consciência limpa, dado que não fez nada de errado.
"O meu erro ali, ao ver deles, é escolher o diabo, porque eles falaram que esta eleição é espiritual, uma batalha espiritual, entre Deus e o diabo. Bolsonaro está do lado de Deus, e o Lula, do lado do diabo. E como eu me posicionei contra o Bolsonaro, eles automaticamente deduziram que me posicionei a favor do Lula", falou na gravação.
Cotidiano
Na empresa desde julho deste ano, Tainara trabalhava na filial do Espírito Santo, promovendo vendas por telefone e presencialmente, em dias de cursos promovidos pela instituição. A rotina de trabalho contava, também, com atividades matinais, como uma oração e um exercício de ativação de recurso — ação da área de coaching —, mas passou a incorporar outras atividades, como a de escutar discursos com teor politizado.
Segundo a ex-funcionária, a empresa passou a pontuar, "de forma leve", posicionamentos políticos desde a campanha pelo primeiro turno no núcleo dela. "Ela falava do posicionamento dela, mas não tava impondo que os funcionários votassem no Bolsonaro", relatou.
Nesse ínterim, a diretora da instituição, Karla Frazão, discursava ressaltando posicionamentos da empresa na sala de trabalho, na qual setores como financeiro, comercial e administrativo trabalham em conjunto, apontou a ex-funcionária. Além disso, a Febracis enviava informativos com links para lives do Bolsonaro, pedindo participação dos colaboradores.
No entanto, segundo ela, no segundo turno, a promoção de Bolsonaro "começou a se intensificar", inclusive em reuniões com os trabalhadores. "Ela [a empresa] começou a exigir um posicionamento dos funcionários, foi empurrando o posicionamento político deles", afirmou, dizendo, ainda, que passou a sentir mais pressão nesta semana.
"Ela [a diretora da empresa] falou que quem não se posicionou ou está em dúvida, já escolheu um lado."
Ainda segundo a consultora de vendas, a diretora apontou que a empresa fecharia caso o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhasse. Na ocasião, Tainara questionou o assunto, apontando que a Febracis já existia no governo petista, e a diretora a mandou estudar a história da companhia.
Isenção
Dadas as ações de teor político adotadas pela instituição internamente, Tainara preferiu se manter reservada quanto à sua posição ao longo do tempo.
"Não me posicionei porque eu não queria falar de política dentro da empresa, e durante todo esse tempo me mantive calada, porque eu amava meu trabalho, meu propósito na empresa", disse.
"Sempre sorria, as pessoas ao redor sabiam, me viam postando sobre a empresa no Instagram. Sempre bati metas, não chegava atrasada, todos os funcionários que trabalham lá viam", salientou, dizendo que, apesar disso, o ambiente passou a ficar distinto.
"Este mês, com tudo isso acontecendo, todo mundo começou a ficar num clima meio ruim", relatou, dizendo que, na segunda-feira (24), começaram a vazar conversas de supervisores da empresa indicando que haveria demissão em que não votasse em Jair Bolsonaro.
Além de Tainara, outras três pessoas foram demitidas da empresa nesta semana, apontou a ex-funcionária. "E eu nem me posicionei a favor do Lula", ressaltou dizendo que, no primeiro turno, não votou em nenhum dos dois candidatos e que, no domingo (30), justificará o voto.
(g1)