Lula vence o segundo turno e volta para o terceiro mandato de presidente

 Lula  — Foto: Eraldo Peres/AP

O resultado foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 19h57, quando 98,81% das urnas já tinham sido apuradas. Àquela altura, o petista tinha 50,83% dos votos válidos e não poderia mais ser alcançado pelo atual presidente. Essa é a menor diferença percentual a favor do ganhador desde que as eleições livres foram retomadas, em 1989.

Bolsonaro é o primeiro ocupante do Planalto a fracassar na tentativa de ser reconduzido ao posto. Ao longo da corrida, o governo lançou mão de diversas medidas para aumentar a popularidade e tentar ampliar as chances de reeleição.

Uma delas foi a chamada "PEC Kamikaze". Aprovada em julho, a Proposta de Emenda à Constituição possibilitou a criação de um pacote de benefícios sociais, ao driblar a lei que proíbe criar despesas em ano eleitoral. A medida permitiu, por exemplo, o aumento do Auxílio Brasil (de R$ 400 para R$ 600) e do vale-gás. Também implantou uma ajuda a caminhoneiros e taxistas. Esses repasses, no entanto, valem só para 2022.

Lula, de seu lado, apostou na construção de uma "frente-ampla" que reuniu também ex-adversários políticos: o vice de sua chapa atual é Geraldo Alckmin (PSB) – os dois foram concorrentes no pleito de 2006.

Na mesma linha, enquadra-se o apoio declarado por economistas que criaram o Plano Real (Armínio Fraga, Edmar Bacha, Pedro Malan e Persio Arida). O petista contou ainda com auxílio de candidatos derrotados no primeiro turno das eleições 2022, realizado em 2 de outubro, como Simone Tebet (MDB).

Torneiro mecânico, líder sindical e membro fundador do PT, Lula é o primeiro ex-presidente a voltar ao cargo (relembre a trajetória). Ele governou por dois mandatos, entre 2003 a 2010 – o terceiro começa em 1º de janeiro de 2023. Depois que deixou o Planalto, foi sucedido por Dilma Rousseff (PT), que esteve à frente do Executivo entre 2011 e 2016, quando sofreou impeachment.

Desta vez, o petista terá quatro dias a mais para governar o país – uma reforma eleitoral aprovada em 2021 definiu que, em 2027, a posse presidencial será em 5 de janeiro.

Após a confirmação do resultado neste domingo, Lula foi comemorar com aliados e simpatizantes na Avenida Paulista, em São Paulo.

Ao votar na manhã deste domingo, em São Paulo, Lula disse que a eleição definiria o "modelo de Brasil" para os próximos anos. Classificou este como o dia mais importante da vida dele.

"Hoje, possivelmente, seja o dia 30 de outubro mais importante da minha vida. E acho que é um dia muito importante para o povo brasileiro porque hoje o povo está definindo o modelo de Brasil que ele deseja, o modelo de vida que ele quer", declarou o agora presidente eleito.

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Disputa voto a voto

A campanha do segundo turno durou quatro semanas. Lula e Bolsonaro percorreram o país em busca dos votos dos eleitores indecisos ou que tinham votado em outros candidatos no primeiro turno.

Em um cenário de forte polarização, Lula e Bolsonaro travaram uma "guerra santa" em busca de votos de fiéis religiosos, trocaram acusações de fake news e protagonizaram um disputa de popularidade com apoios de artistas e recordes de audiência em podcasts e emissoras de TV.

Chapa Lula-Alckmin

O vice-presidente eleito é Geraldo Alckmin (PSB), político que detém o recorde de maior tempo à frente do governo estadual de São Paulo – maior colégio eleitoral do país – desde a redemocratização.

A improvável aliança entre Lula e Alckmin foi confirmada em abril, poucos meses após o ex-governador deixar o PSDB, partido que ajudou a fundar e ao qual foi filiado por 34 anos. A campanha de Bolsonaro chegou a explorar a antiga rivalidade entre os políticos, mas não conseguiu reverter o resultado das urnas.

Ao longo da campanha, Alckmin agiu para reduzir a resistência de empresários e investidores à campanha de Lula. A ideia era sinalizar que um eventual terceiro governo Lula seria moderado, com viés de centro-esquerda e não buscaria “vingança” pela sequência de derrotas enfrentada pelo PT em anos anteriores.

Os últimos 12 anos

Ao fim do segundo mandato, em dezembro de 2010, Lula se preparava para entregar a faixa à sucessora Dilma Rousseff (PT) com uma aprovação recorde: 80% consideravam o governo bom ou ótimo, segundo o Ibope, e 87% avaliavam bem o próprio presidente.

Os anos seguintes, no entanto, seriam difíceis para o PT. Dilma se reelegeu em 2014 por uma margem apertada, com a pressão de uma crise econômica, e não chegou a concluir o segundo mandato – interrompido por um impeachment confirmado no dia 31 de agosto de 2016.

Em abril de 2018, Lula se tornaria o primeiro presidente pós-ditadura militar a ser preso, e o primeiro da história do país a ser preso por crime comum. O político tinha sido condenado em duas instâncias – em julho de 2017 e, depois, em janeiro de 2018 – por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

Lula passou 580 dias preso e só foi solto em novembro de 2019, quando o STF reviu o entendimento da prisão em segunda instância e determinou que os réus do país tinham direito a recorrer em liberdade até o trânsito em julgado.

Enquanto estava preso, Lula chegou a se apresentar como candidato para as eleições de 2018, mas foi obrigado a ceder espaço para Fernando Haddad – que chegou ao segundo turno, mas foi superado por Jair Bolsonaro no que seria a única derrota do PT em eleições presidenciais no século 21, até o momento.

Em março de 2021, o ministro do STF Luiz Edson Fachin anulou as condenações de Lula impostas pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Operação Lava-Jato. A decisão foi confirmada pelo plenário e, com isso, Lula hoje não tem qualquer condenação judicial. 

 

G1

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