Cuidados paliativos não são sinônimo do fim da vida; entenda a especialidade

 Quadro clínico de Pelé é estável(foto: Santos FC/ Divulgação)

O ex-jogador Pelé, tricampeão mundial da Seleção Brasileira de futebol, não está mais respondendo ao tratamento de quimioterapia para o câncer de cólon e segue agora em cuidados paliativos exclusivos. A notícia trouxe a especialidade médica ao debate. Afinal, o que são os cuidados paliativos?

Os cuidados paliativos são prestados por uma equipe interdisciplinar, por isso envolvem médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, capelães e voluntários, por exemplo. "Esses cuidados podem complementar e ampliar os tratamentos da doença ou podem tornar-se o tratamento principal do cuidado", explica Bruno Cavalcante, especialista em Clínica Médica e professor de Medicina na Unichristus.

"Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente e seus familiares diante de uma doença que ameace a vida", continua Cavalcante, que também é preceptor da residência de Clínica Médica na Santa Casa. "Nesse cenário, são indicados para qualquer diagnóstico, com qualquer prognóstico, seja qual for a idade e a qualquer momento da doença."

Ainda que o câncer seja a doença mais associada à assistência paliativista, toda doença com maior potencial de ameaça à vida deve estar em foco: doenças neurológicas, cardíacas, pulmonares, doenças genéticas limitantes e progressivas etc.

"O cuidado paliativo não é um remendo quando não se tem mais o que fazer. A gente tem sempre muito o que fazer. É estar com o paciente caso a cura aconteça, mas também estar junto pensando em quais estratégias podem aliviar o sofrimento — que pode ser físico, psicossocial, espiritual, existencial." Júlia Shioga, psicóloga paliativista

Júlia Evangelista Mota Shioga é psicóloga paliativista e chama a atenção para o fato de que "os cuidados paliativos dizem respeito a uma abordagem de cuidados ampliados". "É fundamental assistir a pessoa em sua perspectiva física, psicológica, social e espiritual, assim como incluir a família e a rede de apoio que acompanha o paciente", explica.

"É muito importante desconstruir a ideia de que eles só começam quando o paciente está na fase final de vida", ressalta. "Quanto antes os cuidados paliativos começarem a atuar, mais condições teremos para abordar mais temas importantes para cada pessoa e mais chances de assisti-lo em suas necessidades. Nosso foco é no alívio de todo e qualquer sofrimento."

Ela explica que "a importância se faz cada dia maior, considerando que estamos passamos por uma transição epidemiológica e demográfica". Se há algumas décadas as pessoas morriam mais jovens e por doenças agudas, agora contamos com envelhecimento populacional e, com isso, o desafio de lidar e cuidar de doenças crônicas por mais tempo.

"Assim, tecnologias do cuidado, como os cuidados paliativos, se fazem necessárias para que tenhamos uma proposta terapêutica que realmente beneficie o paciente, que realmente traga mais qualidade de vida e não quantidade de vida", completa a psicóloga.

Os cuidados paliativos também abordam o enlutamento que acontece antecipadamente à morte do paciente. Isto porque as perdas podem ser muitas e requerem suporte para que tanto paciente, quanto cuidadores enfrentem de maneira sustentável as etapas da doença.

Calvante completa avaliando que no Ceará tem "excelentes serviços de paliação, tanto no serviço público, quanto no privado". Entretanto, "ainda faltam expandir mais, principalmente para os hospitais menores e serviços de saúde do Interior". "Outro ponto é educação sobre o tema, que precisa ser mais difundida para os profissionais de saúde e para a população de forma geral", diz.

Segundo o Ministério da Saúde, os cuidados paliativos seguem alguns princípios:

  • Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes;
  • Reafirmar vida e a morte como processos naturais; 
  • Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente; 
  • Não apressar ou adiar a morte;
  • Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte;
  • Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente; 
  • Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.

O Povo 

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