Idosos estão em 80% das mortes por Covid em 2022, mas 270 mil permanecem com vacina atrasada no CE

Foto: Thiago Gadelha


O cruel contador da Covid está numa velocidade menor devido à vacinação, mas ainda aponta com intensidade para os idosos: 80% das mortes pela doença foram de pessoas acima de 60 anos, em 2022, no Ceará. Isso acontece enquanto mais de 200 mil estão com o calendário vacinal atrasado.

Foram 2.152 vidas perdidas para o coronavírus neste ano e, dando uma dimensão da seriedade do cenário, 1.708 destas vítimas eram idosas. A situação foi ainda mais delicada para quem tinha mais de 80 anos — com 985 pacientes não resistindo à doença.

E a principal estratégia para evitar essas mortes, que é a imunização, foi deixada de lado por 274 mil idosos que receberam a 3º dose, mas ainda não voltaram para tomar a 4ª etapa desta proteção que está disponível desde maio no Estado.
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Os dados são do Vacinômetro e do IntegraSUS, que são duas plataformas da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) para acompanhar o avanço da doença no Estado, atualizadas nesta terça-feira (20) e segunda (19), respectivamente.

Esse contexto visto nos números lembram para o cuidado com os mais velhos para o esquema vacinal completo ou “dever de casa”, como define Edson Teixeira, imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"A gente reconhece que as pessoas que completaram os esquemas vacinais, com os reforços, raramente precisam de uma atenção hospitalar ou desenvolvem formas graves mesmo sendo idosos", atesta.

Christianne Takeda, infectologista do Hospital São José, também nota essa realidade no dia a dia de atendimento aos pacientes. Idosos e pessoas com sistema imunológico frágil, muitas vezes, nem precisam de internação.

“Quando a gente olha para os pacientes que estão internados, vemos o inverso. Ou pessoas que não tomaram a vacina de forma alguma ou as que não fizeram o esquema vacinal completo com as 4 doses”, analisa.

Isso porque a vacina fortalece a proteção natural, que é mais frágil nos idosos e cai após alguns meses do recebimento da dose, como contextualizam os especialistas. Esse período, com as festas de fim de ano e a proximidade da quadra chuvosa, favorece à contaminação.


“É importante que nós comecemos a nos organizar para a aplicação de uma dose de reforço desses idosos que receberam a mais de 6 meses esse imunizante", detalha o especialista.

Outro fator que alerta para manter o calendário vacinal em dia está no surgimento de variantes e subvariantes mais transmissíveis da Covid. Por isso, as fórmulas dos imunizantes são atualizadas com esses novos vírus, que são as vacinas bivalentes.

    É muito importante, também, que o Brasil tivesse feito o seu papel de comprar e disponibilizar essas vacinas que já estão em dezenas de outros países sendo administradas nessa população idosa, inicialmente, e depois para todos os indivíduos

Ainda não há uma perspectiva de quando as vacinas bivalentes estarão disponíveis nos estados brasileiros, porque as doses ainda passam por uma análise no Ministério da Saúde (MS).

Em relação à 5º dose, a Sesa informou que não há comunicação do Ministério da Saúde para o envio e recomendação do novo reforço contra a Covid. "No entanto, à medida em que a cobertura vacinal contra a Covid-19 avance no país, o MS tende a considerar a ampliação dos públicos elegíveis para o terceiro reforço", ponderou.

"A Sesa tem concentrado esforços junto aos municípios para o aumento do percentual de aplicação das duas doses de reforço da vacina contra a Covid-19", completou a Secretaria. Capitais como São Luís, Natal, Recife, Rio de Janeiro e Belém já deram início à vacinação com a 5ª dose.
Proteção constante

Raimunda Gomes, de 82 anos, recebeu todas as doses devido ao cuidado da filha Rosa Regina Cardoso Gomes, de 55 anos. O problema cardíaco e a idade da mãe são motivos a mais para cumprir as orientações.

“Sempre tive muita atenção com relação a isso para que, pontualmente, ela fosse vacinada. Eu tinha um pânico por ela ser idosa e ter comorbidade", compartilha a professora. E tanta atenção tem resultados positivos.

    Se tiver a opção de uma outra dose, para fortalecer o que ela já vem tomando, com certeza eu acho que deveria ter. Graças a Deus, até essa 4ª dose, nunca pegamos a doença

    Professora


As máscaras e o álcool em gel voltaram a fazer parte do cotidiano de mãe e filha, que ficaram 1 ano e meio em isolamento durante a pandemia. As missas e os outros encontros sociais que frequentam são feitos com esse tipo de prevenção.

Mas Rosa teme pelo risco que pessoas não-vacinadas, como as que têm contato no trabalho, por exemplo, representam. "Não sei se devido ao negacionismo que tomou de conta da sociedade, mas realmente é muito preocupante quem ainda é resistente à vacinação dos idosos", analisa.
Sinais de alerta

Quem cuida de idosos devem estar alerta a alguns sinais e sintomas para evitar o avanço da doença, como indica Edson Teixeira.

"É preciso ficar com uma atenção maior com os sinais de alerta, seja febre ou falta de ar. Deve-se observar, fazer o teste depois de 3 ou 4 dias, isolamento e acompanhar o estado vacinal desse idoso", recomenda.

O teste, inclusive, ganha maior relevância neste período de circulação intensa de outros vírus respiratórios, como a influenza. “Como no começo não conseguimos dizer se é gripe ou Covid, fica mais difícil saber sem fazer o teste”, acrescenta Christianne.


Por isso, as medidas conhecidas de uso de máscaras adequadas — como PFF2 e cobrindo nariz e boca — além da higienização são imprescindíveis.

“Se estiver gripado, e precisa visitar uma mãe de idade, o ideal é melhorar e daí então visitar os familiares do grupo de risco. Se um idoso apresenta sintoma gripal, é levar num posto de saúde ou numa emergência”, exemplifica a infectologista.

A especialista indica que o atendimento médico inclui, inclusive, o remédio usado em pacientes com sintomas leves da Covid. O Paxlovid, inclusive, é priorizado para idosos.

 

 

(Diário do Nordeste)

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