Vizinhos da Arena Castelão reconhecem melhorias, mas citam problemas sem solução oito anos após a Copa do Mundo de 2014

Imagem da arena espelhada em água de esgoto que corre a céu aberto na Rua Crisanto Arruda — Foto: Paulo Martins/g1 CE
Foto: Paulo Martins/g1 CE

 

Com o fim do mundial no Brasil, o maior palco do futebol no Ceará, com capacidade para até 63 mil pessoas, continua a receber partidas tanto de torneios locais, regionais e nacionais – como Campeonato Cearense, Copa do Nordeste e Brasileirão – como também de competições internacionais, graças às participações recentes de Ceará e Fortaleza em jogos da Copa Sul-Americana e da Taça Libertadores da América.

No entanto, algumas ruas do entorno do estádio seguem com problemas quase uma década depois do último mundial realizado no país.

A rua onde o asfalto nunca chegou


Percorrendo os arredores da Arena Castelão, o g1 encontrou ruas sem asfalto e com esgoto a céu aberto.

Uma delas é a Rua Paulo Façanha, separada da Arena Castelão apenas por uma avenida: a Alberto Craveiro. A rua é um exemplo de que a tão esperada mudança, pelo menos para esses moradores, ainda não chegou. Enfeitada com bandeirinhas do Brasil, pinturas no chão de cimento e nos muros, o logradouro onde há 25 anos vive o motorista de aplicativo Adriano Mota parece ter sido esquecido, na opinião do morador.

    "A mudança boa que teve para nós de 2014 para cá foi o alargamento da Avenida Alberto Craveiro (principal via que dá acesso ao Castelão), mas na rua aqui não tem saneamento. Durante as obras da Copa vieram algumas pessoas ver umas rachaduras que apareceram nas casas, tiraram fotos, mas em prol da Rua Paulo Façanha não tem nenhum benefício", desabafa o jovem enquanto o vizinho usava uma vassoura para tentar escoar uma poça de lama parada na frente de casa.

A insegurança foi outro problema relatado por Adriano. Segundo ele, moradores são constantemente vítimas de assalto ao sair para o trabalho pela manhã. "E é porque dentro do estacionamento tem um órgão da polícia, mas não funciona, pelo menos para nós não", reclama.


Apesar dos problemas, o motorista organizou a cota entre os vizinhos para enfeitar a rua e torcer pelo Brasil na Copa deste ano no Catar.

"Toda Copa a gente faz a nossa parte aqui enfeitando a rua. Esperamos que o Brasil faça a parte dele. Esse é o ano que a gente tá com mais esperança. Esse pode ser o último ano do Neymar, então estamos sim confiantes no hexa", completa.

Sobre a segurança, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) informou que o patrulhamento no entorno da Arena Castelão é realizado 24h por dia pelo Policiamento Ostensivo Geral (POG), Força Tática (FT) e por postos de policiamento a pé do 6º Batalhão Policial Militar (6ºBPM). Denúncias que possam levar à captura de suspeitos na região podem ser feitas pela população por meio do telefone 190 ou 181.

"A área conta ainda com o reforço do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRAIO) e Comando de Policiamento de Choque (CPChoque), que intensificam a segurança nos locais e momentos de maior necessidade", esclareceu a PM.

Crescimento do comércio


Com uma loja de materiais de construção instalada na Avenida Alberto Craveiro, principal corredor que leva os torcedores à arena, a comerciante Gláucia Carlos, que mora no bairro há 40 anos, vê com otimismo o legado deixado pela Copa, apesar de reclamar da insegurança.

    "Com certeza mudou muita coisa, a começar por esta avenida que foi alargada, muitos comércios foram abertos como churrascarias, depósitos e outros estabelecimentos. Pena que a segurança só ficou na época da copa. Hoje em dia tem muito assalto nas paradas de ônibus", revela.

A comerciante questiona a falta de mais postos de saúde, já que, segundo ela, o bairro conta apenas com uma unidade para atender toda a população. "Além disso acho que deveriam colocar mais segurança aqui e não somente nos dias de jogos no Castelão, que sempre tem o policiamento reforçado", pede.

Já do outro lado da arena, na Professor José Silveira, que fica paralela à Avenida Paulino Rocha, onde estão localizados acessos às arquibancadas e à bilheteria do estádio, mora o representante comercial de 45 anos, Emerson Freitas.

A casa onde ele mora fica numa vila que dá de frente para um condomínio residencial com duas torres de 14 andares cada, construída após a Copa de 2014. Na visão do empresário, nessa área as obras ligadas ao torneio trouxeram muitas melhorias.

"Anteriormente a rua não tinha asfalto, com muito buraco, o saneamento era precário. Aqui da casa onde moro é cerca de 300 metros da calçada do estádio, e o que eu percebo é que a coleta seletiva acontece com mais frequência. Houve uma certa valorização também. O lado ainda negativo são os assaltos", pondera.

Na Avenida Alberto Craveiro vive a manicure Maiara Rodrigues, moradora do bairro há dez anos. Enquanto aguardava clientes no salão de beleza onde trabalha, ela conversou com a reportagem do g1 sobre a insegurança e a falta de equipamentos de lazer no bairro.

"Seria bom a instalação de novos equipamentos para lazer das crianças, não está 100%. Nossos filhos têm dificuldade em ter acesso a esse CFO (Centro de Formação Olímpica) para praticar esporte ou ter um lazer", disse ela, sem deixar de destacar as melhorias na avenida principal e elogiar a construção de um campinho de futebol ao lado do estádio para uso da comunidade.

Manutenção da arena


A Secretaria do Esporte e Juventude (Sejuv) informou que realiza manutenções periódicas na Arena Castelão, como troca de cadeiras danificadas pós-jogo, manutenção do sistema a vácuo, manutenção dos geradores, troca de iluminação convencional, troca do gramado, manutenção em postas, manutenção em piso, entre outros.

Sobre o uso do Centro de Formação Olímpica (CFO) pela comunidade, a Sejuv afirmou que o acesso às atividades se dá por meio de edital público lançado frequentemente em seu site e nas redes sociais, ou ainda por inscrição direta nos canais de comunicação dos parceiros do CFO.


(g1)

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