Foi por volta das 4h45min do domingo, 14, que os órgãos de segurança
receberam as primeiras informações de que disparos haviam sido efetuados
dentro da Delegacia Regional de Camocim (Litoral Oeste do Estado).
Instantes depois, policiais militares iriam deparar-se com os corpos dos
quatro policiais civis mortos pelo inspetor Antônio Alves Dourado, de 44 anos.
Esses e outros detalhes da chacina de Camocim estão presentes no Auto de Prisão em Flagrante (APF) do inspetor Dourado, ao qual O POVO
teve acesso. Conforme o documento, o suspeito do crime chegou à unidade
em sua moto carregando um botijão de gás. Valendo-se do utensílio,
Dourado pulou o muro da parte de trás da delegacia, onde há um terreno
baldio.
A delegacia estava trancada, mas o inspetor tinha a chave e, com
isso, conseguiu surpreender os colegas que descansavam após lavrar um
flagrante. As primeiras vítimas foram os escrivães Francisco dos Santos
Pereira, 47 anos, e Antônio José Rodrigues Miranda, 33 anos, e o
inspetor Gabriel de Souza Ferreira, 36 anos. Eles estavam dormindo em
redes, dentro do alojamento da delegacia, localizado na parte de baixo
do prédio.
Em seguida, o escrivão Antônio Cláudio dos Santos, 46 anos, foi
alvejado pelas costas, após pular da varanda da parte de cima do prédio
para a garagem, em uma tentativa de escapar dos disparos. Cláudio chegou
a quebrar um braço na queda, "o que impossibilitou qualquer tentativa
de reação", descreveu Relatório de Local de Crime.
Os investigadores também constataram que as armas longas utilizadas
na Delegacia foram retiradas de onde eram guardadas (estavam em cima da
mesa do delegado) e que, possivelmente, seriam utilizadas pelo inspetor
para fazerem mais vítimas, assim como o botijão de gás. O relatório
ainda diz que os verdadeiros alvos da ação de Dourado eram os gestores
da Delegacia, e não as vítimas.
Após praticar o crime, Dourado fugiu usando uma viatura da própria
delegacia. Posteriormente, o veículo foi deixado em uma unidade de saúde
e o inspetor foi para a própria casa. Conforme depoimentos de policiais
militares que foram acionados para a ocorrência, Dourado ligou para um
subtenente e confessou que havia sido ele quem praticou o crime. Em
seguida, Dourado disse que queria entregar-se e pediu para o PM ir
sozinho até a casa dele.
Chegando ao local, o militar encontrou o portão da casa aberto e
deparou-se com o inspetor saindo de casa algemado, o que foi feito por
ele próprio. Dourado, então, teria dito que havia "surtado". Ele também
indicou que as pistolas usadas no crime estavam no jardim de sua casa. A
esposa e o filho do policial estavam na residência no momento da
prisão.
Antes de se entregar, o inspetor gravou e postou na internet um vídeo
em que afirmava fazia descrições de supostas situações de assédio moral
pelas quais havia passado na delegacia e também diz ter sido perseguido
por superiores. Também falou que sua família não merecia passar pela
situação que ocorreu. Dourado passava por tratamento psiquiátrico e
psiquiátrico desde fevereiro de 2022.
Nesta segunda-feira, 15, ele deve passar por exame toxicológico para saber se estava sob efeito de álcool ou outras drogas no momento do crime.
(O Povo)