Homem morre após queda de mais de 1.200 m no Grand Canyon

 Homem caiu de uma altura de mais de 1.200 metros

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  • O Colorado recolhe imensas quantidades de areia e lodo que descem das Montanhas Rochosas, mas a barragem impede que praticamente tudo isso chegue ao Grand Canyon. Afluentes, como o Paria e o Little Colorado, adicionam alguns sedimentos ao rio, mas não tanto quanto o que fica preso no Lago Powell. Além disso, quando a vazão dos rios é fraca, mais sedimentos se depositam em seu leito.

    O resultado é que as praias arenosas do cânion, onde vivem animais e onde os barqueiros acampam à noite, estão encolhendo. Praias que antes eram tão largas quanto rodovias hoje são mais como estradas de duas pistas. Outras estão ainda mais degradadas.

    Além da areia, o Colorado não consegue movimentar objetos maiores pelo cânion. Pedras e rochas chegam periodicamente de centenas de afluentes e cânions laterais, muitas vezes durante inundações repentinas, criando curvas e corredeiras no rio. Com menos fluxos potentes para carregar esses detritos, mais deles estão se acumulando no leito. Isso tornou muitas corredeiras mais íngremes e estreitou as passagens para navegá-las.

  • Abaixo das pousadas e lojas que vendem chaveiros e incenso, passando por arroios e vales salpicados de arbustos de agave, zimbro e sálvia, as rochas do Grand Canyon parecem desprendidas do tempo. As mais antigas datam de 1,8 bilhão de anos – não apenas éons antes que os humanos as observassem, mas éons antes que a evolução dotasse de olhos qualquer organismo neste planeta.

  • Se passarmos tempo suficiente no cânion, podemos começar a nos sentir um pouco desconectados do tempo. Suas imensas paredes formam uma espécie de casulo, isolando-nos do mundo moderno, do sinal de celular, da poluição luminosa e das decepções. Elas nos forçam a olhar para cima, como em uma catedral.

  • Você pode pensar que está vendo até o topo. Mais acima, porém, há mais paredes, e acima delas outras mais, fora do alcance da vista, exceto por algum vislumbre ocasional. Porque o cânion não é só profundo. É largo também, chegando a quase 29 quilômetros em algumas partes. Não é uma mera catedral de pedra. É um reino: extenso, independente, uma magnífica realidade alternativa que existe além da nossa.

  • E, no entanto, o Grand Canyon permanece ligado ao presente em um aspecto fundamental. O rio Colorado, cuja energia selvagem abriu o cânion ao longo de milhões de anos, está em crise.

    À medida que o planeta esquenta, a menor quantidade de neve está matando o rio em suas cabeceiras nas Montanhas Rochosas, e as temperaturas mais altas estão roubando suas águas mediante a evaporação. Os sete estados que usam o rio estão aproveitando praticamente cada gota que ele pode fornecer e, embora um inverno úmido e um acordo recente entre os estados tenham por ora evitado seu colapso, sua saúde em longo prazo permanece uma grande dúvida.

  • O Colorado corre tão longe da borda do Grand Canyon que muitos dos 4 milhões de pessoas que visitam o parque nacional todo ano o veem apenas como um fio tênue, brilhando ao longe. Mas o destino do rio é profundamente importante para o cânion de 450 quilômetros de comprimento e para a maneira como as gerações futuras vão conhecê-lo. O uso que fazemos do Colorado já desencadeou mudanças radicais nos ecossistemas e na paisagem – mudanças que um grupo de cientistas e alunos de pós-graduação da Universidade da Califórnia, em Davis, recentemente se propôs a analisar in loco: uma lenta viagem pelo tempo, num momento em que o relógio da Terra parece estar se acelerando.

  • John Weisheit, que ajuda a liderar o grupo de conservação Living Rivers, pratica rafting no Colorado há mais de 40 anos. 'O fato de ver quanto o cânion mudou, apenas ao longo da minha vida, me deixa extremamente deprimido. Sabe como você se sente quando vai ao cemitério? É assim que me sinto. Apesar disso, eu o visito quase todo ano, porque você precisa ver um velho amigo.'

  • Eras e épocas atrás, este lugar era um mar tropical, com criaturas tentaculares, semelhantes a caracóis, perseguindo suas presas sob suas ondas. Em seguida, virou um vasto deserto de areia. Depois, um mar outra vez.

    Em certo momento, a energia das profundezas da Terra começou a empurrar uma enorme parte da crosta para cima e para o leito de rios antigos que cruzavam o terreno, processo que durou dezenas de milhões de anos. Um abismo se abriu, o qual foi unido a vários outros cânions pelas águas ao longo do tempo. O clima, a gravidade e as placas tectônicas deformaram e esculpiram as camadas expostas de pedra circundante em formas fluidas e fantásticas.

  • O Grand Canyon é um espetáculo ímpar – e também abriga um rio do qual 40 milhões de pessoas dependem para obter água e energia. E o evento que garantiu essa estranha e incômoda dualidade – que mudou quase tudo para o cânion – parece quase pequeno em comparação com todas as convulsões geológicas que ocorreram antes dele: a construção, 24 quilômetros rio acima, de uma parede de concreto.

  • Desde 1963, a represa Glen Canyon alimenta o Colorado por mais de 300 quilômetros, na forma do segundo maior reservatório dos EUA, o Lago Powell. Os engenheiros avaliam constantemente as necessidades de água e eletricidade para decidir quanto do rio deve passar pela barragem para a outra extremidade, primeiro no Grand Canyon, depois no Lago Mead e, por fim, em campos e casas no Arizona, na Califórnia, em Nevada e no México.

  • A barragem transforma o fluxo do Colorado – um fiozinho em um ano e um fluxo estrondoso no outro – em algo menos radical nas duas extremidades. Mas, para o cânion, o controle do rio tem gerado grandes custos ambientais. E, à medida que a água continua diminuindo, com a seca e o uso excessivo, esses custos podem aumentar.

  • Há alguns meses, o nível no Lago Powell estava tão baixo que quase não havia o suficiente para ligar as turbinas da represa. Se baixar mais nos próximos anos – e ao que tudo indica isso é possível –, a geração de energia vai cessar, e a única maneira de a água ser liberada da barragem será através de quatro tubulações que ficam mais próximas do fundo do lago. À medida que o reservatório vai minguando, a pressão que empurra a água por essas tubulações diminui, o que significa que uma quantidade cada vez menor pode chegar à outra extremidade.

  • Se a quantidade de água diminuir muito além disso, os canos começarão a sugar o ar e, com o tempo, o Powell será uma 'piscina morta': nenhuma gota passará pela barragem até que, ou a menos que, a água chegue aos canos novamente. Com essas dúvidas sobre o futuro do Colorado em mente, os cientistas da UC Davis prepararam botes infláveis azuis em uma manhã fria de primavera. No quilômetro zero do Grand Canyon, o rio está correndo a cerca de 200 metros cúbicos por segundo, chegando a 255. Não é o fluxo mais baixo já registrado, mas está longe de ser o mais alto.

  • O grande problema da pouca água no cânion, aquele que agrava todos os outros, é que as coisas param de se movimentar. O Colorado é uma espécie de sistema circulatório. Suas águas esculpiram o cânion, mas também o sustentam, possibilitando a existência de plantas, animais selvagens e barcos. Para entender o que aconteceu desde que a barragem começou a regular o rio, primeiro é preciso considerar as menores coisas que sua água carrega, ou deixa de carregar.

     

    R7

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