Alunas que denunciam professor da Universidade Estadual por assédio sexual

 Veja relato de ex-aluna que denuncia professor da UEG por assédio

Os casos relatados à reportagem vieram à tona após uma estudante de 24 anos ter formalizado, em junho deste ano, uma denúncia na Ouvidoria da instituição e na Polícia Civil. Em sequência, ao menos outras quatro mulheres registraram ocorrência.

À medida que os casos foram ganhando repercussão na imprensa, as ex-graduandas e uma docente da UEG se mobilizaram em um grupo para comunicar ações a serem tomadas. Atualmente, o grupo conta com 24 membros, todas mulheres que afirmam ter sido vítimas do mesmo professor.

A defesa do homem, representada pelo advogado Wilson Araújo Júnior, “nega veementemente as mentirosas acusações”. Afirma que as alegações são feitas por “pessoas que possuem algum rancor contra o acusado, especialmente por não terem sido aprovadas ou terem se sentido prejudicadas nas matérias que cursaram enquanto eram alunas dele, o que se deu, evidentemente, por pura falta de capacidade delas”.

De acordo com uma ex-aluna de Química, que iniciou o curso em 2009, aos 18 anos, seu primeiro contato com o investigado foi enquanto assistia a aula de outro professor. Ela conta que o docente entrou na sala, olhou para todos, apontou para os alunos sentados no fundo e disse que eles reprovariam na matéria dele no ano seguinte.

A vítima diz que todos acharam estranho. Não sabiam se o professor tinha falado sério ou se era brincadeira. A partir daí, ela afirma que o docente já considerava que tinha intimidade para abordar as alunas pelos corredores, mesmo sem dar aulas para elas. Quando se tornavam propriamente alunas do investigado, os assédios se tornavam mais intensos.

“Se ele visse alguma menina em alguma roda nos intervalos e nos corredores ele chegava por trás, encoxava, dava beijo no pescoço bem babado, beijo no ombro. Em sala de aula pedia para gente escrever no quadro, ficava encarando bumbum com uma cara de desejo. Fechava a gente no laboratório sozinha com ele e apalpava nosso corpo. Fora as coisas que ela falava. Ele já teve coragem de me convidar para fazer sexo a três: eu, ele e minha amiga”, relatou.

Medo e falta de apoio

De acordo com as vítimas, por mais constrangidas que estivessem, elas não conseguiam reagir aos assédios, pois entravam em choque. Depois, sentiam medo de denunciar o professor em função de sua influência e poder dentro da UEG. Elas também relatam que os crimes eram “escrachados”, ou seja, aconteciam na frente de outras pessoas, que também nunca reagiram ao presenciar as situações.

“Não tinha como a gente fazer nada. Lá todo mundo fica muito próximo, as aulas são no mesmo corredor, os laboratórios são perto. Teve uma época que ele coordenava tudo ali no curso. Não tinha como fugir dele. Todo mundo na UEG sabia e sabe do que ele faz lá”, afirma.

A UEG disse que recebeu, em junho deste ano, uma denúncia sobre um possível assédio sexual sofrido por uma aluna por parte de um professor. Afirmou que prestou todo o apoio a estudante e que abriu uma sindicância para apurar o caso.

A Universidade também enfatizou que não tolera qualquer tipo de assédio e que, se ficar comprovado, fará um processo administrativo que pode causar uma suspensão a até demissão do professor.

Perseguições

Atualmente, uma das ex-alunas tem 33 anos e trabalha como social media. Ela conta que quando ainda estava na UEG começou a namorar com um colega de curso. Diz que o professor sempre a abordava para fazer perguntas sobre sua vida sexual. Tempos depois, passou a impor dificuldades acadêmicas ao namorado dela, como se quisesse punir o rapaz pelo relacionamento.

“Ele reprovou meu namorado. Se ele implicasse com alguém era assim. Mudava os horários para atrapalhar a pessoa, corrigia diferente as provas para dar nota menor. Se alguém reclamasse, ele ameaçava”, lembra.

Hoje a social media não tem mais um relacionamento com o colega de curso, mas afirma que ele também vai depor contra o professor na polícia, pois é testemunha dos abusos.

Mais de 20 anos

O relato mais antigo foi feito por uma egressa, que foi aluna do professor nos primeiros anos dele na instituição, em 2000. Ele ingressou em 1999. Conforme ela, logo no início do curso de Química licenciatura, o docente a teria humilhado em frente à turma por conta de uma nota. “Desde a época que entrei todo mundo passou por assédio moral. Ele me fez chorar”, diz.

Outra vítima diz que via futuro no curso de Química e se enxergava atuando no mercado de trabalho. Mas diante das situações causadas pelo professor, optou por abandonar a graduação nessa área.

A expectativa geral das vítimas é que a apuração conduzida pela Polícia Civil resulte no indiciamento e, posteriormente, na condenação do professor. E que, dessa forma, os abusos morais e sexuais praticados por ele na universidade cheguem ao fim. 

G1

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