Carretéis de linha com cerol são apreendidos em quatro bairros de Fortaleza; motociclista morreu após ter pescoço cortado

Carretéis de linha com cerol são apreendidos em Fortaleza. — Foto: PMCE/Reprodução
Carretéis de linha com cerol são apreendidos em Fortaleza. — Foto: PMCE/Reprodução

 

Carretéis de linha com cerol foram apreendidos em Fortaleza, nos bairros da região da Grande Messejana. A apreensão aconteceu dias após um motociclista de 37 anos morrer por ter o pescoço cortado no Bairro Messejana — onde os carretéis foram encontrados. O material foi apreendido também nos bairros Paupina, Jangurussu e Barroso. 

O vigilante Wellington de Santos de Castro, de 37 anos, foi atingido enquanto trafegava pela rodovia BR-116. A Polícia Militar reforçou o aviso que a utilização da substância com mistura de vidro moído para empinar pipa é uma prática perigosa que pode causar ferimentos profundos na vítima.

Além das apreensões, equipes do 16º Batalhão da PMCE conscientizaram adultos e crianças sobre os perigos do uso do material. Os carretéis com a substância cortante foram encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) da Polícia Civi para a posterior destruição do material.

Uso proibido

Usar cerol, linha chilena ou outros materiais cortantes para empinar pipas e papagaios é prática proibida no Ceará. E pode terminar em tragédia. As lesões pelo contato com esta linha resultam em cortes profundos, amputações e até na morte das pessoas atingidas.

Ele levava uma passageira em corrida por aplicativo. Após o acidente, ele recebeu os primeiros socorros, mas não resistiu aos ferimentos e morreu dentro da ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Os acidentes afetam pedestres, ciclistas e motociclistas. Por circular em maior velocidade e pela dificuldade em enxergar as linhas, os mais atingidos são os motociclistas, explica o tenente-coronel Osvaldo Pereira, comandante do Batalhão de Socorro de Urgência do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará.

Os episódios costumam ser mais graves nos meses de férias escolares, como em janeiro e julho, e de maior velocidade dos ventos no Ceará, a partir de agosto e setembro. São tempos em que crianças, jovens e adultos gostam de empinar pipas ou “soltar raia”, como dizem os cearenses.

Conforme o tenente-coronel, os riscos começam para aqueles que resolvem usar as linhas cortantes para derrubar outras pipas. O cerol usa uma mistura de cola com pó de vidro ou outros materiais triturados. As linhas chilenas trazem fios ou barbantes cobertos com substância de efeito cortante.

    “Há o primeiro risco da confecção. Quem vai confeccionar aquilo corre o risco de ter um acidente, desde a aspiração do pó de vidro ao corte da sua própria mão na manipulação da linha”, exemplifica.

Outro problema pode vir do contato da linha com a rede elétrica. Os materiais cortantes tornam as linhas condutores de eletricidade, podendo resultar em descargas que atingem a pessoa que está soltando a pipa.

“Sem falar que você pode danificar uma rede inteira, sendo aí dezenas ou centenas de pessoas sem energia elétrica”, complementa o comandante.

Acidentes com feridos

Quando a brincadeira acontece em locais de ampla circulação, pessoas que trafegam pelas ruas podem ser atingidas e sofrer ferimentos, com gravidade que depende do local do corpo atingido.

    “Você pode ter de uma simples laceração (corte) até uma amputação ou corte de tendões e músculos. Sendo no pescoço, vai ter corte profundo de traqueia, epiglote, vias respiratórias, podendo inclusive cortar artérias importantes que passam no pescoço. Então são lesões de complexidade gravíssima”, afirma o tenente-coronel Osvaldo.

O que fazer depois do acidente:


    A primeira orientação em caso de acidente com linhas cortantes é chamar o Corpo de Bombeiros pelo número 193.
    O segundo passo é tentar conter a hemorragia com uma compressão no local, que pode ser improvisada com as roupas da própria vítima, por exemplo. Caso haja condições, preferir utilizar panos limpos para fazer esta compressão.
    Caso os ferimentos sejam no braço ou na perna, levantar o membro pode ajudar.
    Em caso de ferimentos no pescoço, a vítima deve tentar ficar imóvel para evitar perda de sangue. Se o barbante ainda estiver preso no corpo, a orientação é não tentar remover para evitar mais ferimentos.

“A orientação é realmente tentar conter a hemorragia com pressão direta (sobre o ferimento) e ligar para o 193”, enfatiza o comandante.

Como prevenir os acidentes


O uso do cerol, da linha chilena ou de outros materiais cortantes nas linhas de pipas e outros artefatos é proibido no Ceará pela lei estadual número 17.226, publicada no dia 12 de junho de 2020.

A legislação proíbe a fabricação artesanal, a comercialização e o depósito de linhas cortantes para uso em atividades recreativas ou com finalidade publicitária. E prevê a apreensão dos materiais de quem descumprir a lei.

A população pode denunciar a prática para a Polícia Militar por meio do número 190.

Cuidados para os motociclistas

Para os motociclistas, uma medida para evitar os acidentes é utilizar as antenas conhecidas como “corta linha”, acopladas no guidão para evitar o contato com fios ou barbantes.

No entanto, há acidentes também com pedestres e ciclistas. Como as linhas que não têm materiais cortantes também podem causar ferimentos menos graves, a dica para quem quer empinar pipa é escolher locais mais isolados, longe de vias públicas e de maior circulação de pessoas. A medida evita também os riscos de contato com a rede elétrica.

    “Elas podem utilizar campos de futebol, locais mais ermos e que não têm a passagem de pedestres, motociclistas ou ciclistas”, aponta o tenente-coronel.

Quem desrespeitar a lei estadual e utilizar as linhas cortantes pode, ainda, ser enquadrado pelo artigo 132 do código penal por expor a vida ou a saúde de alguém a perigo direto e iminente.

Em casos mais graves, como o do motociclista que morreu em Fortaleza, a ação pode ser enquadrada como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.


 (G1/CE)