'Não é todo mundo que faria o que ele fez', diz mulher socorrida por motoboy após desmaiar

Mariano e Fernanda se reencontraram nesta quarta-feira (2), doze dias após o incidente — Foto: Darlene Barbosa/TV Verdes Mares
Mariano e Fernanda se reencontraram nesta quarta-feira (2), doze dias após o incidente — Foto: Darlene Barbosa/TV Verdes Mares
 

Gratidão. É a palavra com que a cabeleireira Fernanda Almeida define o sentimento pelo entregador Mariano Pereira, que a socorreu quando ela passou mal na porta de casa. " É a palavra exata. Porque ele chegou no momento certo, poderia ter acontecido coisa pior", diz a mulher, com os olhos marejados e a voz embargada.

"Não é todo mundo que teria feito o que ele fez. Muita gente não tem empatia, não tem amor no coração. Porque empatia é isso, ajudar o próximo sem saber quem, porque pode ser você no meu lugar", disse Fernanda.

A entrega aconteceu no início da noite de 20 de julho no Bairro Limoeiro e as cenas viralizaram recentemente nas redes sociais.

Ao abrir o portão para o entregador, Fernanda informou que passava mal e que não conseguiria informar o código para confirmar a entrega no aplicativo. Ela estava em casa apenas com um filho pequeno.

"Eu consegui abrir o portão e ele conseguiu me salvar, um anjo, porque se eu tivesse batido no engate [do portão] tinha me machucado, tinha sangrado. Fiquei bastante ferida, bastante machucada. Ele foi meu anjo”, relembra a cabeleireira.

Ao g1, Mariano explica que pensou que a mulher fosse mãe da pessoa que teria feito o pedido. Enquanto ele olhava para o celular para tentar ligar para o número de celular informado no pedido, ela caiu no chão.

"Eu pensei que ela só estava meio tonta, algo normal. Quando eu olhei, ela já foi desmaiando. A única coisa que eu pensei foi em ajudar. Não pensei em outra coisa, só em ajudar mesmo. Só que, como eu não tenho muito preparo pra isso, eu tentei ligar para a ambulância, só que eu fiquei sem saber o que fazer no momento", relata.

Fernanda ficou consciente e caída no chão. Ela disse ao entregador que estava melhorando e pediu que ele não se preocupasse nem ficasse nervoso. Mariano perguntou à criança se tinha mais alguém em casa. E garantiu que não sairia dali até que a cliente estivesse bem.

"Ele disse ‘não se preocupe que eu não vou deixar a senhora sozinha’. Porque minha preocupação era meu filho, não era nem comigo, era meu filho. Ele ia chamar o SAMU e eu não deixei porque não tinha quem ficasse com meu filho", conta a mulher.

Cliente desmaia no momento em que recebia entrega e recebe ajuda de motoboy em Juazeiro do Norte, no Ceará — Foto: Mariano Pereira/Arquivo Pessoal
Cliente desmaia no momento em que recebia entrega e recebe ajuda de motoboy em Juazeiro do Norte, no Ceará — Foto: Mariano Pereira/Arquivo Pessoal


Mariano ficou com Fernanda por cerca de nove minutos. Ele conseguiu chamar vizinhos que conheciam a mulher e que o ajudaram a levantá-la e levá-la até a sala da casa.

"Graças a Deus, ela foi se recuperando aos poucos. Estava muito preocupada com o filhinho dela. E fiquei lá até aparecer alguém conhecido dela pra me ajudar. Eu não sei se isso foi a primeira vez que aconteceu com ela. O vizinho dela falou que o marido dela trabalha viajando, e ela sempre fica sozinha em casa com o bebê. E, de vez em quando, o pessoal da família dela vai lá", explica Mariano.

Depois que Fernanda foi socorrida e ficou na companhia dos vizinhos, Mariano concluiu a entrega. O pedido era uma porção de salgadinhos. Segundo o entregador, ela havia pedido o lanche porque o filho estava com vontade de comer coxinha.

O flagra em vídeo aconteceu por acaso. Fazendo entregas há pelo menos quatro anos, Mariano tem um canal no YouTube em que mostra a rotina de trabalho e conversa com os seguidores.

No dia em que socorreu a cliente, ele gravava para testar a câmera acoplada a um novo capacete que havia comprado.

Diante da situação, ele explica que não se preocupou com a rapidez da entrega. Segundo ele, o que queria mesmo era fazer a sua parte de ajudar a cliente em um momento difícil.

"Querendo ou não, uma hora ou outra, um vai precisar do outro. E nós, entregadores, estamos sempre na rua. Geralmente, é a gente que ajuda as pessoas que precisam na rua, às vezes com moto, carro quebrado, acidente", declara Mariano.

Após ver mulher desmaiar e prestar ajuda, motoboy conclui serviço e entrega lanche — Foto: Mariano Pereira/Arquivo pessoal

O entregador lembra, ainda, que as dificuldades enfrentadas no trânsito fazem com que ele entenda o quanto a rotina das pessoas é desafiadora.

"A gente tem que ser mais valorizado também. Muita gente discrimina a gente, mas é uma profissão arriscada. E tem muitos entregadores que são de coração bom, que ajudam. Porque a vida é assim, é um ajudando o outro", conclui. 

 

 

 (G1/CE)

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