Andrade afirmou que, no casso desse corpo, a identificação dependerá das investigações realizadas pela Polícia Federal, que serão cruciais na determinação de como o corpo entrou na caixa metálica. Esses dados concluirão se é brasileiro ou estrangeiro.
"Essa informação vai ser de extrema importância porque todo processo de identificação é comparativo com um arquivo, ou seja, com dados existentes de outra pessoa", disse.
Como ocorre a identificação?
Segundo o médico legista, algumas técnicas de papiloscopia [impressões digitais] são utilizadas para identificação de corpos mesmo em estado avançado de decomposição, como o caso do encontrado no contêiner. "Os traços já podem ser suficientes para identificar uma pessoa".
Uma segunda opção de método para identificação é pela arcada dentária, processo realizado por uma equipe de odontologia legal. "Você pode pegar o prontuário odontológico [dessa pessoa] e encaminhar à equipe que vai fazer a comparação dessa arcada".
O outro método utilizado, segundo Andrade, é o exame de DNA que apresenta resultados com certeza absoluta. O corpo encontrado no contêiner, por exemplo, teve a amostra de material coletado para a realização do procedimento.
Scanner da Receita Federal detectou pela primeira vez em 12 anos um corpo em contêiner no Porto de Santos, SP — Foto: Diego Bertozzi/TV Tribuna
"Possivelmente é uma pessoa que veio escondida em um contêiner, acabou falecendo no transporte por 'n' motivos [...]. Feita a extração de DNA, vamos ter o DNA daquele corpo, mas precisamos do DNA de um possível desaparecido no país de origem dele", explicou.
Além dos laudos realizados pelo IML, a PF consulta o Consulado de Marrocos para identificar se há suspeitas de quem possa ter entrado no contêiner, coleta o DNA desses familiares e envia ao Brasil para comparação.
"O trâmite só diferencia do normal pelo fato de ser de outro país, mas o processo de identificação é o mesmo realizado em corpos avançados em estado de decomposição", disse.
Exames realizados na identificação
Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande, SP — Foto: Reprodução/TV Tribuna
Andrade explicou que os procedimentos de necropsia identificam a possível causa da morte. No caso do contêiner, identificaria se foi por sufocação, homicídio ou alguma outra causa. Já o exame de DNA, identificará quem é essa pessoa, mas depende de um outro DNA para comparação.
Os dados antropométricos são fundamentais para a obtenção de dados como a largura da bacia, a existência ou não de útero, entre outros fatores que auxiliam na identificação da raça (se é asiático, africano, por exemplo), e se era homem ou mulher.
"Necrópsia, DNA e todos os dados antropométricos foram coletados [do corpo encontrado no contêiner]. O DNA sempre identifica, mas como sendo uma pessoa, um código de barras, mas precisa daquela outra pessoa previamente identificada para ter o DNA comparado", explicou.
Destino do corpo
Policia Federal aguarda laudo do IML para entender o caso do corpo encontrado em contêiner
O diretor destacou que a Vigilância Sanitária determina que um corpo não fique no IML por mais de 72 horas após a chegada.
Dessa forma, após a coleta de todos os materiais necessários, o cadáver é liberado à família para o sepultamento. Quando não há família ou confronto do DNA, ele é enterrado em uma localização identificada para, se necessário, realizarem a exumação e transferência.
Andrade explicou, ainda, que o IML tem um equipamento para refrigeração dos corpos, mas que em alguns casos, como as mortes da Operação Escudo, o local fica com superlotação. "Chega uma hora que não tem mais onde colocar e existe essa legislação sanitária de que os corpos não reclamados, mesmo que identificados, devem ser enterrados em local sinalizado".
O g1 entrou em contato com o Consulado de Marrocos, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
G1