Moradores da região oeste de Fortaleza realizaram, na manhã desta quarta-feira, 25, ato em frente à Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), no bairro São Gerardo. Com gritos de “libera”, os manifestantes cobraram do Governo do Ceará que mais de mil terrenos, inicialmente abertos à negócios com a iniciativa privada, sejam destinados para a construção de residências do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV).
Segundo os populares, a possível venda desses espaços ignora a realidade de diversos cearenses, que têm sofrido com a falta de moradia.
“Não é ilegal, mas não é razoável. Não é papel do Estado fazer negócios imobiliários. O programa Minha Casa Minha Vida está patinando, não sai do papel aqui em Fortaleza, exatamente pela falta de terrenos”, afirma o diretor da Associação Comunitária dos Bairros Ellery e Monte Castelo (Acem), Aguinaldo Aguiar.
Um terreno reivindicado em especial pelos moradores é o Parque de Exposição Governador César Cals, onde ocorre anualmente a Exposição Agropecuária e Industrial do Estado do Ceará (Expoece).
Eles afirmam que o local é pouco utilizado, de boa localização para os moradores da região Oeste e seria uma boa alternativa para atender centenas de famílias que necessitam de moradia digna.
Após o ato, uma comissão dos manifestantes foi recebida pelo titular da SDA, Moisés Braz, que levou o caso até o governador Elmano de Freitas (PT). Segundo o secretário, o chefe do executivo estadual se comprometeu a receber entidades e moradores até a próxima sexta-feira, 27.
Especulação imobiliária no local tem aumentado custo de vida, denuncia associação
Outro problema relatado pelos moradores representados pela Associação Comunitária dos Bairros Ellery e Monte Castelo (Acem) é a especulação imobiliária. Segundo eles, a chegada de novos empreendimentos como shoppings e supermercados aumentam o valor do aluguel na região.
Uma das afetadas é a cozinheira Anaisa Alves, 49, que relata o aumento do aluguel de R$ 450 para R$ 900 mensais.
“'Tá' se acabando [o terreno da Expoece], só está criando muito é lixo. Se você entrar, só vai ver os carros aí cheios de muriçoca, não sei que tanto carro é esse, um horror de carros ‘tudo acabado’. Aí cabem milhões de casas, dá para muitas famílias”, afirma a moradora do bairro Ellery.
A chegada de novos empreendimentos também teria aumentado o custo de vida na região, elevando o preço não só do aluguel, mas também de produtos básicos para a sobrevivência, segundo eles.
“É a maior dificuldade que a gente tem. Todo dia tem que ter o alimento. Tem que ter o café da manhã, tem que ter o almoço, tem que ter a janta. Antigamente a gente merendava de manhã, merendava de tarde e agora já corta até algumas coisas porque é dificultoso”, diz a também moradora do bairro Ellery, Elza Cavalcante, 60.
Governo nega privatizações e aponta buscar áreas para moradia social
Questionada pelo O POVO, a CearaPar, empresa estatal que comanda as negociações dos terrenos, disse que não há nenhuma privatização sendo feita pelo Governo do Ceará.
Segundo a gestora, os terrenos colocados à disposição do mercado estão desocupados ou subutilizados e não têm serviços públicos em funcionamento nos locais.
Em nota, a Casa Civil do Ceará afirmou que o Estado tem trabalhado por meio da Secretaria das Cidades para identificar terrenos que se adequem às exigências do programa Minha Casa Minha Vida.
Sobre o terreno da Expoece, o governo nega que haja negociações para a venda do espaço e informa estudar a melhor estratégia para o futuro uso do ativo.
Por fim, a gestão também alega ter submetido à Caixa Econômica Federal o uso de cinco terrenos, com o total de 132 mil metros quadrados, para a construção de moradias.
(O Povo)