Elisangela Cornachini é assistente social em Piracicaba (SP) com especialização em Gerontologia e Geriatra, e explica que é importante que as pessoas que estão na terceira idade mantenham-se conectadas e ativas com sua sexualidade.
Ela também afirma que o tabu sobre o assunto prejudica tanto a saúde mental como física dos idosos.
"A partir do momento que uma pessoa está envelhecendo, não quer dizer que ela parou de viver. Pelo contrário, é aí que ela precisa aproveitar mais ainda a vida."
Segundo ela, também é preciso que a sociedade entenda que as pessoas mais velhas também estão evoluindo, já que muitos tiveram uma educação diferente durante a infância. Principalmente com a presença da internet, onde veem outros da mesma idade falando sobre sexualidade e se sentem identificados e com vontade de fazer o mesmo.
O desejo de se manter ativo é crucial quando alguém passa a envelhecer, explica Elisângela, já que muitas vezes essas pessoas já estão aposentadas, ficam mais tempo em casa, com mais tempo ocioso. Então, manter as atividades é realmente importante e algo cada vez mais buscado por essa população.
"Até pouco tempo atrás, nós tínhamos uma visão de pessoas idosas dentro de casa, cozinhando, usando roupas longas, comportadas, sendo mãe e pai. Precisamos evoluir bastante ainda, porque existe muito tabu e preconceito, até mesmo de pessoas próximas que convivem com idosos", explica a assistente social.
Como falta de diálogo afeta a saúde
Elisângela explica que, além de interferir na maneira como essas pessoas se relacionam, às vezes se privando de ter vida sexual ou falar a respeito, há também aqueles que mantêm as atividades sexuais ativas, mas não são alertados sobre os perigos de não se proteger.
A assistente social explica que pessoas mais velhas são de uma época quando não havia o costume de usar proteção durante o sexo, já que sexo casual era menos falado. E, geralmente, as relações aconteciam entre pessoas casadas para ter filhos.
Para ela, há poucas campanhas de prevenção e conscientização voltadas para esse público, embora seja muito necessário.
No último Boletim Epidemiológico, lançado em 2022, os dados e estatísticas sobre o vírus da HIV/Aids mostram que os casos da doença entre a população com 60 ou mais anos cresceram quatro vezes na última década, representando 3,7% do total de testes positivos em todo o Brasil.
"Nos últimos anos, o Ministério da Saúde tem soltado dados e o crescimento de aids e diferentes infecções sexualmente transmissíveis tem aumentado muito entre as pessoas idosas, por não usarem o preservativo."
Veja casos de ISTs nas duas maiores cidades da região de Piracicaba em 2022 e 2023 (até setembro):
- 2023
Infecção por HIV: 3 casos
Sífilis: Nenhum caso - 2022
Infecção por HIV: 3 casos
Sífilis: 1 caso
- 2023
Infecção por HIV: 5 casos
Sífilis: 11 casos
Hepatite B: 1 casos
Hepatite C: 7 casos - 2022
Infecção por HIV: 2 casos
Sífilis: 8 casos
Hepatite B: 1 caso
Hepatite C: 8 caso
No país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida atualmente é de 77 anos, um aumento desde a atualização anterior. Com as pessoas vivendo mais tempo, a prática sexual também deve ocorrer por um período maior.
'Satisfação sexual não se esgota'
Elisângela afirma que o seno comum liga a terceira idade, muitas vezes, com o enfraquecimento, ficar triste, ser assexuado, mas que a sexualidade entre pessoas idosas é algo que deve ser estimulada como parte regular de uma rotina, longe de estereótipos e tabus.
"As mudanças do corpo físico acontecem, não tem pra onde fugir, mas essa questão da satisfação sexual não se esgota, ela não se vai com o passar dos anos."
Segundo ela, ao chegar à terceira idade, os desejos continuam os mesmos, a vontade de contato sexual, de se sentir sensual, desejado, de se sentir e mostrar que está bem.
A decisão de se manter ativa é ligada diretamente com a autoestima, diz a especialista, quando a pessoa se coloca em primeiro lugar e se sente bonita.
"Muitas pesquisas apontam que se você está em um relacionamento com alguém, manter as práticas sexuais faz bem para o corpo num geral, não só mental quanto físico, onde é possível se sentir valorizado e entrar em contato com sua própria sexualidade. As pessoas mais velhas não param de viver, precisam disso também."
G1