Sexualidade na 3ª idade: Número de casos positivos de HIV/Aids em pessoas acima de 60 anos quadriplicou na última década

 Número de casos positivos de HIV/Aids em pessoas acima de 60 anos quadriplicou na última década — Foto: shutterstock

Elisangela Cornachini é assistente social em Piracicaba (SP) com especialização em Gerontologia e Geriatra, e explica que é importante que as pessoas que estão na terceira idade mantenham-se conectadas e ativas com sua sexualidade.

Ela também afirma que o tabu sobre o assunto prejudica tanto a saúde mental como física dos idosos.

"A partir do momento que uma pessoa está envelhecendo, não quer dizer que ela parou de viver. Pelo contrário, é aí que ela precisa aproveitar mais ainda a vida."

Segundo ela, também é preciso que a sociedade entenda que as pessoas mais velhas também estão evoluindo, já que muitos tiveram uma educação diferente durante a infância. Principalmente com a presença da internet, onde veem outros da mesma idade falando sobre sexualidade e se sentem identificados e com vontade de fazer o mesmo.

O desejo de se manter ativo é crucial quando alguém passa a envelhecer, explica Elisângela, já que muitas vezes essas pessoas já estão aposentadas, ficam mais tempo em casa, com mais tempo ocioso. Então, manter as atividades é realmente importante e algo cada vez mais buscado por essa população.

"Até pouco tempo atrás, nós tínhamos uma visão de pessoas idosas dentro de casa, cozinhando, usando roupas longas, comportadas, sendo mãe e pai. Precisamos evoluir bastante ainda, porque existe muito tabu e preconceito, até mesmo de pessoas próximas que convivem com idosos", explica a assistente social.

Como falta de diálogo afeta a saúde

Elisângela explica que, além de interferir na maneira como essas pessoas se relacionam, às vezes se privando de ter vida sexual ou falar a respeito, há também aqueles que mantêm as atividades sexuais ativas, mas não são alertados sobre os perigos de não se proteger.

A assistente social explica que pessoas mais velhas são de uma época quando não havia o costume de usar proteção durante o sexo, já que sexo casual era menos falado. E, geralmente, as relações aconteciam entre pessoas casadas para ter filhos.

Para ela, há poucas campanhas de prevenção e conscientização voltadas para esse público, embora seja muito necessário.

No último Boletim Epidemiológico, lançado em 2022, os dados e estatísticas sobre o vírus da HIV/Aids mostram que os casos da doença entre a população com 60 ou mais anos cresceram quatro vezes na última década, representando 3,7% do total de testes positivos em todo o Brasil.

"Nos últimos anos, o Ministério da Saúde tem soltado dados e o crescimento de aids e diferentes infecções sexualmente transmissíveis tem aumentado muito entre as pessoas idosas, por não usarem o preservativo."

Veja casos de ISTs nas duas maiores cidades da região de Piracicaba em 2022 e 2023 (até setembro):

  • 2023
    Infecção por HIV: 3 casos
    Sífilis: Nenhum caso
  • 2022
    Infecção por HIV: 3 casos
    Sífilis: 1 caso
  • 2023
    Infecção por HIV: 5 casos
    Sífilis: 11 casos
    Hepatite B: 1 casos
    Hepatite C: 7 casos
  • 2022
    Infecção por HIV
    : 2 casos
    Sífilis: 8 casos
    Hepatite B: 1 caso
    Hepatite C: 8 caso

No país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida atualmente é de 77 anos, um aumento desde a atualização anterior. Com as pessoas vivendo mais tempo, a prática sexual também deve ocorrer por um período maior.

'Satisfação sexual não se esgota'

Elisângela afirma que o seno comum liga a terceira idade, muitas vezes, com o enfraquecimento, ficar triste, ser assexuado, mas que a sexualidade entre pessoas idosas é algo que deve ser estimulada como parte regular de uma rotina, longe de estereótipos e tabus.

"As mudanças do corpo físico acontecem, não tem pra onde fugir, mas essa questão da satisfação sexual não se esgota, ela não se vai com o passar dos anos."

Segundo ela, ao chegar à terceira idade, os desejos continuam os mesmos, a vontade de contato sexual, de se sentir sensual, desejado, de se sentir e mostrar que está bem.

A decisão de se manter ativa é ligada diretamente com a autoestima, diz a especialista, quando a pessoa se coloca em primeiro lugar e se sente bonita.

"Muitas pesquisas apontam que se você está em um relacionamento com alguém, manter as práticas sexuais faz bem para o corpo num geral, não só mental quanto físico, onde é possível se sentir valorizado e entrar em contato com sua própria sexualidade. As pessoas mais velhas não param de viver, precisam disso também."

G1

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