Endometriose profunda deixa mulher sem sensibilidade nos pés

 Foto colorida de mulher com as pernas cobertas em maca hospitalar - Metrópoles

 

Durante toda a adolescência, a brasiliense Daiely Correia, hoje com 32 anos, sofreu com cólicas incapacitantes que a fizeram desmaiar muitas vezes. O diagnóstico de endometriose profunda veio aos 23 anos, após uma busca incessante por respostas.

“Foi uma adolescência muito difícil. Era socorrida todos os meses para ser medicada no hospital e as pessoas não entendiam o que estava acontecendo. Eu me questionava se aquilo era normal, mas, no fundo, sabia que não era”, recorda Daiely.

O quadro da brasiliense se agravou nos dois anos seguintes, quando a endometriose se espalhou até alcançar a parte da pelve por onde passa um nervo da perna. “Cheguei ao consultório médico mancando de tanta dor. Naquele momento, não conseguia sentir os dedos dos pés”, conta.

Sentir cólica não é normal

Ao contrário da crença popular, sentir cólicas intensas e incapacitantes não é normal. Segundo Brandão, este é um sintoma clássico de endometriose que precisa ser avaliado.

O mais comum é que o diagnóstico seja feito a partir da observação dos sintomas, uma vez que é mais difícil encontrar a endometriose em exames de imagem. Quanto mais cedo é feito o diagnóstico, melhor é a qualidade de vida da paciente.

O Ministério da Saúde estima que uma em cada dez mulheres sofra com as dores da endometriose. Mas o diagnóstico demora, em média, de sete a dez anos para ser feito. Até lá, as pacientes precisam lidar com os desconfortos da condição.

“A cólica menstrual é muitas vezes desvalorizada tanto pela população quanto pelos profissionais de saúde. Cólica intensa, incapacitante e que tira as mulheres das atividades diárias deve ser investigada”, afirma o médico.

Tratamento

Na maioria dos casos, a paciente com endometriose recebe indicação de tratamento multidisciplinar, com intervenção hormonal e mudanças na alimentação. O tratamento cirúrgico é indicado quando há o acometimento de algum dos órgãos ou da função deles, como infertilidade, comprometimento da função da bexiga, dos ureteres e do intestino, dor na relação sexual ou falha no tratamento clínico. O tratamento cirúrgico visa retirar todos os focos de endometriose de uma vez.

Nem sempre a histerectomia (a retirada do útero) é indicada. “A endometriose pode estar fora do útero e, após a cirurgia, a paciente vai continuar a ter dor. Além disso, se a paciente quer engravidar, nós precisamos preservar o útero dela. Muitas mulheres que têm dificuldade para engravidar conseguem depois da cirurgia”, afirma o médico.

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Sonho de ser mãe

A endometriose sempre jogou contra o grande sonho de Daiely: ser mãe. A administradora demorou dois anos para conseguir engravidar do primeiro filho, há dez anos, e enfrentou uma batalha para poder engravidar novamente anos depois.

Para Daiely, o procedimento de raspagem dos nervos para retirar os focos de endometriose e se livrar das dores foi a opção encontrada para garantir que ela pudesse continuar a tentar engravidar. Com a preocupação de que o procedimento delicado pudesse afetar os movimentos dela, o cirurgião-ginecológico Alexandre Brandão informou que faria a cirurgia em apenas uma das pernas.

“Aquilo me assustou, mas confiei que daria tudo certo. Depois da cirurgia o doutor me pediu para mexer uma das pernas, deu certo. Depois a outra, que também mexeu. Nesse momento, ele me olhou emocionado dizendo que tinha conseguido fazer a cirurgia nas duas pernas, com sucesso”, lembra a paciente.

O médico tinha conseguido retirar a endometriose que afetava os nervos das pernas e da coluna de Daiely, possibilitando que ela voltasse a andar sem dificuldades e pudesse sonhar novamente em ser mãe outra vez.

A administradora engravidou novamente em 2020, após fazer uma fertilização in vitro. Ela esperava gêmeos, foi uma gravidez delicada, com o descolamento de placenta e sangramentos importantes. “Pensei que ia perder os meus bebês para a endometriose. Foi um dos momentos mais difíceis da gestação”, recorda. Daiely precisou seguir um repouso rigoroso por dois meses.

As dores voltaram durante a gestação, mas ela tinha que esperar pelo parto dos gêmeos. Quando os bebês completaram 1 ano, a brasiliense passou por uma cirurgia para retirar o útero.

“Já estava realizada e não aguentava mais aquele sofrimento causado pela endometriose. Precisava de saúde para cuidar dos meus filhos. Hoje consigo ter uma vida de qualidade”, afirma.

 

 

 

(Metrópoles)

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