
Uma investigação do 6º Distrito Policial (6º DP) identificou uma série de práticas criminosas perpetradas por uma facção criminosa no conjunto habitacional Alameda das Palmeiras, localizada no bairro Ancuri, em Fortaleza. São casos de expulsões de moradores e cobrança de “pedágio” a comerciantes e empresas que prestam serviço no local, além de homicídios e tráfico de drogas.
A
investigação, iniciada em 2022, resultou em uma denúncia do Ministério
Público Estadual (MPCE) contra quatro homens, recebida pela Justiça no
último dia 26 de setembro. A peça aponta que, dentre os crimes
praticados pelos acusados, está a cobrança mensal de R$ 300 aos
comerciantes da região.
A extorsão chegou a obrigar um comerciante a fechar as portas. "Na época, ele não conseguiu pagar o pedágio, e os criminosos disseram ‘a empresa aqui não aceita atraso, não’”, disse uma testemunha. Todos eles integrariam a facção Guardiões do Estado (GDE).
Sobre a expulsão de moradores, a Polícia Civil do Ceará (PC-CE)
identificou casos como o de um homem que foi obrigado a se mudar da
própria casa após arranjar um emprego em um bairro com atuação da facção
Comando Vermelho (CV), rival da GDE. A facção não permitia que pessoas
que frequentavam territórios “inimigos” morassem no condomínio.
A
vítima pediu ajuda à Polícia Militar para fazer a mudança, que, por ter
ocorrido às pressas, não permitiu que todos os objetos da família
fossem levados. Em seguida, a casa foi saqueada por integrantes da
facção. “Até mesmo o carro, que não pôde ser levado em razão de
problemas mecânicos, foi depenado”, consta na denúncia do MPCE.
Um
outro relato obtido na investigação é de que os criminosos obrigaram
moradores a assinar documentos, como se estivessem transferindo a posse
do apartamento, sob pena de serem mortos. O domínio da facção na região é
tão grande, indica a denúncia, que, até mesmo para fazer uma reforma em
seu próprio apartamento, criminosos disseram que era preciso pedir
autorização ao chefe do grupo no local.
Outro crime praticado pela facção na Alameda das Palmeiras, conforme a investigação, foi o assassinato de um homem, identificado apenas como Alexandre, há “cerca de dois anos”, ou seja, em meados de 2020. Ele teria sido morto porque os faccionados alegaram que a vítima estaria fazendo sexo com a própria mãe. Conforme o relato, o jovem aparentava ter algum tipo de problema mental, da mesma forma que a mãe.
Foram
denunciados pelo MPCE: Antônio Maikom de Oliveira Matias, de 28 anos;
Marcílio de Freitas Assunção, de 37 anos; Francisco Leuriberto Barros da
Silva, conhecido como Samsung, de 42 anos; e José Irinaldo Barroso da
Silva, conhecido como Peixe, de 40 anos.
Este último é apontado como chefe da GDE na Alameda das Palmeiras.
Fotografias feitas por policiais civis mostram várias pichações
representando um peixe nos muros do residencial, menção ao domínio de
José Irinaldo.
“Peixe” comandaria a facção mesmo estando
preso. Assim como ele, também está preso, conforme a Secretaria de
Administração Penitenciária (SAP), Francisco Leuriberto. Antônio Maikom
cumpre regime aberto e Marcílio está em liberdade.
SSPDS fala sobre atuação das forças de segurança no residencial
Questionada pelo O POVO sobre a atuação das forças de segurança para evitar ações criminosas no Alameda das Palmeiras, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) citou, entre outros, que o conjunto habitacional conta com atuação do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac).
Além disso, no local, há atuação de outras unidades policiais, como o Policiamento Ostensivo Geral (POG), o Comando de Policiamento de Choque (CPChoque), o Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) e o Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual (BPRE).
"Os trabalhos ostensivos e preventivos
na região são realizados ainda de forma integrada com equipes da
Coordenadoria de Planejamento Operacional (Copol) e da Coordenadoria de
Integrada Operações Aéreas (Ciopaer) da SSPDS, além do 6º Distrito
Policial (6º DP) da Polícia Civil, responsável por investigar
ocorrências na região", afirmou a pasta.
Por fim, a SSPDS disse ser "imprescindível que qualquer tipo de ameaça ou crime seja comunicado às autoridades por meio do Disque Denúncia da SSPDS, pelo número 181, ou registrada por meio de Boletim de Ocorrência (B.O) em qualquer unidade policial da PC-CE". Não é preciso identificar-se e o sigilo é garantido, afirma a pasta.
O Povo