No Ceará, esse cenário, no entanto, pode ganhar um respiro através de um novo benefício da Universidade Federal: crianças de até seis anos filhos de estudantes da UFC poderão se alimentar no Restaurante Universitário (RU) a partir do início das aulas deste ano. O g1 explica abaixo.
É o caso de Miguel, de três anos, filho de Antônio Marcos, que estuda Engenharia de Produção. Outro exemplo é a estudante de Engenharia de Petróleo Rebeca de Lima, que vai poder levar a pequena Laviny, de quatro anos, para os espaços universitários sem preocupação. Conheça as histórias!
Antônio relembra as dificuldades em ser pai, trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Com a ajuda da esposa, eles conseguem manter a rotina mais equilibrada atualmente, mas passaram por momentos difíceis e apertos financeiros.
Hoje, Antônio estuda e atua na área de Engenharia de Produção, mas precisa sempre adequar o horário de trabalho com a grade da faculdade e, claro, o tempo com a família:
“O início foi bem complicado, porque o curso é integral e tive que abandonar um emprego. Mas, resolvi arriscar. Essa parte de ser pai e fazer a graduação é bem difícil, porque exige muito. A própria universidade já exige muito da gente e um filho também, principalmente aos três anos”.
Antônio faz a maioria de suas refeições no Restaurante Universitário (UFC). A notícia também chegou de forma feliz para sua esposa, com quem divide os cuidados com Miguel.
Aos 28 anos, diz que o benefício pode não parecer ‘tão importante’ para algumas pessoas. No entanto, na rotina corrida de faculdade e paternidade, há um pouco de alívio - e isso pode melhorar, segundo ele:
“As crianças poderem acessar o RU já é uma grande melhoria, mas acho que outro ponto, na minha concepção, é melhorar a acessibilidade em relação a horários. Hoje, por exemplo, eu tenho uma família e preciso estudar e ao mesmo tempo trabalhar. A gente tem uma concentração dos cursos da UFC em tempo integral, o que dificulta para quem precisa trabalhar”.
Miguel tem três anos de idade e vai poder acessar o Restaurante Universitário (RU).
“Passa pela cabeça a desistência”, diz estudante mãe solo
Mãe universitária detalha desafios de estudar e criar filha de quatro anos.
Rebeca de Lima, de 22 anos, compartilha dos mesmos receios de Antônio, mas com uma intempérie a mais: é mãe solo e não tem o suporte da família. Mãe da pequena Laviny, de quatro anos, e estudante de Engenharia de Petróleo, ela é taxativa:
"A gente não tem rotina. Cada dia é um desafio, tem que viver realmente um dia de cada vez. Você tem muitas dúvidas. Passa na cabeça a desistência".
Rebeca enxerga no novo benefício da UFC um acolhimento necessário a pais e mães universitários. As realidades são muitas e a dificuldade em permanecer na universidade ainda é o que guia tantas histórias:
"Não é só simplesmente passar (no vestibular). A gente tem que ver como vamos nos manter lá dentro. A dificuldade que ainda enxergo sendo mãe que estuda é a falta de apoio e suporte do sistema, da sociedade e da família. Isso às vezes me abala muito", contou ao g1.
Rebeca é mãe solo e vive do Bolsa Família e auxílios da universidade.
Hoje mãe solo e sem suporte da família, Rebeca leva Laviny para a universidade sempre que precisa e já precisou até diminuir disciplinas na sua grade para conseguir conciliar tudo.
Às vezes, teme a reação dos professores, mas reconhece que desde que começou a graduação, percebe muito mais olhares de acolhimento do que o contrário. "Pela minha experiência, sinto que posso continuar ali, independente se sou mãe ou não".
A jovem estuda e se mantém através do Bolsa Família e auxílios da universidade. Levar Laviny para almoçar/jantar no RU promete ser um alívio: "Principalmente porque não vou ser cobrada por isso. É um avanço, algo de você se emocionar", garantiu.
As mudanças mais significativas virão em sua renda, segundo a estudante. Rebeca sonha que, um dia, a universidade seja um espaço de mais equidade, coletividade e segurança para as crianças.
"Você tem que abrir mão dos seus sonhos. É muito difícil porque você percebe que somente a vida da mulher para. Mas, continuo nessa luta".
Ceará segue modelo já aplicado
A Universidade Federal do Ceará também anunciou auxílio para estudantes de baixa renda.
O g1 solicitou o número de cearenses que estudam e trabalham, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) respondeu que não dispõe de nenhuma pesquisa com essa temática específica.
O g1 também solicitou dados de quantos estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) têm filhos, mas a instituição respondeu que não dispõe do número.
Contudo, a medida para permitir o acesso das crianças ao espaço universitário nasceu em resposta a uma demanda antiga de Antônio, Rebeca e outros estudantes.
Márcia Regina Arão, a Pró-Reitora-Adjunta da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PRAE) da instituição, disse que a UFC analisou outros modelos já praticados em universidades brasileiras, como a federal de Santa Catarina. Lá, crianças de até 12 anos têm a isenção garantida.
"A gente vinha recebendo nos últimos anos algumas solicitações de estudantes que chegavam com seus filhos para entrar no RU. Até então, não era permitida essa entrada, mas havia um cotidiano muito estressante para os servidores, pais e mães. Havia algumas soluções paliativas: eles (os pais) se serviam em uma quentinha e levavam para comer com o filho em outro lugar. A gente começou a ver que isso era muito ruim”, comentou Márcia Regina ao g1.
Na UFC, a idade de acesso das crianças ficou em seis anos após análise da Pró-Reitoria. Elas terão alimentação gratuita.
Entenda como acessar o benefício 👇🏼
- A solicitação de acesso dos filhos de estudantes deverá ser formalizada por e-mail para ru@ufc.br;
- Nela, deve conter o formulário listado no portal do RU e a documentação que comprove o grau de parentesco entre a criança e o adulto: RG do responsável e a certidão de nascimento da criança ou outro documento legal que comprove a dependência;
- Essa solicitação deve ser enviada com pelo menos 5 (cinco) dias úteis da data do acesso pretendido;
- A liberação de acesso ao RU deve ser renovada semestralmente.
"A gente está olhando para essa questão do estudante pai e mãe porque temos o Auxílio Creche. Era nosso menor auxílio e foi aumentado. Começamos a ver indicadores de que usuários desse auxílio têm uma taxa de permanência menor que os outros, porque, realmente, ser pai e mãe na universidade requer mais esforço", comentou, ainda, Márcia Regina.
G1