Quem era a mulher trans que foi levada morta dentro de saco pela rua por suspeito em Guaíra, SP

 Jhenifer Luiza, 26 anos, foi encontrada morta na manhã desta segunda-feira (18), em Guaíra (SP) — Foto: Reprodução/Redes sociais

De acordo com o delegado responsável pela investigação do caso, Rafael Faria Domingos, a suspeita é de que Jhenifer tenha sido asfixiada até a morte.

Abaixo, o g1 mostra quem era a vítima e o que se sabe sobre o caso.

'Querida por todos'

Nascida em Guaíra, Jhenifer atuava como auxiliar em um salão de beleza administrado pela prima e irmã de criação Thaís Gândara. Segundo a cabeleireira, a jovem era conhecida e querida por todos na cidade.

"A cidade toda conhecia ela, ela participava de concursos, estava sempre em ações sociais, era muito querida. Ela não tinha maldade com ninguém, todo mundo gostava dela", diz.

Desde que finalizou o processo de transição de gênero, há três anos, Jhenifer passou a participar de concursos de beleza na cidade e na região. Em 2023, ela conquistou a faixa de 'Musa Trans Verão' em um concurso no município.

Nas redes sociais, uma nota oficial de pesar pela morte de Jhenifer foi publicada pela Prefeitura de Guaíra. A nota se solidariza com a família e os amigos da vítima e repudia o crime de transfobia.

O corpo da jovem foi sepultado na tarde de segunda-feira (18) em uma cerimônia sem velório, devido ao tempo em que o corpo demorou para ser encontrado desde a morte.

Prefeitura de Guaíra (SP) publica nota de pesar para Jhenifer Luiza, encontrada morta nesta segunda-feira (18) — Foto: Reprodução/Redes sociais

Transição de gênero

Apesar das dificuldades enfrentadas ao longo da vida, Thaís afirma que Jhenifer foi bem acolhida pela cidade e pelos familiares durante o processo de transição de gênero.

Apaixonada por desfiles e por rodeios, a auxiliar de salão de beleza gostava de estar junto da família e dos amigos. Ser independente também era algo que almejou, motivo que a fez ir morar sozinha.

"Ela sempre foi bem acolhida na cidade, o processo de transição foi aos poucos. Ela já não se via mais no corpo de homem, a família aceitou e foi indo. Mudou o cabelo, as roupas e já tinha mudado todos os documentos. A Jhenifer não tinha envolvimento com nada, não fazia programa e não usava drogas", afirma Thaís.

Jhenifer Luiza, de 26 anos, costumava participar de concursos de beleza em Guaíra (SP) — Foto: Reprodução/Redes sociais

Desaparecimento

O desaparecimento de Jhenifer foi percebido pela família na sexta-feira (15) e um boletim de ocorrência chegou a ser registrado na delegacia da cidade.

Thaís aponta que a última vez que a família teve contato com a jovem foi na noite de quinta-feira (14), quando ela esteve na casa do pai para o jantar.

"Ela foi embora da casa do pai com uma marmita e um refrigerante na quinta-feira. No outro dia eu já fiquei desesperada, porque para desaparecimento é tudo depois de 72 horas, mas eu sabia que ela não saía assim e ficava sem responder a gente, a gente não se desgrudava", diz.

Nas redes sociais, familiares e amigos se mobilizaram em uma campanha em busca de informações sobre o paradeiro dela. Com a divulgação, imagens de câmeras de segurança por lugares onde a vítima aparecia passando de bicicleta por trechos da cidade foram recuperadas pela família.

Nas imagens, Jhenifer aparece de calça jeans e blusa verde, mesma roupa que usava quando foi encontrada morta.

Jhenifer Luiza, de 26 anos, durante participação em concurso de beleza em Guaíra (SP)

Bicicleta localizada

Na manhã de domingo (17), a bicicleta que Jhenifer usava na madrugada de sexta-feira foi localizada pela família da jovem na casa de um dos suspeitos pelo crime, até então desconhecido.

"Eu fui seguindo as imagens, pedindo as câmeras, usei as minhas redes sociais e encontrei a bicicleta dela na casa do suspeito. Ele negou tudo, falava que não conhecia ela. A casa dele estava com um mal cheiro enorme, porque o corpo dela ficou lá de quinta-feira até sábado", explica Thaís.

Apesar de encontrar a bicicleta na casa do suspeito e acionar a polícia, Thaís afirma que diante da negativa do homem, nada pôde ser feito e a família retornou para casa sem informações sobre o paradeiro da jovem.

"Nós conversamos com o suspeito, e ele mentindo, a gente correu risco de vida também. No outro dia, acharam o corpo dela", afirma.

Jovem de 26 anos é encontrada morta após ser dada como desaparecida em Guaíra (SP) — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Corpo em terreno

O corpo de Jhenifer foi encontrado na manhã de segunda-feira (18), por um morador que passava pela rua e identificou algo que parecia ser cabelo em meio a um colchão descartado em um terreno baldio no bairro Eldorado.

No local, o corpo da jovem foi localizado envolto no colchão que estava dentro de uma embalagem normalmente utilizada para armazenamento de grãos.

O reconhecimento da vítima foi feito por familiares ainda no local. O terreno passou por perícia e o corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML). As causas da morte são investigadas.

Segundo o delegado, o resultado do laudo necroscópico é aguardado e, por enquanto, não é possível afirmar se o corpo apresentava marcas de agressão.

Corpo de mulher trans é encontrado envolto em colchão em terreno baldio em Guaíra (SP) — Foto: Reprodução

Suspeito arrastou corpo pela rua

Nas imagens divulgadas pela polícia, é possível ver o momento em que o homem, usando uma camisa vermelha, apareceu arrastando o colchão dentro de uma embalagem plástica com a ajuda de um carrinho de puxar. O flagrante aconteceu por volta das 17h de sábado (16).

Ainda nos vídeos, o suspeito pareceu ter dificuldade em transportar o corpo da vítima para dentro do terreno. Pelas imagens, uma mulher parece perceber a ação do homem, mas não é possível saber o que a mulher viu ou o que perguntou ao suspeito.

Depois de abandonar o corpo, ele caminhou com tranquilidade ao lado da mulher enquanto olhava em direção ao terreno, já com o carrinho vazio.

Veja momento do descarte abaixo:

Câmera de segurança flagrou suspeito arrastando corpo de mulher trans morta em Guaíra, SP

Suspeitos presos

No início da tarde de segunda, após o corpo da jovem ser localizado, com o auxílio das câmeras de segurança, o suspeito que aparece de blusa vermelha foi identificado pela polícia e preso dentro de casa.

De acordo com o delegado, o homem tem 22 anos, é natural de Pernambuco e era considerado foragido no estado. Ele estava em regime semiaberto e não se apresentou de volta ao presídio, onde cumpria pena de 17 anos por roubo.

Aos policiais, ele confessou ter participado da ocultação do cadáver da vítima, mas negou o homicídio, apontando um segundo envolvido, que também foi localizado.

O suspeito, de 24 anos, foi preso e disse aos policiais que o rapaz de 22 anos havia matado a vítima por enforcamento. De acordo com Domingos, ele também era foragido da Justiça por tráfico de drogas em Itanhaém, no litoral de São Paulo.

Emboscada

Para a irmã de criação de Jhenifer, a jovem foi vítima de uma emboscada, já que, segundo a família, os criminosos roubaram o celular da vítima.

"A gente acredita que tenha sido um encontro marcado. A Jhenifer tinha condições, roubaram o celular e fizeram compras no cartão dela. A gente acredita que foi um encontro marcado com um homem e chegando lá, ela se deparou com uma emboscada", diz.

Segundo o delegado, o celular da vítima não foi encontrado até o momento e, em relação às compras, Domingos afirma que não há informações.

Jhenifer Luiza, 26 anos, foi encontrada morta em um terreno baldio em Guaíra (SP)

G1

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