Embalada pela mãe, a pequena Esther agora ecoa serenidade. Mas a chegada dela ao mundo foi envolta por aflição: a mãe, a supervisora administrativa Leidianne de Sousa, de 40 anos, caiu da escada de casa, fraturou a perna e o pé, 10 dias antes do parto. O medo de perder a bebê tão sonhada, gerada mesmo num quadro de baixa possibilidade, atingiu a família.
Um resumo dessa trajetória – do anseio por aumentar a família, passando pelo susto com o acidente doméstico, até às transformações pela maternidade – são apresentadas pelo Diário do Nordeste, neste domingo (12), Dia das Mães.
A filha Hadassa de 7 anos, a primogênita de Leidianne, é quem dá início a história. Após uma cesária complicada e a depressão pós-parto, a cearense optou por não ter outros filhos até ser surpreendida por um desejo da menina. "A Esther nasceu do sonho da minha filha. Ela me pedia todo dia".
Ao mudar de ideia sobre a maternidade, Leidianne foi ao médico para tentar uma nova gestação, mas ouviu que teria apenas 10% de chances por causa da idade e pelo diagnóstico de ovários micropolicísticos. "A Hadassa pedia pela irmã e eu chorava com pena, porque ela se sentia muito sozinha", lembra.
Mas o casal resolveu tentar ampliar a família até que os primeiros sinais surgiram. De volta ao consultório, a médica acreditava que Leidianne estaria com infecção urinária. “Esperei 7 dias, fiz o exame para saber se eu estava grávida e deu positivo", lembra comemorando a vitória.
Os exames indicaram o bom estado de saúde da mãe e da filha numa gravidez que avançou tranquila e celebrada por todos dentro de casa. Em março deste ano, com 39 semanas de gestação, o pai de Esther limpava o quarto da pequena até ouvir um dos piores sons que poderia escutar na vida: a esposa grávida caindo.
"Eu sou muito agitada e, enquanto ele limpava, fui descer as escadas aqui de casa para poder pegar panos para ajudar, mas eu escorreguei e caí com o corpo todo. Pensei que eu ia rolar até embaixo", conta sobre o momento que deu origem à angústia.
Na queda, o joelho bateu na parede e as pernas dobraram, fazendo com Leidianne escorregasse por 4 degraus. "Não bateu a barriga e nem as costas, mas em compensação o susto e a dor foram muito grandes", resume.
A família correu para o hospital, primeiro, para checar a situação da Esther. "Quando eu cheguei na maternidade disseram que a única alteração que tinha tido era que meu líquido estava aumentado e o médico disse que isso foi um benefício por ter protegido ela".
Contudo, a mãe teve fraturas na fíbula de uma perna e no metatarso do pé da outra. Em outro cenário, o caso seria resolvido no centro cirúrgico, mas a mulher foi apenas imobilizada por causa da proximidade do parto.
“Foram dias que pareceram meses de muita luta, mas eu estava determinada a aguentar firme pela minha pequena que estava chegando…”, reflete sobre a decisão. Cerca de 10 dias depois, os médicos precisaram induzir o parto de Esther.
Como foi o parto
Com botas ortopédicas pesadas, Leidianne chegou ao hospital sem a dilatação necessária para o parto, mas fechou os olhos e começou a andar pelos corredores do hospital de mãos dadas com o esposo para ampliar a abertura.
Naquele dia, a mulher não comeu e ficou cansada a ponto de perder a noção do tempo, mas na madrugada chegou nas condições ideais para o parto normal. Esse era o desejo para conseguir cuidar da menina.
A cesária seria muito mais complicada para minha recuperação das fraturas, me vi sem chão, foi um momento muito difícil. Sentir uma dor tão forte sem poder me movimentar, mas quando eu estava sem esperança ouvi uma voz dentro do meu coração.
Essa voz foi seguida de um alívio ao, finalmente, segurar a bebê no colo. "A sensação de ter ela nos meus braços foi maravilhosa, foi um milagre para mim”, completa sobre a chegada da irmã da Hadassa.
Mesmo assim, o puerpério não foi fácil e Leidianne entrou numa nova prova de resistência, “tirando força da fraqueza”, como define. As lesões, por causa da caminhada no hospital, pioraram e os médicos precisaram reavaliar o quadro da mãe.
A indicação foi para ficar semanas sem pisar no chão e a mulher teve alergia à bota que causaram bolhas nas pernas. Passado o tempo determinado, o resultado do Raio-X foi satisfatório e a supervisora começou a fazer fisioterapia.
“Estou em uma nova etapa da minha reabilitação, me superando a cada dia para cuidar das minhas meninas”, declara.
Apesar das fases difíceis da vida precisamos acreditar que dias melhores virão, que se Deus envia, Ele capacita. Quando nasce uma mãe, com ela nasce uma força incrível que ela jamais pensou que teria, um amor capaz de vencer qualquer dor e barreira para proteger e cuidar
Equipe do hospital se emocionou
Wanessa Guedes, coordenadora médica da Obstetrícia do Hospital e Maternidade Eugênia Pinheiro, onde Leidianne teve Esther, disse que o momento do parto foi "lindo" e emocionou toda a equipe da unidade de saúde. "Estávamos todos vibrando para que tudo desse certo", compartilhou.
Embora a paciente estivesse rodeada de profissionais capacitados, ela teve de buscar forças no amor sentido pela filha para superar a dor física e enfrentar não só o parto normal como, também, o puerpério. "Em todos os momentos [de dificuldade], o maternar falou mais alto. É o amor mais sublime. É a prova do amor incondicional", reconhece Wanessa.
Ligação entre Hadassa e Esther
As palavras de Leidianne evidenciam a fé no Divino e o nome de Esther vem de uma história bíblica – uma das personagens inspiradoras retratadas. Ester foi rainha da Pérsia e, em hebraíco, seu nome é Hadassa. O significado é flor bonita e popular.
Assim com a gestação, o nome da bebê foi uma exigência da primogênita. O casal queria outro nome, mas "ela chamava a boneca de Esther antes de eu engravidar. Ela sonhava com isso", como lembra Leidianne.
Ela teve a gravidez acompanhada pelo programa Nascer Bem, da Hapvida NotreDame Intermédica, em Fortaleza. Cerca de 4,6 mil gestantes já foram acompanhadas pelo programa na capital, segundo a assessoria de comunicação da unidade.
O projeto nasceu em 2016 e já atendeu 35 mil gestações, acompanhando-as integralmente, desde a descoberta da gravidez até o fim do puerpério. Dos 475 partos realizados no primeiro trimestre deste ano, em Fortaleza, 180 foram normais, ou seja 38%. Esse índice está acima da média nacional (24,3%) na rede privada de saúde no Brasil, conforme dados da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
Diário do Nordeste