Pai e filho mortos no Eusébio teriam sido assassinados por engano por PMs

 Francisco Adriano da Silva, de 42 anos, e Francisco Gabriel Braúna da Silva, de 13 anos, pai e filho vítimas de duplo homicídio no Eusébio

 

O pai e o filho mortos no Centro de Eusébio (Região Metropolitana de Fortaleza) em 18 de agosto de 2023 podem ter sido assassinados por engano por policiais militares. É o que aponta denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) contra dois PMs acusados pelo crime. O POVO teve acesso a trechos da peça acusatória, que tramita em segredo de justiça.

A investigação da Delegacia de Assuntos Internos (DAI) apontou que o soldado Paulo Roberto Rodrigues de Mendonça foi o executor do crime, tendo sido auxiliado pelo soldado Halley Handroskowy Magalhães Martins, que estaria trafegando em uma moto que deu cobertura ao atirador. Ambos negam envolvimento com o crime.

Paulo Roberto foi preso ainda em estado de flagrante, horas após o crime, no bairro José Walter, em Fortaleza. Já Halley Handroskowy foi preso em 28 de fevereiro deste ano em cumprimento a um mandado de prisão.

Conforme o MPCE, existe a possibilidade de que o verdadeiro alvo dos executores era um jovem de 23 anos, supostamente, envolvido em um assalto a um estabelecimento comercial em Itaitinga, também na Região Metropolitana de Fortaleza.

Francisco Gabriel Braúna da Silva, de 13 anos, teria sido confundido com ele. O órgão ministerial ressaltou que os criminosos miraram, principalmente, no adolescente, já ele que foi atingido por mais disparos de arma de fogo que o seu pai, Francisco Adriano da Silva, de 42 anos.

A hipótese de equívoco decorre do fato de terem sido encontradas em celulares apreendidos com Paulo Roberto várias imagens de consultas em sistemas de informação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

Entre as consultas, diz o MPCE, estava a da ficha criminal do suposto suspeito do roubo ao estabelecimento comercial de Itaitinga. O endereço residencial dele era localizado a poucos metros do local onde ocorreu o duplo assassinato.

De acordo com as coordenadas geográficas sinalizadas nos metadados da imagem da consulta da ficha criminal do suspeito do roubo, a pesquisa foi realizada no próprio endereço do estabelecimento comercial que havia sido roubado.

Inclusive, o nome do denunciante do roubo estava em um pedaço de papel encontrado pela DAI no interior do veículo de Paulo Roberto. A DAI identificou que um celular abandonado por Paulo Roberto no dia de sua prisão também era utilizado por Halley Handroskowy. 

“Em que pese a motivação do crime ainda não ter sido esclarecida, os indícios apontam para um crime encomendado e executado, mediante promessa de vantagem econômica, o que se harmoniza com o fato de que, logo após o crime, HALLEY HANDROSKOWY e PAULO ROBERTO chegam à casa deste e, após 50min, saem no carro de HALLEY HANDROSKOWY”, afirmou o MPCE na denúncia.

Relatório elaborado pela DAI aponta que, em seguida, os dois suspeitos saíram da casa de Paulo Roberto e foram até a sede da empresa que foi roubada. O veículo ainda foi a um local desconhecido, retornando em seguida para o estabelecimento comercial.

“O longo período de tempo em que teriam permanecido na [sede da empresa] logo após o crime, aliado ao fato de que, no momento da abordagem, PAULO ROBERTO tinha consigo o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) em cédulas de cem reais, levanta a hipótese de que estavam lá para um acerto de contas e para o recebimento da vantagem indevida, eventualmente, ajustada pelo cometimento do crime”, afirmou o MPCE.

"É importante registrar que as mortes de Francisco Adriano e de seu filho Francisco Gabriel foram fruto de um equívoco, pois ambos não registravam antecedentes desabonadores ou sequer indícios de envolvimento com crimes, ficando fortemente sugerido que outra pessoa [...] seria o alvo da dupla de assassinos".

Em um dos celulares apreendidos pela DAI, havia uma “selfie” de Halley Handroskowy com o também soldado Anderson Rafael Mouta da Silva. Anderson Rafael chegou a ser preso por força de mandado, mas o MPCE afirma que sua participação no crime “carece de maior aprofundamento”.

Cinco pessoas foram presas suspeitas do crime

Além dos três PMs, mandados de prisão foram cumpridos contra dois homens que não integram as forças de segurança do Estado. Os nomes deles não foram divulgados pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD).

O POVO apurou, porém, que ao menos um dos suspeitos presos era funcionário da empresa que foi roubada em Itaitinga. Sua prisão temporária, entretanto, já foi revogada.

Halley Handroskowy ingressou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado (TJCE). Seu advogado sustenta que a prisão dele não é necessária, já que ele teria “condições pessoais favoráveis à concessão de liberdade provisória”. Também foi argumentado excesso de prazo para formação da culpa. O pedido está por ser julgado. 

 

 

 

(O povo)

 

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