Pintura coberta durante reforma na Igreja Matriz de Ubajara |
Fiéis de Ubajara foram surpreendidos com a remoção de uma pintura histórica dentro da Igreja Matriz do município cearense a 326,1 km de Fortaleza. A representação intitulada “A oração de Jesus Cristo do Horto” ficava na semicúpula sobre o altar principal da Paróquia de São José e começou a ser coberta nesta semana.
Segundo o atual padre da igreja, Carlos Alberto Pereira Magalhães, a decisão para a remoção da pintura foi tomada após consulta técnica, que apontou sinais de desgaste "não facilmente visíveis devido à sua altura". Assim, a administração da Igreja ponderou a possibilidade de mudança para uma pintura no estilo barroco, proposta acolhida pela Diocese de Tianguá.
Os danos à pintura, ainda de acordo com o padre, podem ter sido provocados em decorrência do tempo e da pouca manutenção.
A pintura “A oração de Jesus Cristo do Horto” foi desenhada em 1959 e doada pelo artista plástico Antônio Ribeiro Neto. Imagem feita a óleo era uma representação da cena bíblica de Jesus no Monte das Oliveiras.
Essa mudança gerou repercussão negativa entre os fiéis da região. Considerada um patrimônio afetivo para a população, eles relatam que a pintura tinha um significado importante.
“Essa imagem tinha uma simbologia muito forte, pois muitos ubajarenses que nasceram aqui, se batizaram e se casaram aqui, vinham às missas e tinham essa imagem como reflexo de toda uma história”, pontua a empreendedora digital e moradora da região, Monique Gomes.
De acordo com Monique, a retirada da pintura do altar-mor da igreja aconteceu de forma repentina, sem aviso prévio à população ou qualquer consulta sobre o assunto.
“Isso aconteceu sem consentimento de ninguém, do nada, o padre resolveu fazer a reforma e pintar justamente a obra que mais marcava a infância e a idade adulta de muita gente. Ele mexeu com a memória de todos”, diz ela.
Pintura "A oração de Jesus Cristo do Horto", desenhada em 1959 Crédito: Arquivo Pessoal |
"Não houve interesse algum de machucar ou ferir ninguém", diz padre
Conforme a nota enviada ao O POVO pelo padre Carlos Alberto Pereira Magalhães, "não houve interesse algum de machucar ou ferir ninguém".
"É salutar ver o zelo de vocês pela Igreja Matriz, e eu desde que aqui cheguei não tenho medido esforços a fim de fazer reluzir ainda mais a beleza da Casa do Senhor. E muito mais faremos a fim de que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo cresça e se fortaleça nas terras Ubajarenses", diz o sacerdote.
Para os familiares do pintor Antônio Ribeiro, que morreu em 2020, a retirada da obra sacra doada à igreja foi um desrespeito ao legado histórico que a pintura refletia.
“Infelizmente, é uma surpresa para toda a comunidade católica, estamos incrédulos com tamanho desrespeito à arte, à cultura, à população e à nossa família”, afirma a analista de gestão pública e filha do pintor, Virginia Maria.
(O Povo)