Herdeiros políticos: filhos de ex-prefeitos marcam disputa eleitoral em Iguatu

 RESPECTIVAMENTE, Marcos Sobreira (PDT), Ilo Neto (PT), Roberto Costa Filho (PSDB)

 

 

Das quatro pré-candidaturas lançadas oficialmente para a disputa pela Prefeitura de Iguatu, três têm atuação de filhos de ex-gestores do município distante 361,4 km de Fortaleza. Desses, dois são postulantes diretos ao Executivo Municipal - Ilo Neto (PT) e Roberto Filho (PSDB) -, enquanto o deputado estadual Marcos Sobreira (PDT) trabalha na articulação da campanha do empresário Sá Vilarouca (PSB).

Ilo é filho do ex-prefeito e deputado estadual Agenor Neto (MDB). Roberto é filho do ex-prefeito Roberto Costa. Marcos Sobreira tem como pai o ex-deputado Marcelo Sobreira, também ex-gestor.

A linhagem política dos três, no entanto, não se concentra apenas nos genitores. Os representantes ou ex-representantes no poder público incluem mãe, tios, avós, bisavós e até parentes mais distantes que, além de gestores executivos, atuaram como representantes no parlamento municipal e estadual, vice-prefeituras, dentre outras funções.

Ao longo dos anos, esses grupos familiares chegaram a manter alianças uns com os outros. Marcelo Sobreira, por exemplo, foi vice de Roberto Costa. Hoje, os dois filhos são, até o momento, opositores.

Assim, a política de Iguatu ganha uma configuração centralizada e quase hereditária, em uma árvore genealógica de gerações e gerações de gestores públicos, que segue em expansão.

Confira abaixo o parentesco político de cada um dos filhos de ex-prefeitos, elencados pela cronologia do mandato dos pais

Roberto Filho (PSDB)

O pai de Roberto Costa Filho é o homônimo Roberto Costa, herdeiro do chamado “rei do algodão”, Manoel Matias Costa, pioneiro na plantação do “ouro branco” em Iguatu.

Roberto (pai) começou a vida política como vereador em 1972 e, em seguida, foi vice-prefeito de Elmo Moreno (1977-1982), em um mandato de seis anos, prorrogado pelo Congresso Nacional durante a Ditadura Militar, devido à recente reforma partidária.

Com o fim da gestão, foi candidato à sucessão de Elmo, mas não foi eleito, perdendo para Elpídio Cavalcante (1982-1988). Em 1990, foi eleito deputado estadual, mas renunciou para concorrer às eleições municipais de 1992.

Assumiu o município nessa ocasião. Menos de dois anos depois, no entanto, em novembro de 1994, o então prefeito faleceu em um acidente de carro. Em seu lugar, assumiu o vice, Marcelo Sobreira, que posteriormente também construiria sua própria linhagem política em Iguatu.

O irmão de Roberto Costa, Edilmo, foi deputado estadual e também foi eleito prefeito, governando Iguatu de 2001 a 2004. Chegou a tentar reeleição, mas perdeu para Agenor Neto (2005-2012).

Atual postulante à Prefeitura, Roberto Filho é advogado e ex-vice-presidente do Grupo Edson Queiroz. Filiou-se ao PSDB após pedido de Élcio Batista, presidente estadual da sigla e vice-prefeito de Fortaleza. É apoiado ainda por lideranças do PDT, como Ciro Gomes e o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, apesar do nome iguatuense da sigla, Marcos Sobreira, apoiar outra pré-candidatura.

Marcos Sobreira (PDT)

Marcos Sobreira é deputado estadual e, apesar de inicialmente cotado à corrida pela Prefeitura de Iguatu, decidiu por não se lançar diretamente como pré-candidato, apoiando Sá Vilarouca (PSB), com aval do senador Cid Gomes (PSB).

O pai de Marcos é Marcelo Sobreira, que assumiu a Prefeitura com a morte de Roberto Costa, em 1994. Antes, ele havia exercido mandato de vereador em 1988. Com o fim da gestão do executivo municipal, Marcelo foi eleito deputado estadual em 1998.

A esposa, Mirian Sobreira, concorreu à Prefeitura em 2008, perdendo para Agenor Neto. Em 2012, concorreu mais uma vez, ficando em segundo lugar, em um pleito vencido por Aderilo Antunes. Enquanto isso, ela exerceu o cargo de deputada estadual em 2010, sendo reeleita em 2014.

O grupo apoiou, em 2016, o então ex-adversário, Ednaldo Lavor, vice-prefeito na chapa de Aderilo. Ednaldo foi eleito e reeleito em Iguatu (2016-atualmente).

A participação de Marcos Sobreira começa neste ponto. Ele era o vice-prefeito no primeiro mandato de Ednaldo. Em 2018 deixou o posto, rompido com o prefeito, para assumir como deputado estadual, cargo que exerce até hoje.

Marcos é filiado ao PDT, mas do grupo de apoiadores de Cid, que almejam sair do partido em direção ao PSB. Na campanha de Sá Vilarouca, ele trabalha como articulador e alegou estar conversando com partidos e outros nomes para a composição que seja alternativa tanto ao prefeito Ednaldo Lavor (PSD) como ao grupo ligado a Agenor Neto.

Ilo Neto (PT)

A ascendência política de Ilo Neto é extensa e data de gerações e gerações de representantes no poder público. O bisavô, Agenor Gomes de Araújo, médico, foi eleito prefeito de Iguatu em 1950. O filho dele, José Ilo - avô do atual postulante -, foi o primeiro prefeito de Quixelô, quando o então distrito se emancipou de Iguatu. Exerceu o executivo em três mandatos: 1989-1992 e 1997-2004.

José Ilo casou-se com Gláucia Mendonça que, por sua vez, também vem de uma linhagem de parentes políticos. Dentre eles, o ex-prefeito de Iguatu, José Mendonça Neto, eleito em 1947 e em 1954.

O filho do casal, o atual deputado Agenor Neto, lançou pela primeira vez a candidatura a prefeito no pleito de 1992, vencido por Roberto Costa. Tentou novamente em 2000 e, em 2002, foi eleito deputado estadual pelo Ceará. Deixou o cargo em 2004, quando foi eleito prefeito de Iguatu. Comandou a cidade por dois mandatos consecutivos, saindo em 2012. Desde 2014, exerce mandato na Assembleia Legislativa do Ceará.

Em 2020, Agenor tentou um novo mandato na Prefeitura de Iguatu, mas foi derrotado por Ednaldo Lavor.

Já Ilo teve seu nome lançado pelo PT neste ano, após um impasse com a pré-candidatura apoiada pelo diretório municipal do partido na cidade, a do empresário Sá Vilarouca. A filiação de Ilo, inclusive, era rejeitada pelo PT de Iguatu, por ele ser considerado “historicamente”, um opositor do partido na cidade. Após 40 anos de história no PT, Sá rompeu e hoje é filiado ao PSB, no grupo apoiado por Marcos Sobreira.

Demais pré-candidaturas lançadas

Sá Vilarouca (PSB)

Lançou inicialmente pré-candidatura pelo PT, partido o qual ajudou a fundar em Iguatu. Nome contava com apoio da deputada federal e então pré-candidata em Fortaleza, Luizianne Lins (PT). Porém, após o apoio da sigla a Ilo Neto, Sá se desfiliou e integra hoje o PSB, antiga sigla de Ilo. É apoiado por Marcos Sobreira.

Ronald Bezerra (União Brasil)

Atual presidente da Câmara Municipal, exerceu a função de chefe do Executivo em Iguatu após o prefeito Ednaldo Lavor e o vice Franklin Bezerra (PSDB) terem sido cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE). Teriam sido cometidas práticas de abuso de poder político, envolvendo uso irregular dos canais institucionais para promoção da candidatura de Lavor. Filiou-se ao União Brasil no começo de abril, lançando sua pré-candidatura ao executivo municipal. Dentre as figuras que prestigiaram a solenidade estava justamente o até agora adversário, Sá Vilarouca (PSB).

Material feito com base em dados oficiais do TRE-CE, além das pesquisas do historiador e jornalista iguatuense Honório Barbosa

 

 

 

(O Povo)

 

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