Em 8 de janeiro de 2023, a Praça dos Três Poderes foi palco de um atentado à democracia. Quase dois anos depois, em 13 de novembro de 2024, o local que abriga as sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário foi, novamente, alvo de um ataque, desta vez terrorista.
Na quarta-feira (13/11), um homem e um carro explodiram, propositalmente, por volta das 19h30, nas proximidades do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) e no estacionamento Anexo IV da Câmara dos Deputados.
Segundo o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, o autor das explosões tinha intenção de “matar ministros da Suprema Corte”. O principal alvo dele seria o ministro Alexandre de Moraes. A ação acendeu um sinal de alerta nas autoridades. Horas após o ocorrido, diversos nomes dos Três Poderes se manifestaram sobre o atentado.
Moraes afirmou que a ação “não foi um ato isolado”, pois “faz parte de um contexto que se mistura lá atrás com o gabinete do ódio”. Segundo o magistrado, esse é o maior atentado da história da Suprema Corte desde o 8 de Janeiro.
“A PF já está em vias de conclusão dos inquéritos dos autores intelectuais [do 8/1]. Mas isso não terminou, e ontem é uma demonstração de que só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos”, disse Moraes, completando que “o criminoso anistiado é um criminoso impune”.
Além de Moraes, outros ministros do Supremo reagiram ao ataque. Luís Roberto Barroso, em tom de pesar, lamento e reflexão, ressaltou que o ocorrido é gravíssimo e se soma a uma série de fatos que ocorreram no país nos últimos anos. Gilmar Mendes, por sua vez, destacou que “o discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados pelo governo anterior”, enfatizando que o ato não é isolado.
André Mendonça também lamentou o ocorrido e afirmou a necessidade de resgatar um ambiente de solidariedade e de paz social a partir de uma democracia construída com responsabilidade e na qual prevaleça o debate de ideias, “e nada além disso”. Já Flávio Dino expôs que há uma banalização da ideia de que o Supremo será intimidado por gritos, xingamentos e ofensas, o que, a seu ver, além de ser inútil, incentiva pessoas desatinadas a se reunir, muitas vezes por meio da internet, para cometer crimes.
Repercussão no Congresso
Nesta quinta-feira (14/11), após o atentado, forças de segurança fizeram uma varredura no Congresso Nacional. No Senado Federal, o expediente foi suspenso. Já na Câmara dos Deputados as atividades só foram iniciadas ao meio-dia.
O presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), manifestou-se sobre os ataques na Praça dos Três Poderes. O congressista agradeceu, em nota, às forças de segurança durante o episódio.
“Externo meus cumprimentos às forças de segurança pública que atuam em resposta à ocorrência de explosões de bombas, na noite de ontem (13/11), na Praça dos Três Poderes”, disse Pacheco em nota. O senador declarou ser necessário seguir repudiando e desestimulando “atos de violência e discursos de ódio”.
“O triste episódio que chocou a todos nós e, lamentavelmente, resultou na morte de uma pessoa, demonstra o quanto devemos repudiar e desestimular atos de violência e discursos de ódio em nosso país”, completou o senador.
O deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, não estava em Brasília no momento das explosões, conforme adiantou o colunista do Metrópoles Igor Gadelha. Na hora do incidente, Lira estava em um voo para São Paulo. Após ser comunicado sobre o atentado, o deputado emitiu uma nota dizendo que o episódio deve ser apurado “com a urgência necessária para o esclarecimento de todas as suas causas e circunstâncias”.
O presidente da Câmara ainda demonstrou “total repúdio a qualquer ato de violência” e exigiu a implementação de medidas para restabelecer a segurança e a funcionalidade das instalações.
Planalto também se manifesta
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou a ação do homem-bomba na Praça dos Três Poderes como “lamentável” e falou em reforçar a “cláusula democrática” de tratados do Mercosul.
“Estes lamentáveis episódios nos fazem pensar que, mais do que nunca, é preciso reforçar a cláusula democrática que está inscrita em nossos tratados fundantes. Os tratados que dão a base a esta associação importantíssima que é o Mercosul”, disse o ministro.
“Quero reforçar essa cláusula democrática mediante instrumentos legais e ações coordenadas que lhe deem efetividade e que impeçam retrocessos institucionais”, reforçou.
Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o STF foi alvo, “mais uma vez”, de “uma cultura que estimula o ódio”.
“Não tem como você ver essa situação sem relembrar o que foram os atos criminosos preparatórios para o 8 de Janeiro e o próprio 8 de Janeiro em si. Mais uma vez, o STF é alvo de uma cultura que estimula o ódio e que, infelizmente, leva pessoas a cometer crimes como esse”, afirmou Padilha.
(Metrópoles)