Universitária perde braço em acidente e tenta comprar prótese: 'Minha independência de volta'

Ana Valéria passou por duas cirurgias após o acidente de carro — Foto: Arquivo pessoal
Ana Valéria passou por duas cirurgias após o acidente de carro — Foto: Arquivo pessoal
 

 

 A estudante universitária Ana Valéria, natural de Itapipoca, sofreu um acidente de carro no dia 6 de novembro, quando voltava da aula na Universidade Federal do Ceará, em Sobral. O veículo caiu em uma vala ao lado da pista, e Ana passou cerca de duas horas presa às ferragens antes de ser encontrada. Devido ao acidente, ela teve o braço esquerdo amputado acima do cotovelo, e agora familiares e amigos se juntaram para tentar comprar uma prótese funcional.

"Não procuro beleza, eu procuro a funcionalidade para tentar voltar para os meus dias normais, que é tudo que eu mais quero. Eu ter a minha independência de volta", disse Ana Valéria ao g1. "Estou tentando voltar às coisas básicas mesmo, que é escovar um dente, é tomar um banho, fazer necessidades fisiológicas sozinha."

Após o acidente, ela foi submetida a duas cirurgias, uma para amputação do braço esquerdo e outra para colocar uma placa de titânio no braço direito, que ficou fraturado em três partes. Foram três dias na UTI, e 14 dias hospitalizada ao todo. O veículo teve perda total.

A empresária voltou para casa recentemente, onde vive com o marido e duas filhas. Hoje, ela compartilha os momentos do tratamento que vem passando nos últimos dias nas redes sociais.

Tão logo retornou à Itapipoca, ela começou a fazer fisioterapia para recuperar o movimento do braço direito. Agora, Valéria sonha em conseguir uma prótese biônica, um dispositivo mecânico que replica as funcionalidades do membro amputado, como o movimento dos dedos.

Ana Valéria passou dias internada após precisar amputar o braço por causa de uma acidente — Foto: Arquivo pessoal
Ana Valéria passou dias internada após precisar amputar o braço por causa de uma acidente — Foto: Arquivo pessoal

 

 Os amigos se mobilizaram para arrecadar dinheiro para ajudar a pagar, pelos menos, os custos iniciais desse braço biônico. Eles têm uma meta de R$ 100 mil, que, apesar do valor alto, não chega a pagar a totalidade da prótese mecânica. É que o braço mecânico, combinado aos custos médico de transplante, pode ultrapassar meio milhão de reais.

"A gente colocou esse valor estipulado de 100 mil reais, mas aí a gente começou a pesquisar os valores da prótese e ela, pelo menos onde eu encontrei, que é uma prótese biônica, ela é R$ 520 mil, totalmente fora do nosso orçamento", afirma. "A gente está procurando outras maneiras, outros meios, porque é muito fora da minha realidade, creio eu, e de muitas pessoas. Ninguém estava preparado para isso", desabafa.

O acidente e o socorro

Ana Valéria, de 29 anos, é estudante do sexto semestre de Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral, a cerca de 100 quilômetros da cidade onde mora com a família, Itapipoca. Ela é casada, tem duas filhas e é proprietária de uma loja online de produtos fitness.

Para comparecer às aulas na universidade, ela ia e voltava no mesmo dia, de carro, saindo de casa pela manhã e retornando ao fim da tarde. Em 6 de novembro, ela saiu da universidade por volta de 17h e pegou a estrada de volta para casa. A rota que ela utiliza cruza o município de Miraíma, entre Sobral e Itapipoca. Foi no distrito miraimense de Brotas que aconteceu o acidente.

Conforme Valéria, a pista do local está passando por obras de requalificação já há algum tempo, e embora já tenham passado asfalto na estrada, o local segue sem sinalização, com entulhos nas laterais e desníveis na pista.

Em determinado trecho, a estrada estava repleta de brita, ainda devido às obras, e o carro derrapou ao fazer uma curva. Ela tentou controlar o veículo, mas ele acabou caindo na lateral da pista, em um barranco formado pela retirada de material para as obras de recuperação do asfalto. O automóvel ficou destruído, e Ana Valéria, presa às ferragens.

Carro de Ana Valéria teve perda total após o acidente — Foto: Arquivo pessoal
Carro de Ana Valéria teve perda total após o acidente — Foto: Arquivo pessoal


"Eu fiquei trancada no carro, comecei a ficar com muito calor, aí eu me acalmei, não gritei, por conta que eu estava com medo de ficar sem oxigênio para respirar, né, porque eu estava realmente ficando com muito calor, o carro desligou total, os painéis, tudo, e não dava a partida o carro nada, nem ar-condicionado, nem iluminação, nada", relembra. " E aí, toda vida que eu via alguém passando, eu gritava, para ver se eu chamava atenção."

A esta altura, ela sabia que o braço estava preso à porta, mas não sabia a extensão do dano. Após cerca de duas horas, um casal que passava em motocicleta ouviu os pedidos de socorro e parou para ajudar.

"Ele desceu o barranco, a mulher dele ficou na pista, querendo chamar ajuda, mais ajuda, e ele me achou, ele me abriu a porta de trás do carro, e pediu o meu nome, eu estava lúcida, sempre lúcida, eu não desmaiei em nenhum momento, aí ele pediu o número do meu esposo, e pediu para ele levar o bombeiro e o Samu", conta.

Após a chegada dos bombeiros, ainda levou cerca de uma hora para Ana ser retirada do carro. De lá, ela foi levada de ambulância para um hospital em Itapipoca, de onde foi transferida para o hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza. Ela chegou na madrugada, e quase imediatamente foi levada à mesa cirúrgica.

A equipe médica avisou que o braço esquerdo de Valéria, que é seu braço dominante, tinha sido esmagado, e seria necessário amputá-lo. Após a remoção do braço esquerdo, ela foi transferida para um hospital particular, onde ficou na UTI, e lá realizou uma segunda cirurgia um dia depois, desta vez para recuperação do braço direito.

O sonho da prótese

Após o acidente, Ana Valéria passou 14 dias hospitalizada. Neste período, os médicos que a acompanharam passaram a falar sobre as possibilidades para o seu futuro e a vida a partir de agora. Do braço direito, a expectativa é que, com o tempo e fisioterapia, ela recupere entre 80% a 90% das funções.

Já para o braço esquerdo, amputado acima do cotovelo, uma das possibilidades levantadas foi o uso de prótese, uma estética ou funcional. A estética imita o membro perdido, mas não possui movimento; já a funcional tem como objetivo restaurar alguns movimentos.

Caso ela consiga chegar a R$ 100 mil, a ideia de Valéria é usar o dinheiro para começar a pagar o braço biônico, que pode ultrapassar R$ 500 mil. Ele é mais caro que a chamada prótese estética - que é visualmente semelhante a um braço, mas não tem funcionalidade nem movimentos.

Para Valéria, a possibilidade do braço biônico é uma chance de voltar a uma vida parecida com a que levava antes do acidente.

"Eu sou uma pessoa muito ativa. Eu tenho duas filhas, eu estudo em outra cidade, eu faço uma faculdade que não é fácil, tem que estudar bastante. Eu tenho loja, eu tenho esposo, eu malhava, eu fazia mil e um exercícios, corria, andava de bicicleta, gosto de correr [...]. Então, assim, eu era uma pessoa muito funcional. A prótese estética, para mim, ela não é nada, para mim, ela não tem valia."

Enquanto mobiliza amigos e familiares na divulgação do financiamento online, ela tem procurado clínicas em estados como Minas Gerais e São Paulo que trabalham justamente com a implantação de próteses biônicas, para analisar alternativas aos valores altos do procedimento.

Menos de um mês após o acidente e já em fisioterapia e pensando no futuro, Valéria garante que não pensa em se deixar abater pelo que aconteceu.

"Eu tenho uma cabeça muito boa, eu tenho uma vontade muito grande de me recuperar rápido, não quero ser conhecida como coitadinha, não quero ficar nesse papel. Eu sou uma pessoa que eu sempre gostei de estar em movimento, eu sempre fui uma pessoa positiva, não penso no lado negativo de absolutamente nada, então eu sempre tentei fazer as coisas darem certo, e não vai ser diferente dessa vez, eu vou fazer dar certo", garante.

 

 

(g1)