Após mais de um século sem registros da espécie na região do Planalto da Ibiapaba, entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), 18 exemplares do ameaçado periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) foram reintroduzidos na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), no Ceará, na madrugada desta quinta-feira (12).
De acordo com Fábio Nunes, biólogo da Aquasis, o retorno da espécie ao seu habitat natural é considerado um marco histórico e ecológico, e simboliza uma reparação ambiental e uma vitória para a conservação da biodiversidade brasileira.
“A reintrodução do periquito-cara-suja pode gerar diversos impactos
positivos, como incentivar a conservação no entorno da reserva, fomentar
o turismo ecológico e abrir caminho para a reintrodução de outras
espécies no futuro”.
A Reserva Natural Serra das Almas já se tornou um refúgio para espécies
que retornaram naturalmente, como a paca, o tatu-bola e o
guariba-da-caatinga. No entanto, espécies localmente extintas pela ação
humana, como o cara-suja, as emas e as araras, necessitam de
intervenções diretas para que possam voltar ao seu habitat.
A iniciativa faz parte do projeto Refaunar Arvorar, desenvolvido pelo Parque Arvorar, do Beach Park, em parceria com as ONGs Associação Caatinga e Aquasis, que já reintroduziu outras aves, como a jandaia-verdadeira (Aratinga jandaya). A ação também integra o Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga, liderado pelo Ministério do Meio Ambiente, que busca proteger espécies nativas em risco.
Critérios de seleção e preparo para a reintrodução
Antes da reintrodução, os 18 periquitos passaram por avaliações conduzidas por biólogos, veterinários e zootecnistas para garantir sua saúde e adaptação ao ambiente.
Os indivíduos foram selecionados com base em critérios utilizados na soltura realizada na Serra da Aratanha, em 2022, o que inclui:
Pertencerem a grupos familiares de vida livre, garantindo coesão social e melhor adaptação ao ambiente;
Estarem habituados ao uso de caixas-ninho para dormir, facilitando o manejo;
Já terem sido previamente treinados para utilizar comedouros, o que contribui para o processo de aclimatação e soltura gradual.
“Esses processos são essenciais para garantir a sobrevivência dos
animais no habitat natural e minimizar riscos, como predadores e
doenças”, explica.
As aves passaram cinco meses em recintos de aclimatação dentro da reserva, um período essencial para que se familiarizassem com o ambiente, criassem identificação com o local e fortalecessem os laços do grupo familiar. Esse preparo aumenta as chances de permanência na área e a sobrevivência após a soltura.
“Esse tempo é crucial para o primeiro grupo, pois ajuda a consolidar a
área como habitat. Para futuras solturas, o tempo de aclimatação será
reduzido, já que os próximos bandos terão a referência do grupo
pioneiro”, reforça Fábio.
Outros três periquitos, apreendidos pelo IBAMA e acolhidos no Parque
Arvorar, serão translocados para a reserva, onde passarão por um período
de aclimatação antes de serem soltos definitivamente.
Serra das Almas: refúgio para a biodiversidade
Os periquitos-cara-suja foram soltos na Reserva Natural Serra das Almas
(RNSA), uma das áreas de maior relevância para a conservação ambiental
no Ceará.
A reserva, localizada entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), possui 6.285 hectares de vegetação preservada e é reconhecida pela UNESCO como o primeiro Posto Avançado da Biosfera no estado.
Além de abrigar espécies ameaçadas de extinção, como o próprio periquito-cara-suja, a Serra das Almas desempenha um papel crucial na manutenção de serviços ecossistêmicos, como a proteção de nascentes e a preservação do bioma caatinga.
Arvorar: ciência e educação para a conservação
O parque temático Arvorar, inaugurado no último dia 6, tem como
principal foco a educação e a conservação ambiental. Além de abrigar
projetos como o Refaunar Arvorar, o espaço promove atividades voltadas
para o engajamento comunitário e a conscientização sobre a importância
da fauna e flora locais.
Com a soltura dos periquitos-cara-suja, o projeto reforça sua missão de resgatar espécies ameaçadas e contribuir para a recuperação do equilíbrio ecológico da caatinga. A iniciativa promete inspirar novas ações de conservação no Brasil e no mundo.
(g1)