Cidades no Ceará podem perder rateio de mais de R$ 1 bilhão por pendências no rastreamento de emendas Pix; veja lista


 



Sem plano de trabalho para a execução de quase R$ 9 milhões oriundos das chamadas “emendas Pix” de 2024, nove municípios cearenses podem deixar de receber novos recursos em 2025. Em consulta à plataforma Transferegov.br, em 24 de fevereiro, as cidades de Baixio, Morada Nova, Araripe, Santa Quitéria, Milagres, Aracoiaba, Penaforte, Maracanaú e Palmácia apresentavam essa pendência. 

Para 2025, é previsto o envio de mais de R$ 1 bilhão em emendas individuais e de bancada a municípios cearenses ou a programas executados pelas prefeituras. Se não entregaram os planos de trabalho dentro do novo prazo estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), essas cidades podem ficar sem receber parte desses recursos e até serem responsabilizadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por omissão.

No último dia 18, a Corte determinou que esses entes virem alvo de auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), a fim de acompanhar a aplicação dos recursos liberados em 2024. 

Conforme dados do Tribunal de Contas da União (TCU), em 2024, foram empenhados R$ 469 milhões em 664 emendas sem rastreamento em todo o País. Ou seja, os recursos foram liberados sem a existência de planos de trabalho, que deviam ser entregues até 31 de dezembro. 

Nesses casos, os entes tiveram um novo prazo de 60 dias – contados desde o início de dezembro – para sanar as pendências. Caso não seja apresentado o plano, o pagamento deverá ser suspenso, como apontou o STF.

O plano de trabalho traz o detalhamento do gasto, sua justificativa, os cronogramas físico e financeiro, entre outras informações importantes para o acompanhamento da despesa pelos órgãos de fiscalização.

Antes da ofensiva do STF sobre as emendas parlamentares, que originou um novo regramento sobre a sua indicação e pagamento, esses documentos poderiam ser apresentados após o recebimento do dinheiro pelos entes. A execução das cifras em questão aconteceu sob a norma anterior. 

Agora, a elaboração do plano é condição prévia para a utilização dos recursos. Sendo assim, a pendência pode impedir que estados e municípios recebam recursos já do exercício de 2025, de acordo com decisão proferida em 3 de dezembro do ano passado pelo Supremo, como já mencionado acima.

Naquela data, a Corte liberou o pagamento de emendas RP8 (comissão), RP9 (relator) e Pix – embargados no início do semestre –, condicionado ao cumprimento das exigências constitucionais de transparência, rastreabilidade e controle público

Na decisão, foi definida uma série de critérios, como a indicação do autor e do beneficiário final dos recursos no Portal da Transparência, além da separação entre o relator do orçamento e o autor das emendas. Determinou também que o Executivo verifique, caso a caso, a transparência antes de transferir os recursos. 

Esses são alguns dos desdobramentos do processo que questiona a transparência da aplicação do dinheiro indicado por deputados federais e senadores às suas bases eleitorais.

Emendas de 2025

Ainda que a votação do Orçamento de 2025 no Congresso Nacional esteja pendente, já é possível projetar as cifras indicadas em forma de emendas parlamentares impositivas por deputados e senadores. Somente as prefeituras cearenses devem embolsar mais de R$ 1 bilhão em recursos, conforme informações contidas nos relatórios setoriais de despesas e receitas do Governo Federal. 

A expectativa é que o relatório final do Orçamento de 2025 seja votado na Comissão Mista de Orçamento (CMO) no dia 11 de março. Depois, encaminhado à Mesa do Congresso Nacional para votação em sessão conjunta.

Assim, a União pode abrir calendário para a transferência desses recursos, já sob novas regras.

Anos anteriores

O relator do processo no STF, ministro Flávio Dino, ainda intimou o TCU a levantar dados sobre a divulgação dos planos de trabalho referentes a emendas dos anos de 2020 a 2023. 

A CGU também terá 60 dias para verificar se os planos que foram entregues e constam como “aprovados” na plataforma estão sendo executados de forma adequada. São 126 planos nesta modalidade em todo o País, referentes aos anos de 2020 a 2024, segundo o STF. 

No Ceará, dois são classificados dessa forma (Amontada e Salitre), totalizando R$ 2,3 milhões em repasses, conforme mostra a plataforma Transferegov.br. 

Segundo nota técnica do TCU, nos últimos seis anos, quase 86% das emendas parlamentares pagas foram executadas por meio de transferências especiais, enquanto 14% ocorreram por aplicação direta. 

Entre as transferências, apenas cerca de 19% permitem rastrear o percurso do recurso desde o autor da emenda até o beneficiário final (fornecedor de bens e serviços), utilizando extratos bancários. Isso ocorre porque 69% das transferências foram feitas na modalidade Fundo a Fundo, que utiliza contas genéricas e inviabiliza a rastreabilidade até o beneficiário final por meio de extratos bancários.

Resposta dos prefeitos

Todas as nove prefeituras foram contatadas pelo PontoPoder, para entender por que não houve a entrega dos referidos planos de trabalho no prazo anterior e se o município tem adotado medidas para contornar o problema e poder receber novos recursos.

Até o fechamento deste material, somente os prefeitos de Milagres, Anderson Eugênio (MDB); e de Maracanaú, Roberto Pessoa (União), responderam à reportagem. 

O primeiro, que foi vice-prefeito na gestão passada, informou que não sabia da existência do recurso, que entrou na conta da Prefeitura antes de janeiro de 2025, mas não foi gasto até então. O plano de trabalho foi elaborado, então, já neste mandato. “Foi enviado para análise e está aguardando (procedimentos)”, disse.

Já Roberto Pessoa explicou, por meio de nota, que o valor encontra-se em aplicação financeira vinculada à conta-corrente específica, aberta pelo Governo Federal. 

“Nenhum valor foi aplicado, considerando que o plano de trabalho está em elaboração e, somente após a conclusão do mesmo é que os recursos serão utilizados. A Gestão Municipal é sempre pautada pelos princípios constitucionais e preza pela responsabilidade fiscal na aplicação de qualquer recurso público”, completou.

O espaço está aberto para pronunciamentos por parte das prefeituras de Baixio, Morada Nova, Araripe, Santa Quitéria, Aracoiaba, Penaforte e Palmácia.




(Diário do Nordeste)

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